Enio Ferreira
OUTONO
O outono é uma época
Doce e amarga
Para momentos já
Terminados
E outros para serem
Feitos ou refeitos
Serestas em dia de lua cheia
Benzer de quebranto e
Espinhela caída
Iniciar a reza da novena ao
Santo
Outonear é saber que
O vento é mais que a folha,
Que a natureza é muito mais
Que nós...
Que o outono
É vírgula,
Não o ponto
Final.
Ele acordou com a claridade e o calor do sol que já invadia o quarto. Tentou uma leve carícia nos cabelos dela, mas desistiu para não incomodá-la em seu sono delicado. Levantou-se e foi fechar as janelas que ficaram entreabertas para que deixassem entrar a fresca brisa marinha que os acalentou durante a madrugada. A vista da praia apinhada de banhistas e o mar azul com tantos barcos de velas coloridas faziam a manhã tão bela como jamais estaria, pensou. Cerrou as cortinas e ligou o ar-condicionado, pegou o lençol e tentou protegê-la...
Como num golpe de jiu-jítsu ela o enlaçou com as duas pernas pela cintura e o jogou no meio da cama e por cima dele prendeu-lhe os braços dominando-o. Ele ali, subjugado, ria. Ria entre enternecido e surpreso: Enternecido por que isso é coisa de homem apaixonado e a surpresa foi por ela ter-lhe aplicado um perfeito golpe de jiu-jítsu sem jamais ter aprendido essa técnica. E por que ele ria, ela ria também.
Riam os dois. Um riso único, grande, superlativo, um riso encantado que só é permitido aos apaixonados e a paixão tem a soberania sobre todas as outras coisas. Do riso à excitação é uma tênue ponte que se transpõe com abraços. Ele deixou-se dominar enquanto ela ria, mas quando viu o brilho dos olhos dela aumentarem de intensidade e antes que as lagrimas da felicidade lhe derramasse no rosto, abraçou-a apertando contra si e inverteu a posição e com o mesmo movimento que as ondas do mar fazem nos barquinhos plantou nela uma ansiedade para descobrir o que eram aqueles apitos e os balõezinhos coloridos do outro lado do sonho.
A manhã continuava bela e colorida como sempre estaria...
(ela acordou com a manhã brilhando na claridade que invadia o quarto através das janelas entreabertas e sem cortinas. A agradável brisa fresca do mar ainda mantinha o conforto na cama. Ele dormia aquele sono tranqüilo dos amantes felizes e, ela, com a leveza da pluma, lhe acariciava o peito quando a mão, percorrendo outros caminhos, sobressaltou-a com a rigidez do amor que ele lhe devotava. E isso o fez acordar e abrir os olhos com um sorriso de ternura. Um leve gesto com o braço ele puxou-a para cima de si e no abraço firme comprimiu os seios dela contra seu peito. E ela com a sua astúcia de fêmea e com os movimentos dos caracóis atraiu para dentro de si aquela intensa e rígida energia de amor.
Não foi difícil para ele inverter a posição, rolando para centro da cama e deixando o seu peso surpreendê-la com a incrível leveza dos movimentos de um homem apaixonado...
Uma boa ducha no chuveiro e um lanche breve na pequena mesa da cozinha os deixaram prontos para descerem para a praia. Nem repararam que o relógio na parede marcava 11 horas. Ela vestiu uma camiseta branca por cima do biquíni e ele, também, uma camiseta e o calção; chinelos, óculos escuros, os cigarros, protetor solar e duas revistas de leitura leve (uma Caras e uma Playboy) e estavam prontos. Daquele 5º Andar dava para ver que a praia estava lotada. Na areia acharam fácil seu lugar: uma sombrinha personalizada - Edifício Punta Arenas – apto 501 -, duas cadeiras e a mesinha – gentileza do condomínio.
20 minutos de caminhada à beira das ondas e tinham tomado sol suficiente para voltarem para a sombra e para a primeira cerveja do dia. Gentilmente foi ela quem riscou o palito de fósforo que lhes acendeu os cigarros Free linha azul.
Não que a eles interessava, mas eram 3 horas da tarde quando subiram. O que interessava e isso os dois sabiam é que não existe nada melhor que se amarem debaixo da chuveirada após uma tarde de praia.
Bermudas, camisetas e chinelos foi o traje para o Filé à Parmegiana lá na padaria da Rua Mario Ribeiro esquina da Casimiro de Abreu. Um passeio pelas lojinhas do centro e logo deu hora para assistirem no cinema do shopping o filme “Proposta Indecente”.
Subir para casa, à noite, sem apreciar a beleza da orla da Praia das Pitangueiras seria um pecado capital para um casal de apaixonados. Pecado este que esses dois jamais cometeriam. E foi sem nenhuma pressa que chegaram à ponta.
O chuveiro, a cueca samba-canção, a calcinha branca, a mesa da cozinha, os copos, a cerveja, o Free e o isqueiro. Os olhares, o toque de mãos, o papo, a brisa e a noite que se inicia...
Ele ainda quis carregá-la do quarto para a cozinha e, finalmente, saborearem a salada que ela havia preparado com seu refinado jeitinho, e que agora já estava perdida por muito esperá-los e que teria que ser refeita se quisessem degustá-la no almoço.
Mas, o monte-de-vênus entre as pernas que se acentua protuberante na tépida e suave luz da tarde que se inicia, faz com que a verga se erga fascinada;
A derme que se vangloria de ser pelo prazer de longe e de todos os pontos, a mais cobiçada; a dádiva no entra e sai ao corpo num espaço mínimo e úmido de encantamento escavado. E a intenção que sem trégua pairava...
Um desejar, um querer que não há igual entre tantos outros, entre ritos e fantasia, crescido pelo desejo faiscante, relâmpagos, ferrões de fogo a incendiar, sinal de suor e ardor intenso à pele...
O casal que se entrega sobre o alvíssimo lençol nada sabe do tempo, nada sabe do sol que agora se entorta rapidamente para detrás das montanhas e da sombra que chega silenciosa aos telhados das casas, nem dos pescadores de pele curtida de sol e de sal voltando do alto mar com os barcos reluzentes de peixes... Nada sabem da noite caída.
Ele beirou a cama trazendo a bandeja com o café. As janelas enredavam uma manhã de um azul gritante de belo, vindo de um céu límpido e de um tranquilo mar à beira de praia, as vezes perturbado por um vento leve que só bastava para fazer algumas ondas preguiçosas e balançar os rudes barcos dos pescadores, e ainda oferecer um conforto natural ali no ambiente do quarto. Nem precisou acordá-la, pois ela já fora despertada pelo aroma do café que saturava todo o apartamento.
Ele sempre se encantava e se enternecia pelo despertar da amada, que já no abrir dos olhos despejava um enxame de charme naquele espreguiçar de gata feliz, e, até aí, ele suportava bem, mas, quando ela abriu as pernas para colocar o seu primeiro pé no chão, ele caiu de joelhos e se dobrou sobre aquilo que lhe causava o desejo irresistível e, ela se preparou para receber o beijo, que não foi um, mas foram dois, que foram três, que foram seis, e foram mais, e muito mais.
A bandeja de café, esquecida sobre o criado-mudo. Lá em baixo, na rua, o fuzuê do trânsito, onze horas, hora de pico, os operários em hora de almoço, o cessar das marteladas da construção de um edifício perto dali. O mágico claro do dia a lembrar passos e pernas em meio ao barulho de motores e buzinas. Vozes ofegantes, corpos em brasas, balanço e prazer.