Eloah Westphalen Naschenweng
A arte de que é feita a vida reflete e releva a fragilidade dos sentimentos e a fortaleza que se esconde e oculta às armaduras que protegem o coração.
Abro meus olhos e a felicidade ali permanece como
um mantra pessoal a inundar minha alma e a
enriquecer-se com a delicadeza de um sentimento
pleno.
Sim, eu quero um instante, fazer da vida doces
reencontros carregados de versos iluminados e de
poções mágicas para inundar a lua e guardar dentro
dela toda a eternidade.
Esta é a beleza do recomeço – persistir, permitir e
transformar a vida descorada e fria, de fundo
enevoado, num caminho carregado de desafios para
que possa, novamente, cruzar a soleira do coração.
Longe, muito longe, visito o tempo, agarro o
sonho perdido, a dor das saudades e os aromas
esquecidos e abraço o mundo com as mãos
recheadas de esperanças.
Viver, florir e sangrar, é a vida que nos ceva, fluente e
benfazeja e dá sentido a glória de existir
Não sei se sou eu, ou o próprio dia. Só sei que o
destino vagando, sem aparato, despreocupado
partilha comigo as suas benesses.
Prematuramente, vitoriosa, desfraldo
minha nova bandeira, estimulada pelo que
há de vir, porque lá fora está à espera o
universo – interminável, impassível,
misterioso, maleável e onde os pássaros
sempre voam no horizonte em festa.
Amei esse passo estranho que abraço, na
prece, que envolta comigo permanece.
Calcei meus sapatos, andei com as estrelas,
defendi a imagem sonhada, olvidada e –
vivi.
In”Além dos Fragmentos”
Loucos Sonhadores
Todo instante é a oportunidade.
A vida não é nem um melodrama, nem uma
comédia, mas sim, uma realidade que nos leva a
crises e remissões.
A verdade é tangível, não nos abandona, mas loucos
sonhadores deste mundo, peregrinos que somos,
fechamos os olhos, abrimos passagem e levados pela
vida, extasiados, seguramos nossos sonhos.
Seguimos o curso, em movimento, enquanto o
destino, caprichoso, vai dando sentido as nossas
ilusões.
Deixamos janelas e portas abertas para o improvável,
misturamos beleza, pescamos estrelas, corremos
com as nuvens, plantamos flores na beira do
caminho, bordamos versos, afastamos sombras,
correntes de ar e turbilhões de vento. Fazemos,
então, esta mistura de cores e dores, e colocamos
todo universo em uma palheta.
Em estado de graça vamos partilhando doces
sensações e músicas interiores que assobiam
sinfonias inéditas, para que o tempo nos leve no
rodopio de uma dança inesquecível.
Somos versos, delírio, esperança, suavidade,
nostalgia e sentimentos.
Somos paixão, amor, saudosismo, visão, antídoto,
mistério e palavras.
Somos poetas, carregamos na alma a eterna poesia.
A DANÇA DA VIDA
Deixei para trás o eterno aroma das primaveras
para viver outras estações e aparar o meu sonho.
Deixei os sóis inquietos e a vida que risca, espreme,
modela, retalha e corta sentimentos para observar o
universo inteiro a minha frente.
Guardei a chama da primeira alegria, a audácia do
primeiro beijo, o alvoroço e a pureza das fantasias,
para buscar no claustro das saudades, o silêncio e o
repouso secreto.
Vacilei, muitas vezes, diante das sombras que
toldavam as asas do sonho e faziam desta dança um
efêmero agasalho.
Deixei a estranha rota carregada de amor e de dor e
que de tanto se dar, se perdeu no meio do caminho.
Abracei a vida generosa e, em outro ritmo, outra
harmonia, toquei na essência da alma deixando-me
levar pela bem-aventurança, purificada.
MEU MOMENTO
Tomo o céu de assalto e procuro viver meu momento.
São nuvens que o vento traz como brisas frescas de verão.
Nas dobras do tempo, prendo o vento com gosto de sereno para adoçar este instante perfeito.
Pintam estrelas no horizonte e esta avalanche de brilho e cores anunciam futuras auroras.
A cor, o cheiro, a forma, a languidez, o afeto, a harmonia, a tépida carícia, a brisa que murmura e o espaço estrelado fundem-se e se agarram entre os desejos e esperanças.
Amarro o encanto, mergulho na harmonia e deixo-me embalar por esta emoção poderosa.
Esperança!
Como é suave, livre e régia esta força, esta graça alada que nos enlaça e nos modela.
Escutamos o riso, e a vida, ouvimos.
Desenrolamos as sombras e com elegância, ajustamos os passos - o gesto conduz o movimento.
Soltando nossas fantasias nos deixamos levar por este sentimento livre, que faz desta dança, floreio, encanto e traz para o tempo o ímpeto do poder constante.
(in,Dança da Vida)
Amor
Doce necessidade
Fervor, paixão, destemida.
Profunda enraizada
Indestrutível, insubstituível,
Sem limites.
PALAVRAS
Pego as palavras
E crio asas
Ébria, errante, infante,
Vestindo celestes vestes,
Estranha habitante
Desse universo brilhante
Alço etéreos vôos
Adejo, e eternizo,
Meu canto de amor.
ENTREGA
Hora da Aurora
Alma cheia de lua cheia
Entrego-me a ti
Amor, exílio bendito,
Glorioso destino infinito.
Eloquente alma
De um poeta sonhador
Noctívaga, vais a esmo,
Buscar tua inspiração.
Entre tons e versos
Em apoteose arrastas
Vívidas e enclausuradas lembranças,
E retraças, palmo a palmo,
O vivo sentimento que de tanto encanto, te restou.
DOAÇÃO
Qual tal um fim do dia
Um sol poente
Como perfeita primavera
De luz e de risos
Enfeixadas
Diluídas em festivas cores
Apenas, pequenas açucenas.
E, no gesto,
Aceno sereno pleno
Todo o contido sentimento
E, na alma,
A eterna primavera.
SUTILEZA
Transfigurastes de luz teu sorriso
De ternura e encanto vestistes tua alma
Dividindo na tarde alada e calma
De surpresa, comigo o teu coração.
LÁGRIMAS
De tanto segurar a vida
De tanto enganar o coração
De tanto poupar a dor
Escondida a emoção se retrai.
Proibida
Perdida
Esmaecida
Como um sussurro no ar
Se dilui
Escapa, sai
Se esvai.
MÁGOA
Estendo minhas mãos
Exponho minhas dores
Descubro, desolada, fracionada
Que tudo que a mim importa
Nem sempre, a ti, importa.
Aqui jaz alguém que fez
Dos sonhos um fio de esperança
Dos desafios os caminhos da vida
E do amanhã desconhecido
Etéreo espírito
De luzes, versos e rima
Ancorado no infinito.