Élida Maria Aragão
Às vezes um blues
Noutras um tango argentino
Sigo encantando-me com a disritmia
Dos bailes loucos do destino
Vida bela, enigmática...
Não quero a tua consolação
Quero dar a cara a tapa
Não me atrai o teu perdão
Se sangras-me com o espinho
Presenteio-te com a flor
Se tentas roubar-me o riso
Apresento-te o paraíso
Na estrada incerta da vida
Não sei aonde vou parar
Mas se me reconheceres
Convide-me prá dançar
É noite
Minha alma transcende, mais uma vez
Volto ao princípio do princípio
Onde nunca fui
E sempre estive
Vou ao encontro das marés
Cubro-me com véu de espumas
À luz de um esplendoroso luar
Desnudo-me
Sem pudores
Só magia, amores
Levanto vôo além mar
Deito-me em nuvens distraídas
Passeio majestosa pelos ares
Voar é preciso
Tenho asas
Sou livre
Minhas noites?
Não as passo aqui
Atravesso rios e mares
Pulo montanhas
Elevo-me ao sabor do vento
Chego aos céus
Beijo a lua
Bailo com as estrelas
Faço amor com os astros
Adormeço nos anéis de Saturno
E no primeiro raio de sol
Volto à minha condição de mortal!
Minha alma precisa ser pluma
Respirar leveza
Como uma rosa
A exalar singeleza
Definir o que é leve?
Não tenho tal pretensão
Tampouco explicar o peso
Que joga a alma no chão
Pra quê entender?
Se o importante é sentir
Os pueris sentimentos
Que fazem a vida colorir
Levito, bato asas
Devaneio na contramão
No corpo a tempestade
Na mente o paradoxo
Na alma a mansidão
Ainda que me espreitem
Os loucos olhos das circunstancias
Choro para depois sorrir
E continuo a minha dança
Bailo no ar
De mãos dadas com o vento
Faço do universo meu palco
Meu tablado é o firmamento
Cortinas são ondas do mar
Feitas de encantamento
Não importa se estou só
Ou se alguém segura a minha mão
Se não há verde no outono
Se o sol foge no verão
Se não tem flores na primavera
Apenas folhas no chão
Ainda assim farei poesia
Me entregarei à emoção
Ontem passeavas em meus sonhos
você e a imensidão
um sonho bom, feito de NÃO, SIM e TALVEZ
sem o peso das horas ou os grilhões das mesmices cotidianas
NÃO vi teu rosto, mas sei que eras tu
meu corpo não se colou ao teu, nossos lábios não se beijaram
não construíste para mim castelos, tampouco amor eterno me prometeu
não contaste teus segredos, não ouviste os meus
Mas ouve, SIM, magia
e música, a mais bela de todas
flores perfumavam o ar, estrelas distraídas cintilavam
e à Dali, passaste por mim
Nesse efêmero instante, TALVEZ
nossos versos tenham se tocado
Pois ao acordar eu exalava o cheiro de tua sensibilidade!
Num efêmero instante
Encantei-me por você
Música a nos embalar
Antes de o sol nascer
Como as brumas da madrugada
Misteriosas sobre o mar
Voaste ao sabor da brisa
Deixaste teu cheiro no ar
Sorrisos na chegada
Um olhar na despedida
Mistérios pairando no ar
Nos acasos e devires da vida
De ti que nada sei
Tenho a intensidade que senti
Da tua boca que beijei
A cor dos gemidos que ouvi
Assustar-te eu não quis
Quando falei de saudade
Dou-te o frescor do anis
E as canções de liberdade
Tenho a pureza dos poetas
Teço meus versos ao vento
Se voltares, à alegria brindaremos
Ao partires, fica o encantamento!
A poesia toma conta do meu ser
faz-me transcender
além do bem e do mal
Conhece meus sentidos
ouve meus sons e comigo baila
Toca-me o intocável, prova-me o néctar
e comigo faz amor
faz de mim verbo intransitivo, conjuga-me
A poesia é meu ópio e não deixa morrer em mim
a menina, o mar, a lua
a ar, o fogo, a rua
o encanto, a dança, o beijo
o sol, o som, o desejo