Elena Ferrante
"Era daqueles homens tímidos que não possuem uma medida certa na relação com os outros. Se perdem a calma, perdem-na sem controle; se são gentis, o são até serem melosos como mel.(...) "
Existir é isso, um sobressalto de alegria, uma pontada de dor, um prazer intenso, veias que pulsam sob a pele, não há mais nada de verdadeiro para contar.
Cada coisa do mundo estava em suspenso, puro risco, e quem não aceitava arriscar murchava num canto, sem intimidade com a vida.
A vida era assim e ponto final, crescíamos com a obrigação de torná-la difícil aos outros antes que os outros a tornassem difícil para nós.
O futuro, de certo ponto em diante, é somente a necessidade de viver o passado. Refazer imediatamente os tempos verbais.
Eu não era capaz de me entregar a sentimentos verdadeiros. Não sabia me deixar levar além dos limites.
Eu sempre teria medo: medo de dizer a frase errada, de usar um tom excessivo, de estar vestida inadequadamente, de revelar sentimentos mesquinhos, de não ter pensamentos interessantes.
Compreendi estar condenada a ser quietamente infeliz porque sou incapaz de reações violentas, porque as temo, prefiro ficar imóvel cultivando o rancor.
Não há gestos, palavras, suspiros que não contenham a soma de todos os crimes que os seres humanos cometeram e cometem.