Éle Semog

Encontrados 5 pensamentos de Éle Semog

⁠Dançando Negro

Quando eu danço
atabaques excitados,
o meu corpo se esvaindo
em desejos de espaço,
a minha pele negra
dominando o cosmo,
envolvendo o infinito, o som
criando outros êxtases...
Não sou festa para os teus olhos
de branco diante de um show!
Quando eu danço há infusão dos elementos,
sou razão.
O meu corpo não é objeto,
sou revolução.

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⁠Lugar de viver

A cidade onde vivo
e outras cidades,
são essas tensões
lúdicas e libidinosas
que consigo atinar
quando não atiram em mim.

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⁠Outras Notícias

Não vou às rimas como esses poetas
que salivam por qualquer osso.
Rimar Ipanema com morena
é moleza,
quero ver combinar prosaicamente
flor do campo com Vigário Geral,
ternura com Carandiru,
ou menina carinhosa / trem pra Japeri.
Não sou desses poetas
que se arribam, se arrumam em coquetéis
e se esquecem do seu povo lá fora.

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⁠Se Ela Faz Eu Desfaço

A treze de maio
fica decretado
luto oficial na
comunidade negra.
E serão vistos
com maus olhos
aqueles que comemorarem,
festivamente,
esse treze inútil.
E fica o lembrete:
Liberdade se toma,
não se recebe.
Dignidade se adquire,
não se concede.

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Íntimo Dado (A Senha)

Cada vez que gritam: pobre!
me assusto. Recuo ao canto
mais perto do rés do chão.

Negro, fico sem cor.
Fúria, fico sem fala.

Pois sei que as balas dos patrões,
que as balas dos políticos, da polícia
correm atrás de mim sem-terra,
correm atrás de mim sem-teto,
correm atrás das minhas razões
por esses labirintos finitos
enredados de justiça e democracia,
só para eu sair nos jornais,
morto na foto,
sangue vazando pelos ouvidos.

Toda vez que eles gritam: pobre!
é a tortura, é o estampido, é a vala.
É a nossa dor que tranquiliza os ricos.
Alô rapaziada... tem de antenar o dia:
o vento que venta lá, venta cá.

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