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Élcio José Martins
GLADIADORES URBANOS
É madrugada, hora de acordar,
Ainda tenho sono, tenho que levantar.
Viro para o canto e durmo novamente,
Acordo assustado ao toque do despertador gritante.
Com um pulo saio da cama,
Recordo a noite de um sonho bacana.
A secretária já chegou e a mesa arrumou,
Pão com manteiga, frutas, queijo e o café já preparou.
Ainda de pijama, preparo-me para o banho,
Ligo o chuveiro e logo me assanho.
Escovo os dentes, sorriso brilhante,
Fico bonito, fico meigo, fico galante.
No quarto minha roupa me espera ansiosa,
Camisa branca, calça preta e gravata verde e rosa.
Ouço o samba da mangueira com a rima, verso e prosa,
Com o seu samba na avenida sempre foi a mais formosa.
Como os grandes gladiadores, me preparo para a batalha,
Minha barba, serrada, faço ela com navalha.
É hora de juntar meus pertences e minha tralha,
Vou exercer a cidadania do homem que trabalha.
Sapato, meia, calça, gravata, cinto e paletó,
Tudo isto pra vestir um homem só.
No criado-mudo aguardam os apetrechos,
Pareço um carnavalesco preparando sua fantasia e seus adereços.
Coloco a caneta no bolso,
A correntinha no pescoço.
Relógio no pulso para não esquecer a hora do almoço,
Carteira com documentos para alguém me chamar de moço.
O celular, utilitário que não pode faltar,
A aliança no dedo para lembrar as juras no altar.
Chave do carro e o cartão para estacionar,
Dinheiro no bolso para o almoço pagar.
Fecho a porta, entro no carro e ligo o motor,
Ligo o ar pra diminuir o calor.
Vejo se o documento está no porta-luvas,
Dirijo com cuidado pela avenida sapetubas.
Rezo no carro minha predileta oração,
Agradeço pelo trabalho que traz paz ao coração.
O trabalho é árduo, mas é sempre gratificante,
É uma luta solitária onde sou desafiante.
A tarefa tá apertada cumpra o prazo e não atrasas,
É um voo as cegas de um pombo sem asas.
Sou batalhador e cumpro minha obrigação,
Minha empresa é minha casa e meu sustento, a ela tenho muita gratidão.
Volto pra casa com o dever cumprido,
Fiz meu dever como o sempre prometido.
Desfaço de minha armadura,
Curto a família com afeto e ternura.
Nessa luta sempre fui um vencedor,
Nada fiz por obrigação, tudo aconteceu com muito amor.
Agradeço a Deus pela família e os amigos que me deu,
Agora é hora de dormir porque o sono me venceu.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
A MENTE DA GENTE
A mente que mente não é da gente,
É da gente a mente que não mente.
Mas mente solenemente, a mente,
A mente que é da gente, mente que não mente.
Mente elegantemente,
A mente que não é da gente.
Da gente, e puramente,
A mente engana distraidamente.
Mente sem saber que mente?
Por que mente?
É distração da mente?
Ou mente educadamente?
A mente sente,
Mesmo ausente.
Disfarça constantemente,
Do fogo de aguardente.
Somente e raramente,
A dama contente,
Enche o coração carente,
De amor e de paixão ardente.
No rio caminha a enchente,
No entardecer, o brilho do sol poente.
No seu olhar o amor caliente,
O cio da terra flerta com a semente.
A vida pede somente,
Um doce amor contente.
É nobre e decente,
O desejo adolescente.
A mente esconde o que sente,
Traz enganos inconscientes.
À luz de velas incandescentes,
Reluz o que o homem tem na mente.
Do nascer faz vida um ente,
Se não chorou ficou contente.
Primeira vitória foi valente,
Só não sabe o que vem pra frente.
Cresceu entre curvas e vertentes,
Entre perdas e amores incipientes.
Num mundo de posturas divergentes,
Fez o rio para amar seus afluentes.
A mente traz a semente,
A rosa, o fruto e a água quente.
A vida é um presente,
De Jesus e de Deus onipotente.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
SIMPLESMENTE MULHER
Mãe, tia, avó,
Dama, esposa, bisavó.
Amásia, amante, trisavó,
Filha, neta, bisneta e outra que vier,
Seu nome, simplesmente, MULHER.
Oito de março,
Dia de festa, de beijo e abraço.
Hoje é seu dia, o ontem também foi,
O amanhã também será.
Não há dia, não há data que a ela não caberá.
É origem, é meio, é final,
É tempero, pitadas de sal.
É razão, é paixão e emoção,
Sexto sentido, escuta com o coração.
Destemidas e decididas,
Já foram perseguidas.
Ganharam o primeiro round,
Ninguém a conhece mais do que Drummond.
Abriram novos caminhos,
Eram sucos tornaram vinhos.
Buscaram a maioridade,
Ganharam a igualdade.
As mulheres são cheias de graça,
Tanto na terra quanto no céu.
Salve Maria, Santa e fiel,
Manto sagrado coberta do véu.
Deus iniciou a construção,
Criou primeiro, Eva e Adão.
Deu às mulheres o poder da criação,
Deu ao mundo uma nova geração.
Às fêmeas, Deus fez a diferença,
Crescei e multiplicai essa é a sentença.
És tu o cimento e a cal da esperança,
Da construção do ser e da sua semelhança.
Cada um tem uma especial,
A mãe, a esposa, outras tal.
Quem não ama a mulher,
Não reconhece a mãe sequer.
Mulher, doce encantamento,
Brilho no olhar, contentamento.
Aliança no dedo, comprometimento,
Véu e grinalda o grande acontecimento.
As estradas são longas e estreitas,
Na condução da vida são perfeitas.
Nas curvas da virtude, caminham sem suspeitas,
Perfumadas e sempre belas, escondem as receitas.
Sobre o salto equilibram com elegância,
Na luta nunca fogem da militância.
Cuidam dá casa com grande maestria,
Doam charme, inquietude e simpatia.
Dos filhos cuidam de dia,
À noite fazem do amor, eterna melodia.
No trabalho já buscam ousadia,
Ainda sofrem preconceitos, uma grande covardia.
Virtuosas e vencedoras,
Por Deus são protetoras.
Amam pelo destino de amar,
Estão na terra para o GADU representar.
O mundo gira a seus pés,
Não há desânimo mesmo ao revés.
Não há lar sem seu olhar,
Nem tristeza que a faz parar.
É segura e sonhadora,
Justa, honesta e trabalhadora.
Nas indústrias, nas letras ou nas lavouras,
Veio uma, vieram duas e muitas seguidoras.
Protegem a quem amam,
Suor e lágrimas são fluidos que acalmam.
Não há dor e nem noites sem dormir,
Que a façam desacreditar e desistir.
No céu como na terra,
A luz do sol a lua descerra.
Mãe Maria junto aos anjos descansa,
Esposa Regina a luz, a energia, a paz e a esperança.
Gratidão não é palavrão,
Não é raio e nem trovão.
Obrigado mulheres da minha vida em comunhão,
Fostes vós o sentido, o caminhar e a razão.
Parabéns!...
Élcio José Martins
Élcio José Martins
UMA DOCE LEMBRANÇA
A história que vou contar,
Muitos, também vão se lembrar.
Casinha na roça e laranjas no pomar,
Sombras das mangueiras e noites de luar.
Piso de chão batido ou tijolo mal cozido,
Telhado de estrelas com fissuras de vidro.
São goles e goteiras de saudade,
Portas e janelas de humildade.
Lamparina ou lampião,
Davam luz na escuridão.
Na trempe do fogão cozinhava-se o feijão,
No fumeiro, o toucinho e a linguiça à altura da mão.
Na taipa do fogão aquecia-se do frio,
Causos eram contados, davam medo de arrepio.
Para o fogo não apagar era um grande desafio,
Lenha boa fazia brasa e queimava noite a fio.
A água era da bica,
Era saudável, era rica.
O colchão era de palha,
Não existiam grades e nem muralha.
Biscoito no forno era a sensação,
Dia de pamonha tinha muita emoção.
Porco no chiqueiro ficava bem grandão,
Carne não faltava, tinha em toda refeição.
Carne na lata a gordura conservava,
Quando matava porco era alegria da criançada.
Vitaminas eram naturais e saborosas,
Colhia-se do pomar as frutas mais gostosas.
As conversas eram sempre prazerosas,
Damas habilidosas eram muito prestimosas.
Na redondeza eram famosas,
Envergonhadas, disfarçavam, não davam prosas.
O paiol o milho lotava,
Os bois e os porcos, vovô tratava.
No moinho o milho era moído,
No pilão o fubá era batido.
O cavalo arreado era para a lida e a peleja,
A carroça e o carro de bois carregavam a riqueza.
A colheita era certeza,
Era o fruto do trabalho feito com destreza.
No monjolo a farinha era preparada,
No engenho a garapa era gerada.
Da garapa fazia-se o melado,
A rapadura era a alegria do povoado.
Das galinhas eu me lembro com saudade,
Hora do trato era alegria e felicidade.
O milho espalhado pelo terreiro,
Só faltava abrir o portão do galinheiro.
Lembro-me das modas de viola,
Reunia-se a vizinhança pra fazer a cantarola.
No sábado o bailinho levantava o pó e a poeira,
Era saudável, tinha respeito e não havia bebedeira.
Cobras, sapos e lagartos. Só não tinha iguana.
A palha de arroz servia como cabana.
O prazer era subir nas árvores para apanhar os frutos mais altos,
O guerreiro marchador gostava de dar seus saltos.
Cedo as vacas encostavam. Era hora da ordenha.
Bem cedo descobri o que é uma vaca prenha.
Até hoje ainda ouço o mugir,
É bom e é gostoso a lembrança emergir.
Saudade daquele tempo. Era duro e trabalhoso,
Com certeza não tem ninguém que não se ache orgulhoso.
Não tinha luxo, não tinha vaidade,
A viagem mais longe era compras na cidade.
Pés descalços com espinhos e bichos de pé,
Tinha festa todo ano com barraca de sapé.
Tinham doces, quitandas e salgados. Só não podia faltar o bule de café,
Rezava-se se o terço, pois primeiro vinha à fé.
Da infância levo a saudade,
Levo o amor, o afeto e a amizade.
Faltava o alfabeto, mas muita educação,
É da roça que se ergue o sustento da nação.
Mesmo com dificuldade o pai à escola encaminhou,
Queria ver seus filhos tudo aquilo que sonhou.
Com sacrifício criou os filhos para uma vida melhor,
A estrela foi mostrada por Gaspar, Baltasar e Belchior.
Hoje é só agradecimento,
Nada de tristeza, de lamento ou sentimento.
Cada um é um vencedor, pois mudou o tom da cor,
O sacrifício da família deu aos filhos o caminho e o amor.
As pedras no caminho serviram de degrau,
Os desvios da vida fizeram distanciar do mal.
Os meandros dos sonhos fizeram um novo recital,
Do sertão para a cidade e depois pra capital.
Fez doutores e senhores de respeito,
Deu escola, deu lição, muro de arrimo e parapeito.
Nosso dicionário não existia e palavra desrespeito,
Com orgulho e gratidão encho o riso e choro o peito.
É colheita do que se plantou outrora,
Tudo somou e nada ficou de fora.
O fruto de agora,
É a luta, é o trabalho, é a fé. É a mão de Nossa Senhora.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
ÁGUA DA VIDA
Se a água tem sabor, não sei,
Mas sei que sempre dela beberei.
Vem da fonte ou da torneira,
É companheira da vida inteira.
Cai a chuva cristalina,
Nasce o cio na terra menina.
Semeia-se novamente a semente,
Dá vida a um novo ser vivente.
A sede ela mata,
Alegra a seiva e beija a mata.
O verde da mata virgem,
Mata a fome em sua origem.
A água que dá a vida, que veio do sopro,
É a mesma que banha o corpo.
É a lágrima que lava a alma,
Face molhada que a dor acalma.
A água que lava o copo,
É a mesma que do copo bebe.
Frescor na mina incipiente,
Ternura do amanhecer nascente.
Banha a vida
E acalma a alma.
Rega o solo na caída,
Distraída se transforma.
No rio, corre mansa e faceira,
Cachoeiras de cristais caem livres em ribanceira.
É a vida que se vai algemada na esteira,
Quem pensa diferente tapa o sol com a peneira.
No lençol se faz poupança,
É reserva e esperança.
Dá medo e insegurança,
Quando a natureza faz vingança.
Desprezar a natureza não é uma boa decisão,
Falta d’água na nascente aniquila a população.
Não adianta promessa, reza e pajelança,
Plante flores em seu jardim, aproveite essa bonança.
Élcio José Martins
SAMBA NOVO
O samba novo é o samba que dá samba,
O samba velho já está na corda bamba.
O samba novo é a dança do momento,
O samba velho já perdeu contentamento.
Dança samba rock, samba canção e gafieira,
Samba de roda com batuque na madeira.
Pode ser casada, noiva ou solteira,
Sai da cadeira animando a brincadeira.
No salão ou descendo a ladeira,
Risca o chão e levanta poeira.
Tem a primeira, nunca tem a derradeira,
Dança a baiana, a carioca e a mineira.
É na janela, na caçamba ou na soleira,
No quintal, no curral ou na porteira.
Tem muita dança e pouca bebedeira,
Vence a disputa quem sai na dianteira.
Tira o cansaço no chuveiro ou na banheira,
Espera a cama sua nova companheira.
Amanhã cedo vem a gata borralheira,
É samba novo pra curtir a noite inteira.
Não vejo a hora de chegar a quarta feira,
Pra novamente encontrar a gafieira.
A vida é breve não espera a saideira,
Vou quinta feira e também na sexta feira.
É samba novo na jogada de primeira,
Quem tem ataque sempre sai na dianteira.
A flecha fere se tiver sua ponteira,
A língua julga, dilacera e faz besteira.
O samba flui com o parceiro ou a parceira,
O samba novo é madeira de aroeira.
Confiar no outro a dança saí linda e faceira,
Dançar sozinho é dinamite na pedreira.
Com o samba novo acerto o passo e resolvo.
Disfarço o tempo deixo o clima prazeroso.
Sambo com a noite deixo a lua de repouso,
Na madrugada é que o amor fica gostoso.
O samba é nosso e assanha o estrangeiro,
Vem ao Brasil pra dançar com o brasileiro.
O samba novo é de agrado e hospitaleiro.
No barco do amor ele é o timoneiro.
O samba novo tem melodia de sucesso,
O samba velho já entrou em retrocesso.
Afastem as mesas que o samba pede pressa,
Sambar a vida alinha alma e vira festa.
O samba novo tem início, meio e fim,
Tem adereços, Colombina e arlequim.
É Jerimum, macaxeira e sambacuim,
É português, javanês e mandarim.
O samba novo manda a tristeza passear,
Cheio de marra faz o riso assobiar.
É madrugada chegou a hora de acordar,
Que sonho bom, quero sempre recordar.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
É PRECISO SER PRECISO
Morrer é preciso,
Viver não é preciso.
Sorrir é preciso,
Chorar não é preciso.
A morte é certeira,
No ventre ou mamadeira.
Acidente ou natural,
O aborto vem do Mal.
A vida é passagem,
O tempo é passageiro.
O cosmo uma miragem,
O vento é o mensageiro.
A vida tem seu Juízo,
Na terra e no paraíso.
É preciso ser preciso,
Na escolha do sorriso.
O ético e o colarinho,
Diferenciam-se no ninho.
Um curte a realização,
O outro a corrupção.
O sono ruim traz o bom sonho,
O amor um ar risonho.
A nuvem negra traz a boa chuva,
A mãos ásperas tem a carência da fina luva.
Vens do nada,
E para o nada retornará.
Construa sua morada,
E a vida te amará.
O rio caminha para o mar,
Os noivos para o altar.
O corrupto é levado para a prisão,
O eleitor na sua escuridão caminha, acorrentado, para a votação.
Os poetas cantam em verso,
Voam alto em céu aberto.
Fazem do amor celebração,
Alegram a alma e o coração.
A guerra traz o terror.
O encontro de almas traz o amor.
Deus traz a Paz, por favor!
Faz esse mundo encantador.
Para os Reis concedeu a estrela guia,
Para os sobrinhos esculpiu a doce tia.
Para a música deu a melodia e a harmonia.
Para os magos fez nascer a alquimia.
É preciso viver o amor,
Nesse mundo de rancor.
Sê honesto e trabalhador,
O exemplo o fará merecedor.
És na vida o que escolheu,
Nada do que comprou ou que vendeu.
Seus atos lhes concederam,
Boas sementes que em terras férteis nasceram.
É preciso ser preciso,
No mar em navegação.
Não há ensaio e improviso,
Onde exige precisão.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
CONVERSA DE BAR
Não há coisa melhor que conversa de bar,
São flores no jardim e noivos no altar.
Ali nada há pra lamentar,
Não tem lugar aquele que quiser se gracejar.
Cada um sabe bem o seu lugar,
Papo vai, papo vem, todos querem conversar.
Mas sempre tem aquele pra alugar,
Com o álcool subindo é possível complicar.
Ali é lugar de respeito,
A conversa tem seu leito,
A bebida queima no peito,
Cada discurso, o seu conceito.
De política à religião,
Todos tem sua razão.
Do futebol, a seleção,
Do governo, a corrupção.
Malhação é o copo na mão,
O suor é o líquido da emoção.
Não tem curva, quem dera contramão,
A garrafa é o escudo e o brasão.
Confunde quem só pensa em bebedeira,
Tem a primeira, nunca tem a derradeira.
Tem ideias que só vão de caminhão,
Pra tudo, ali se acha a solução.
São amigos por opção,
Não importa qual a razão,
É um pacto de união,
Do convívio e ocasião.
Tem horário de chegada e de saída,
Ninguém fala da partida.
É rotina repetida,
Reza a lenda distraída.
Tem cerveja, tem cachaça e tem conhaque,
Tem careca, tem bigode e cavanhaque.
Não tem democrata de araque,
O credo é o ritmo do sotaque.
Muitas decisões ali foram tomadas,
Tirou-se o véu e o medo das palmadas,
Do licor precioso as mentes cresceram,
Foram as conversas de bar que projetos floresceram.
O anfitrião atrás do balcão,
Conhece cada um como a palma de sua mão.
Tem com eles sua maior gratidão,
É quase uma família fala alto o coração
Tem conversa séria e também tem emoção,
Tem risos e piadas de montão.
Às vezes sai um largo palavrão,
Sem grito, sem reza e sem sermão.
O hoje termina aqui e agora,
Amanhã é outro dia e outra hora.
Tudo retorna ao ponto zero,
Nova partida e zero a zero.
São amigos novos e veteranos,
Somam dias e somam anos.
Não tem súplicas e nem enganos,
Virtuosos, são decanos.
Conversa de bar é suave e salutar,
Tem beleza e presteza exemplar.
Tem grandeza e brilho no olhar,
É o orgulho de quem tem história pra contar.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
GUARANÉSIA
Essa cidade já foi contada em verso, prosa e canção,
Sua semente já colheu muitos frutos pra nação.
Sempre foi um marco na cultura e educação,
Tem teatro de alto nível e carnaval para o povão.
O rio canoas beijou a sua face,
Pássaro da ilha disse me abrace.
Sua história é rica como ouro,
Seus filhos a beleza do beija-flor-besouro.
Rio canoas já foi capivaras,
Tinham pássaros em revoadas, sabiás, canarinhos e araras.
Animais os mais diversos e espécimes raras,
Todos vivendo livremente, sem gaiolas, sem currais, quem dera haras.
O seu primeiro nome que até hoje ecoa,
Tem referência ao emigrante José Maria Ulhoa.
À margem do Rio canoas seu nome entoas,
Batizado em suas águas como Santa Bárbara das Canoas.
Próximo à sua moradia uma capela construiu,
Por devoção à Santa Bárbara seu nome atribuiu.
Por desígnios da divina providência um fato ocorreu,
Um milagre de Santa Bárbara um homem protegeu.
Na derrubada da mata um grande tronco cairia,
Um pobre homem que ali estava certamente atingiria.
Santa Bárbara protetora esse homem salvaria,
As raízes de uma árvore desse tronco, livraria,
Seus companheiros murmuraram Milagre! Milagre! Milagre!...,
Santa Bárbara o salvou. Isso foi Milagre!...,
Num instante tudo silenciou, e, trêmulos de emoção,
Escolheram Santa Bárbara como a Santa do coração.
José Martins e Manoel Fernandes Varanda, impressionados, resolveram doar,
O terreno à capela para nele um povoado edificar.
Viajantes e mascates eram seus visitantes,
De joias a escravos eram eles comerciantes.
Em 1838, como prêmio, distrito se tornou,
Distrito de Paz de Santa Bárbara das Canoas denominou.
Subordinou-se ao termo de São Carlos de Jacui,
Foi jurisdicionado à comarca de Sapucaí.
Em 16 de setembro de 1901 o município foi criado,
Denominado Guaranésia pra criar o seu legado.
Significa pássaro da ilha um pássaro encantado,
Da tríade de escolha ele foi o selecionado.
Gardênia e Tavarésia foram os outros relacionados,
São nomes especiais que até hoje são lembrados.
Santa Bárbara das Canoas, Gardênia e Tavarésia,
Marcaram a linda história da querida Guaranésia.
Já foi estrada real, já teve trem de ferro e até avião,
Tinha casa bancária, comércio de arroz, milho e feijão.
Chora a velha estação sem locomotiva e sem vagão,
Que embarcou amores e riquezas para toda região.
Cidade de famílias nobres de muita tradição,
Grandes comerciantes desde a sua criação.
Professores renomados percorreram a nação,
Levando conhecimentos na cidade e no sertão.
Tem a cana, o álcool e o algodão,
Café é a maior exploração.
Tem panos de prato, cabines e mangueiras,
Secos e molhados, tijolos e madeiras.
Santa Margarida marca a história da cidade,
Fez parte do progresso desde a sua mocidade.
Foi a mãe da indústria têxtil tecendo a humildade,
Teceu o cidadão, deu guarida, deu o pão e muita dignidade.
As casas bancárias se multiplicaram,
As indústrias se transformaram.
As escolas recebem o reconhecimento,
Pelo alimento do intelecto e a costura do conhecimento.
Aqui se faz justiça, abre caminho,
Nossos velhinhos afeto e carinho,
Os especiais sonhos e esperança,
Nossas crianças cidadania e confiança.
Esta cidade tem portas abertas,
Não tem demandas, exagera nas ofertas.
Recebe seus novos cidadãos com a alma e o coração,
Aqui não tem origem, não tem cor, não tem separação.
Guaranésia tem sua história,
Seu povo boa memória.
Não perde o trem da saudade, pois sabe quem faz a hora,
Já foi mocinha hoje é uma grande e bela senhora.
Viva Guaranésia das manhãs orvalhadas,
De estradas de terra que hoje foram asfaltadas.
Do menino de pé no chão, sem agasalho e sem tostão,
Do cinema, do jardim, e do namoro, pegar na mão.
Do Lions Clube a Fernando Osório,
Da igreja, Monsenhor Grella e o santuário.
Santa Casa a equipe de prontidão,
Dos atletas campeões da famosa geração.
Fica um pouco de saudade,
Mas firme na realidade.
Nossa cidade se tornou,
Tudo aquilo que seu povo um dia semeou.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
O ETERNO QUERER
Queria a juventude, curtir a novidade, jogar basquete, Vôlei ou peteca, ouvir rock, voar de moto, cantar livre, sentir moleque.
Queria a Paz do mundo, planejar o futuro, e conquistar, eu juro.
Andar com passos firmes, mãos dadas e unidas, acalentando almas e florindo corações.
Dizer bem alto que o amor tem sempre razão.
Que é bom o aconchego, a doce maneira de dizer as coisas.
Mesmo que a amizade seja efêmera, pode existir reciprocidade, carinho, compreensão e afeto;
Não vale entristecer e magoar. Não vale os questionamentos.
Vale acreditar que vale a pena caminhar no bem, não esperar retorno, crescer e enriquecer nas relações humanas.
Quero a paz, quero a união, quero o amor.
Quero um mundo melhor, quero as nações unidas, quero o respeito mútuo.
Quero as Guerras apenas nos livros de história e que se percam no tempo.
Quero voar alto e conquistar o mundo. Quero asas pra levar a paz, quero asas pra levar o amor. Quero asas pra ensinar os amigos a voar. Quero asas para o paralítico. Que as cadeiras de rodas sejam apenas peças de museu.
Quero hospitais vazios. Leitos de vida.
Quero flores, quero frutos. Quero cuidar dos jardins.
Querer é poder. Querer é o primeiro passo para a conquista do desejo.
Quero que os sonhos se realizem. Quero o amor dos amantes. Quero governos íntegros e honestos.
Quero desafios. Quero mesas fartas. Quero famílias unidas. Quero as brincadeiras de crianças.
Quero acreditar no ser humano. Quero acreditar que um dia tudo possa ser assim. O sonho não pode morrer.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
DESEJO DA MULHER
Ah! Se soubesse os desejos da mulher,
Embebedaria de seu licor e comeria com colher.
Amaria todas, não sobraria uma sequer,
Daria a rosa mais bonita, não seria uma rosa qualquer.
Dom Juan não quis ensinar,
Como fez pra conquistar.
Amou as mulheres mais belas,
E como foi amado por elas!
Será que era o traje que usava?
Ou será que era o chapéu que portava?
Será que era o dinheiro na poupança?
Ou será que eram seu charme e sua elegância?
O que a mulher deseja talvez seja pouco,
Um punhado de carinho e um beijo rouco.
Um abraço apertado e um sussurro louco,
Nada é demais, que não seja tão pouco.
Presentinhos quando ela menos espera,
Elogiar sempre é a pimenta que tempera.
Ao acordar sentir o cheiro do café na cama,
Feito de forma especial por quem à ama.
Escrever nas estrelas que ela é a mais brilhante,
Que entre as pedras preciosas, ela é o diamante.
Enche-la de joias, pérolas e ouro,
Gritar ao mundo que essa mulher é o seu maior tesouro.
Magra, corpo violão,
Cortejada de montão.
Deixa babando o marmanjão,
Que não aprendeu como amar um mulherão.
Casa na praia,
Cavalo na raia,
Barco no mar,
Ainda sobra tempo para amar.
Viagem à Europa no dia do aniversário,
Jantar a luz de velas e show universitário.
Colar de brilhantes e brinco de esmeralda,
Curtir o luar na madrugada, sentados na calçada.
Nada disso tem valor se faltar o amor,
Falta de amor rima com rancor e dor.
Dê à sua mulher o seu devido valor,
Seja seu poeta, seu músico, seu cantor e seu maior admirador.
Conquiste-a de noite e de dia,
De manhã ao raiar do dia.
Seja seu brilho, seja sua luminosa luz,
Seja espelho, seja sua brisa, seja o seu cristal que reluz.
Ame as mulheres, a família depende delas,
Lute por seus direitos e faça tudo por elas.
Não importa se são bonitas ou se são belas,
Sempre alegrarão todas as cores em aquarelas.
A mulher não quer muito, quer apenas o seu amor,
Dê a ela seu jardim e a mais bela flor.
Nada que ela faz, pede algo em pagamento,
Faz tudo pelo amor e por seu contentamento.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
O VÁCUO DA VIDA
O que sou, são sei,
Não sei se acertei ou se errei.
Só sei que semeei,
Sementes e amores pelos caminhos que caminhei.
Construí trilhos e atalhos,
Costurei vestes de retalhos.
Já fui Rei e espantalho,
Já comi carne assada no borralho.
De onde vim não sei,
Pra onde vou ainda não pensei.
Corri, corri, um dia parei,
Pensei. Esse mundo não é justo como um dia imaginei.
Tem guerra e intolerância,
O veículo é ambulância.
Os donos do mundo não se entendem,
Só fazem o que pretendem
Hoje os lares são hospitais,
Triste sina dos mortais.
À mercê desses marginais,
A paz e o amor ficaram pra trás.
É um vazio de solidão,
No vasto mundo, imensidão.
As casas se transformaram em prisão,
No vácuo do medo, a espera pelo ladrão.
Nesse mundo inconsciente,
O jovem livre e impaciente,
Busca a calma do oriente,
Pra matar o leão e assar com brasa quente.
Qual futuro o espera,
Nesse tempo que acelera,
Víscera que dilacera,
Corpo drogado, na sede sem espera.
Do nascer ao morrer Deus nos deu a ponte da vida,
Cada um tem seu tempo, sem leme, sem bússola e sem rota definida.
Uns trafegam por cima, outros por baixo, seguem o destino,
Nascer, viver e morrer. Morte e vida, o desatino.
Nossa riqueza não é nossa riqueza,
O que fica é o nome e a nobreza.
Só tem jantar, não espere sobremesa,
O céu não precisa de riqueza pra manter sua beleza.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
O PARAÍSO ENVERGONHADO
De tanto ver seu nome no lamaçal da corrupção,
Nosso País esconde a face com vergonha de ser Nação.
As lágrimas derramadas escorrem pelas calçadas sem fama,
Lubrificam as engrenagens da justiça sob os auspícios de Dalai-Lama.
As turbulências não são passageiras não,
Viajam em nosso País desde o reinado de Dom João.
Cada dia uma nova decepção,
Cada estrume de vaca que se vira, tem alguém metendo a mão.
Políticos desonestos camuflam nas folhas da impunidade,
Fazem Leis que escancaram a desonestidade.
Não envergonham se massacram a sociedade,
São sem limites, perderam o brio e a dignidade.
Os bandidos com e sem colarinhos diferenciam-se nos ninhos,
Por necessidade ou opção seguem os desvios dos caminhos.
Os eleitos pela sociedade massacram e matam de mansinho,
Desrespeitam os cidadãos tratam todos por povinho.
Envergonhamos frente ao mundo da ética,
Pela exposição dessa classe doente e patética.
Não importam as enormes filas nos hospitais,
Não importam as crianças famintas nas capas dos jornais.
O tempero tá sem sal,
Já nem se sabe o que bem e o que é mal.
O Paraíso envergonhado pede perdão,
De fazer seu povo como escudo e paredão.
A Justiça como grãos de milho no galinheiro,
Apena um ou outro, busca agulha no palheiro.
As Leis covardes e protetoras,
Tiram o mel e o favo das classes trabalhadoras.
Com seus direitos surreais e especiais,
Surrupiam do cidadão o pão, a dignidade, seus bens materiais e emocionais.
A população ta triste, mas espera solução,
Só não sabemos quem poderá nos salvar da atual situação.
A sociedade repele a corrupção, mas comete os mesmos deslizes,
Precisa ser vigiada para não mostrar suas raízes.
Surrupiar os bens alheios saqueando o que é de outro,
Não pode ser normal numa sociedade que pede decoro
A desonestidade está alinhada ao outro, sem semelhança,
Mas o que difere é a oportunidade e a vigilância.
Não percamos a esperança, vale à pena acreditar,
Ensinar a criança é o caminho para o futuro melhorar.
O verde da floresta carioca pede respostas,
O Cristo Redentor se pudesse ficaria de costas.
Brasília nem a amarela dá aquarela,
Nossa Minas do ouro e pedras preciosas, tão bela ficou ridicurela.
O norte e nordeste do povo sofrido e esmarrido,
Sempre foi cabo eleitoral do candidato de nariz comprido.
Mas a fé em oração faz esse povo sabido, muito unido,
Não há desgraça que destrua esse amor construído
Da tapioca ao queijo mineiro,
Do arado, do jegue e do carreiro,
Das mansões, dos casebres e dos veleiros,
Não importa crenças e diferenças, ainda somos brasileiros.
Precisamos de coragem e decisão,
Levar a Bandeira verde e amarela numa só direção.
Arregaçar as mangas e gritar bem alto com a voz do coração,
Somos donos desse país e não vamos tolerar enganação.
Como brasileiro estou morrendo de vergonha,
Para o mundo somos frouxos acreditando na cegonha.
São promessas de ressacas num dia de curtição,
Somos sugados, sem dó, até sangrar o coração.
Logo chegará a hora da eleição,
Na telinha da TV pra tudo tem solução.
O discurso é o mesmo, mas com muita embromação,
Pra conquistar o voto na época de eleição,
O candidato é travestido de bondade, amor e compaixão.
Se os partidos fossem bons não seriam fatiados,
Como são partidos nunca serão inteiros e apropriados.
Ainda temos voto, a maior arma que temos,
Façamos dele o justo, o perfeito e tudo que queremos.
Élcio José Martins
Élcio José Martins
AMOR À PRIMEIRA VISTA
Chegou sem dizer nada,
Não podia ser porta errada.
De mansinho conquistou,
Um coração flechou.
Duas almas de juntaram,
Dois corações se apaixonaram.
Abraços e beijos trocados,
Eternos namorados.
Das duas, uma só alma,
Sem estresse, tudo se acalma.
Dos dois, um só coração,
Sem regra, sem razão,
Só o pulsar da emoção.
É suor de malhação,
É o esfregar da dança de salão.
É o roçar de mão,
É o beijo de supetão.
E ainda mais se amaram...
Embebedaram-se do mel,
Com volúpia gargamel,
De êxtase subiram ao céu,
Pernas e braços, o escarcéu.
Com o amor e o desejo se casaram,
E desse amor louco se encontraram.
E ainda mais se amaram,
Dos desejos soltos novamente se embriagaram.
E ainda mais se amaram...
Cúmplice cama dos pecados,
Cálidos beijos molhados,
Lençóis esparramados,
Vertigem de lustres dourados.
No chão, na lareira, na esteira,
No bico da mamadeira.
Suor, corpos molhados insaciados,
Sussurros de versos inacabados.
E ainda mais se amaram...
Élcio José Martins