Eggon
Minha dor,
Meu parto inconsciente
E um leve mal deitado no meu leito umbílico.
A decadência estéril dum contato vivo
A ilusão marcante numa luz sem fonte
Afronta a deusa da estrela D'alva
Que brilha e linda chora pelo sangue amargo
Se o mais belo ser que sob a Terra andara
Do amor bebeu e jamais chorava
Gosto tão cruel em minha boca amarga
Primeira poesia
Sonho espancado
Sonha destituído, desidratado,
Nenhuma ideia na mente
Nenhum gesto de honra
Enterro o emprego dum homem
Fugido dum mar de amandas
Vazio, meu se ser desespera
Inteiro, meu ser se todo despreza
Vadio, o ar corre aroma
Da fruta que morre em chama
Chama à vida o poeta
Senhor dos amores perdidos
Infiel ao homem integro
Inteiro na alma que bate
Nem sabe daquela mania
Dum padre que abandona seu frade
Ovelhas rebeldes e negras
Perguntam da vida inteira
Sou deus, sou eu, sou nada,
Já disse que não quero nada
Já me fiz coberto de palha
Me já fizeram inteiro de nada!
Ele não sabe o que é ir embora,
Me vê ao gosto d'aurora
Ao som da luz do meu crânio
Aos olhos do meu sangue jorrando
Que não se ponho em dor do meu pranto
Ve luz no desumano canto
Longe de Casa
Já consigo ver a rosa criada à luz do sol
Já consigo chorar um passado cruelmente lindo
Já sinto um vazio concreto denso que me forma aquela casa
Já senti saudade duma mesa torta
Jamais porém dum leito umbílico que em minha alma toca
Sonhei dos momentos que pareciam vício
dum hábito que quase postulado sacro
podia dizer que a vida é isso
Mas acordei e virgem entendi a pista
dum sonoro choro nesse sangue amado
Olhei pra frente vi uma rocha grande
quem é esse homem que amanhã acorda?
que escolheu alar um grande mastro
Será que esqueceu de não trancar a porta
que ainda lembra de sempre dar a volta
Será que ainda sabe do postulado sacro
Desespero
A madrugada cai
o desespero ressalta meu peito inchado
os lábios inacabados
da branca morena dos olhos
Dois gatos miam lá fora
brigam pelo integralmente nada
Já não é dia, não é noite
sonho ou lucidez
É o desespero atento de um ato falho
humano inacabado
Sonhará mais mil noites perdidas
viverás mais a eternidade escondia
E no limbo encontrará o meio termo
dum ato falho maldito
Eu sou mal
Como o inferno em teu coração
Como a mágoa durante o verão
Trouxe a selva tamanho animal
Eu sou bom
Feito o leito dos peitos suaves
Seus carinhos de mãos tão afáveis
vem do mar o amor desse som
Tua sentença cai-me em viva
carde podre, mas o sol d'outro dia
envelhece o ar da palavra maldita
Sois filho de meu Deus que dizia
Algo sobre essa velha tal de Ira
Amarás o inferno dessa ilha?
Um vazio,
uma culpa,
uma inteira realização do nada,
um canto numa vida desvairada
Uma vida
o que é a vida neste limbo?
na incompletude do ato humano nato
na compreensão desprovida dum caminho?
É pois um rio amoral de rumo ausente
Segue o ser desesperado ao signo do findo
Flui a plenitude duma flor no sol poente
Faz tempo,
não durmo comigo mesmo
satisfaço meu próprio alento
vejo o sol cru do meu pensamento
bebo a água maldita daqui de dentro
Faz tempo,
não estou só...brio,
sem sombra de qualquer monstro terreno,
e à sombra de algum deus ateu
dormindo em meu divino leito atento
Vejo a luz de um sol só meu
Hoje é triste a minha carne ávida
que se banha na luz branca e pálida
dum astro maior que o próprio eu
Porém,
se não brilha hoje, não amanhã
se não gritar agora fim do romance,
findam e pra trás acaba-se minha chance
E a repente morte brilha forte e sã
Tem uma esperança, eu nao sei de onde ela vem
Tem uma tristeza, eu nao sei de onde vem
Uma saudade, sua luz vem dum mistério
Uma luz num quarto escuro, com a janela de tras aberta
O incenso ligado memória da alma
Tem uma dor intensa que nunca para
Um mar que nunca transborda,
suas margens sensatas e claras
Tem um desespero que toca na porta fechada,
que controla o vento pelo qual os papeis voam
À tarde o café acorda,
À noite o café desorda
A noiva o café desova
noiva das sete manhãs que viram o sol nascer
Ainda tem uma felicidade, eu sei de onde ela vem
Dum desespero nato,
dentro de um pote inchado do cansaço,
do outro dia desperdiçado,
pelo nada do insensato,
que controla a cor do sapato,
nato,
humano falho ato
O mar que transborda
As folhas que voam ao vento rebelde
da porta escancarada
Minha cara cuspida em farpas
Um incenso que apaga
Uma dor, que para
Grilo...
grilo...
grilo...
Um leve tom que flui a cabeça deitada
Uma maresia que bate o carvalho
Uma brisa que quebra o asfalto
uma longa história se passa no corpo espalhado
Grilo..
grilo..
grilo...
grilo.....
Por que Maria quis assim?
Pedro era mais próximo de Marcelo
Amanda nem me olha mais
feito essa porta fechada,
do lado da cama
desarrumada.
O que fiz demais?
Grilo...
grilo...
grilo...
A vida se condensa nesse escuro, meus olhos claros
Abstracto, azul, caos, calma, simples, cinza
O giz do quadro corrói a p...alma
A essência da vida se esconde,
No elevador sinto sua falta, parado.
Grilo...
O grilo toca a marcha do poeta
escreve...
pensa...
reflecte...
sente...
levanta da cama
a luz!
o grilo para
o poeta cala
grilo íntimo grillo
grito...
grilo....
grilo..
poeta
desconhecido
meu vazio
minha carne persistente
minha mente fugaz
minha existência ausente.
Um dia depois do outro, aquele interrompido pelo desespero da mente sã
Desespero do entendimento completo do mundo
Completamente desesperado pelo entendimento da incompletude do homem
Entediado pela existência única dum ser tão perpétuo
Unificado pelo pensamento frequente de uma existência no incerto
Decepcionado! Pela poesia inútil pras curas do mundo.
Chove uma água tão leve
leve, o meu ser em seu pranto
Ando, encontro becos e cantos
Te amo, da água que bebe
Me veja, nos apuros de um céu bêbado,
Beija, um rosto marcado,
de lógica, axiomas trancados
nos mistérios dessa água que cedo
existo, como e bebo
ando num passo atônito
respiro um ar carioca
transito na ponte heroica
Vi-me, vendo o mundo atento,
Elucubrando uma arte vidal
A beleza: agride olhos ingênuos
Liquidez duma alma mortal
Constante pulso dum caminho incerto
pedaço ermo do meu jardim antigo
Absorto sento no chão verde e limpo
Cachorros ladram lá fora,múltiplos sons urrantes no meio da noite
O ronco exaltado dum sono agressivo
Os gatos exaltados gritam. Medo ou bravata
Nem parece noite, as luzes do poste sorriem pra lua
O colega de quarto desvenda Sartre, tão altivo quanto o sol
Quarto poema da noite. Quinto fracasso do dia. Sexto motivo pra vida.
A Noite, poeta assustada que não nasceu pronta,
mas nasceu, opondo-se ao Sol, por causa do sol e da ausência intermitente dele
O ronco não para, o colega exalta ainda o existencialismo,
os cães já roucos não dão sinal de trégua.
Não chove faz um mês, é seco e frio,
é noite ou dia, é pouca energia,
ardido vivo, fluir cansativo,
é baixo
um silêncio que se faz ouvir de pouco em pouco
um existir que vai se consolidando ao esquecer que existe e ao existir de fato,
o escuto do quarto, o ar que entra e sai, e deixa
o som e somente som
a memória do cão no quintal,
o branco ar do teu funeral,
o sol que brilha o meu olho
fechado.
As Terras foram em bora
nas caçambas de outrora
terras que o frio deixavam
em tardes tão majestosas
Essa terra leva o frio,
leva o ar de tom sombrio
A flor que agora murcha
um dia foi meu abrigo
Nessa noite foi pesadelo
um sonha já velho veio;
depois em devaneios
a pensar no caos do meio
O homem que acordou
repente viu Terra mundo
Muito tudo em tanto nada
Amanhã, andar, terror
É lisa, ele suaviza, ele concretiza,
A morte que lenta via
pisou no meu lado direito,
assentou-se no conceito do leito
O verde ar da manhã virada,
A mente desvairada
Dizia meu pranto em pronto dia,
A vontade, a tarde, mania.
Dor que é tu, não nada,
que é o inexistente, que é tua pele que falta
Não há dor neste barco
Diz Camões! tuas palavras belas
Sangue mar de Portugal...
Sente-tu o que há em mim!
Que vim dos séculos ao mar trotando
Sente que não há dor então cria em mim
Amargo sal na minha boca alada
Mal tom, insiste em mim
Andei, Trotei, Amei
Camões, pois, fez-me sofrer por que?
que não salvaste o amor em lei,
Amou o belo do lusitado ritmo
fechou o mar pro amor mais vivo!
Há dor, porque não há o ti,
Não há o ti pois assim o fiz
que fiz por ti jamais, por mim
Por mim? Pois, Pessoa, diz,
o que palavra que no mar se foi?
Troquei o ti o si, o me. Jamais pensei,
o todo quis pelo menor que fiz,
a bela aurora já me contradiz
Condenado, no meio livre
solto, nas garras do homem
passeias, pela água abaixo
respira, o peixe o ar
Fascina, o templo perdido
contempla, o caos retorcido
a mente, lavares os pratos
mas corvo comias condido
Livros à mão toda escrita
Vem, abomina me ser
do coiote me manda criada
dos céus e da terra lavada
que um dia pra mim cultivara
São reis teus netos queridos
pois, frutos que a mim destinaram
cuspir toda fruta à cega
em mato qualquer devastado
Nascera semente profunda
porem enterrada na raiva
do rei dos meus desamados
Mas calmas comeste o caroço
de fruta agora enjaulada
dentro de tua pessoa
hoje lhe assombra a alma
Tal fruta te lembro é verde
de vermelho ela não tem nada
venho dos céus do inferno
com ela que tu sonhavas
sutilezas te faltam aos dedos
justiça a teus sorteados
que me encontro,
que me faço, refaço
e nunca satisfaço
e procuro em tato,
diz-me tu, que lamento
incompleto em meu passo
em meu ato descompensado
Mudo tudo! despedaço
ressurjo e ao reencontro tácito
escrevo este poema falho
da minha mudança ata
do meu pensar não mais nostálgico
que não cumpre mais regras estéticas,
que não mais contempla a natureza em detrimento de uma ação efetiva que mude os rumos do mundo
sem a rima dessa métrica,
e nem poema, poema do ato,
humano falho ato.
Eu não estou cansado,
Eu não louvo o erro tácito
da minha íntima atitude de ser pobre
Eu sou rico em minha pobreza desprezada,
pelos fieis habilidosos d'outro mundo,
do mundo que nos rega, que me até alimenta
Teu olhar de ferpas indecifráveis
eu sou pobre perante este ar estrageiro que não me reconhece
perante este amor intorpecente que me regurgita
Mira-te, mais, em meu centro real,
pois que nessa tua surra, me plante este amor que me regozija!
profundamente....
E escancara-te, tuas armas perante minha face feia!
Que digo! Te não me afeta! A física em mim?
Só redigita-se.
Diz, não dizendo,
que em mim não há nada
Minha cabeça diz-me que dissem.
Que, pois, não estou cansado
não, da minha cabeça falha,
nem de meus punhos firmes, às vezes leves...
Estou cansado de ti, de vós!
Que me abdico da tua palavra tola,
Sem abdicar-me de teu som laborioso.
Tuas palavras, minha mente,
este incompleto status
Ressuscito!
Minhas palavras falhas, poetizo!