Efraim Medina Reyes
Não digo que sou mau, mas digo que tome cuidado. Sou de uma raça indomável, que se movimenta rápido, o tipo de criatura que deixa um rastro de ânsia quando passa. Já não digo mais mentiras porque perdi a imaginação, mas não há nada que seja confiável nas minhas verdades.
Os estudantes que entram e saem nos olham com desprezo e as garotas com asco e curiosidade. Imagino que devemos ter uma
aparência repugnante mas o essencial continua pesando. [...] O olhar destes estudantes assusta, há mais lucidez num pavilhão psiquiátrico, até no necrotério.
Um dos mutantes se aproxima: é o pequeno Nico. Ele não só é estúpido como, ainda por cima, pensa que tem coisas em comum conosco. Seu senso de humor é tão eficaz quanto o esperneio de uma tartaruga na água fervendo. Ele coça a cabeça. Não é má pessoa, não tem culpa de ser limitado, um pedaço de lixo genético vazio e sorridente.
Nancy amava Sid mas gostava de ler filosofia e ouvir musica de Wagner, Sid amava Nancy e não gostava de mais nada. Só cantava com a banda por amor a Nancy. Sid odiava filosofia e a musica de Wagner e odiava qualquer coisa que Nancy gostasse. Por sorte, Nancy não gostava da banda, então não tinha que odiá-la. Quando Nancy estava feliz com alguma coisa, Sid dava um jeito de destruir aquela felicidade, de matar aquela coisa. Nancy era feliz com Sid e Sid machucava a si mesmo, não queria de jeito nenhum que ela fosse feliz, as pessoas felizes não eram confiáveis para ele e ele queria confiar em Nancy. Sid batia com a cabeça nas paredes até tirar sangue e Nancy chorava e isso satisfazia Sid. Nancy estancava as feridas de Sid com profunda tristeza e ele a cobria de beijos, chupava seu próprio sangue molhado pelas lágrimas de Nancy.