Eduarda Morais, Longificar
Neste fim de tarde chove. Cada gota que cai sob o meu telhado e que molha a minha janela, é como se fosse uma lembrança, uma lembrança muito boa, que neste momento faz questão de precipitar-se na minha frente. Resolvo sair, me molhar um pouco. Pois não há nada que eu ache mais gostoso que me molhar na chuva. As gotas que caem e escorrem pelo meu rosto e corpo se misturam com minhas lágrimas, que hesitam em cair, carregando em si lembranças ruins. Nunca me senti tão leve e ao mesmo tempo tão densa.
É na escrita que eu consigo colocar pra fora o que há de ruim dentro mim, o que me causa angústia e aflição. Comparo isso ao ato de vomitar. Colocamos pra fora algo que não nos fez bem. Mas muitas vezes vomitar sentimentos no papel não é suficiente. Alguns sentimentos são inalcançáveis, pois habitam no âmago do meu ser.
Talvez seja só um sonho ruim. Mas porque mesmo depois de tantos beliscões e banhos frios isso ainda não acabou ?