Edson Aparecido de Barros

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MACACOS IRRACIONAIS

Os macacos trabalhadores estavam ficando inquietos, e a cada dia estava ficando mais difícil mantê-los presos trabalhando, trabalhando, comendo apenas o suficiente para ter forças para trabalhar, enquanto poucos ficavam com a melhor parte da produção.
Os covardes sabem que não são tão fortes, e só conseguiram manter os outros presos, porque seus pais que eram fortes e com muita luta, os prenderam, e os filhos herdaram esse poder, mesmo sendo fracos.
A grande e única arma que eles possuem e o controle do sistema, e os outros vivem de uma grande mentira.
Porém, entre eles, existe um, que não aceita a mentira, acredita em si mesmo, sabe do ponto fraco do sistema, e está dizendo aos outros, que todos são iguais, logo todos vão descobrir a verdade, e se isso acontecer, iram se libertar.
Foi então, tramaram uma mentira maior ainda, ou seja, a maior de todas as mentiras.
Pagaram algumas bananas, para um dos seus seguidores, que, levou os soldados controlados pelo sistema, até o seu líder, o prenderam. Porém só prende-lo não bastou. Usaram o líder, como exemplo, para que nenhum outro tenha coragem de enfrentar o sistema, com esta arma tão poderosa que é a palavra. Pegaram um macaco grande e forte que estava preso por não querer pagar imposto e ter derrotado vários soldados do sistema, ele tinha mais popularidade entre os macacos, e apesar dos dois prisioneiros buscarem o mesmo objetivo (liberdade), um usava a força física, fácil de ser eliminado, e o outro a palavra, esta sim poderá um dia libertar a todos, desde que cada um acredite em si mesmo. Chamaram todos os macacos, para que a maioria escolhesse qual dos dois, seria libertado, e aquele que têm mais popularidade, com certeza será escolhido, e assim mataram o grande líder, diante de todos, seguindo a “vontade” da maioria dos macacos, e os então covardes do sistema, lavaram as mãos, fazendo a maioria acreditar, que eram culpados pela morte do líder.
E assim, mais uma vez os macacos trabalhadores cumpriram seu papel, ou seja, escolheram um culpado entre dois inocentes.
Com o passar do tempo, os macacos foram se acalmando, acalmando, e até hoje se julgam culpados, e passam a sua vida toda a pedir perdão por um crime que não cometeram e aceitando como normal, trabalhar como escravo, recebendo em troca, apenas o suficiente para ficar de pé, e ter força para trabalhar como camelos, carregando um fardo pesado, como se fosse um castigo daquele que nunca condenou ninguém.
Acreditaram tanto na mentira, que aos poucos, eles mesmos foram tirando as grades da prisão, porém continuam presos, não pelas grades, mas pelas armas do sistema, suas próprias mentes, hoje são como fantoches, uma máquina quase perfeita, com baixo custo de manutenção.
Várias ferramentas de manipulação foram criadas, tais como: escolas para domesticar, desde o nascimento, até estarem prontos para produzir, competições, cujo prêmio maior é uma banana em forma de troféu; salas de reparos, para fazer ajustes nas mentes dos macacos rebeldes, livros de mentira, para que eles acreditem que nasceram somente para trabalhar, trabalhar; guerras entre macacos de cor diferente, para diminuir o número de macacos em excesso. Dividiram-se em classes, e brigam entre si, para acumular bananas, morrendo afogados na própria comida.
Mas o que impressiona, é ver que, alguns dos macacos são selecionados, para formar uma grande barreira, entre a mentira e a verdade, ou seja, alguns dos macacos se vestem diferente dos outros, matam seus próprios irmãos para defender os covardes do sistema. Suas mentes são condicionadas a acreditar no que está escrito nos livros de mentira, e que os rebeldes são os inimigos, e assim matam seus lideres e os covardes ficam protegidos pela grande mentira.
Alguns quando começam a desconfiar da verdade, e se rebelam, são presos, torturados, assassinados e alguns se matam com suas próprias mãos, preferindo a morte ao ter que viver como escravo, ou se anular em nome de uma grande mentira.
Depois de morto, sua cabeça é exposta em um lugar público, para que todos possam ver, e os poucos que insistem em procurar seus verdadeiros direitos, fiquem com medo, e continuem a trabalhar, trabalhar, produzindo muito e comendo cada vez menos.
Assim, todos continuam trabalhando, trabalhando, cada vez mais presos pelas suas próprias cabeças, e mais longe da verdade.
Suas mentes são condicionadas a acreditar na mentira, produzem muito, porém comem pouco, até a água é engarrafada e vendida a preços absurdos, alguns passam fome, embora toneladas de bananas estragam nas casas dos que podem comer. Quando ficam doentes, os que tem poucas bananas, quase sempre estão condenados a morte, para que outro macaco trabalhador, fique em seu lugar, o que importa é a produção, macaco não tem vida é apenas uma peça, que quando quebra, deve ser trocada.
Tudo para manter um sistema que montou uma grande mentira, para escravizar milhares de macacos e covardemente beneficiar a poucos.
Ao longo do tempo de tanto viver de mentiras, os macacos na sua maioria, perderam até o instinto animal, e morrem pelas calçadas de fome, e frio, já sem força para reagir, acreditando que nasceu para sofrer, e que após a morte, irá acordar num paraíso, cheio de bananas.

Já é tarde, estou com sono, vou dormir, amanha tenho que levantar cedo, colocar minha mascara de macaco trabalhador, vou correr atrás da minha banana, no domingo vou assistir a final do campeonato, o meu time BABACAS enfrenta o OTÁRIOS, o preço do ingresso é meia banana.

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A MONTANHA DA MORTE

Sentado no banco da praça, olho para cima e vejo uma linda montanha, tão alta que pode ser vista por “todos”.
Ela é linda, tem uma cachoeira de águas cristalina, e o contato da água com as pedras, formam nuvens, os raios do sol cortam as nuvens, formando um lindo arco-íris.
Como é linda a montanha, toda vez que a vejo sinto algo diferente, é como se lá décima alguém estivesse me olhando e querendo me dizer algo.
Todos os dias fico horas e horas contemplando sua beleza e imaginando, como seria bom se eu pudesse ir até o alto da montanha, todos iriam me olhar e eu seria como um rei.
Chega de sonhar, vou a busca de meu sonho, sou jovem, tenho a vida pela frente, e no livro está escrito que a felicidade está lá no alto.
Amanhã bem cedo vou partir em busca da minha felicidade, e se Deus me ajudar conseguirei chegar até o topo da montanha.
Através do jornal, consegui meu primeiro emprego, lá estou eu, trabalhando de office-boy, andando pra lá e pra cá, arquivando um monte de papeis, no final da tarde, faço horas extras, preciso chegar no alto da montanha.
O tempo vai passando, e a cada dia vou me aproximando mais do topo daquela linda montanha. Sinto que esta viagem me desgasta a cada dia, mas isso não importa, eu quero chegar até o alto daquela linda montanha e passo a passo vou chegar lá.
Mais alguns anos, me encontro sufocado por uma gravata, numa mesa de gerência com um sorriso forçado, que nem sei do que estou rindo, nem o porquê, acho que meu time ganhou o campeonato.
Estou no meio da montanha, a cachoeira faz muito barulho, a nuvem formada pela água que bate nas pedras, me impede de ver o topo da linda montanha.
Mais alguns passos e me vejo novamente sufocado por uma gravata, estou sentado numa linda e confortável poltrona, em cima da mesa uma placa muito bonita, escrito Diretor.
Do outro lado da mesa, uma moça chorando, e pedindo para que eu lhe dê um aumento de salário, parece ser uma faxineira, que dificilmente chegará ao topo da montanha.
- Não, esta é a resposta!
Já não vejo mais a cachoeira, estou bem próximo do alto da montanha e sinto saudades daquele banco da praça, de lá eu podia ver toda a montanha, a cachoeira, o arco-íris, no final da tarde, o sol se punha bem atrás dela, eu era feliz e não sabia.
Puxa, que saudade, mas agora não posso mais voltar, não ha caminho de volta, faltam poucos passos.
A mesa é grande, as cadeiras são de encostos altos e confortáveis, vários homens sentados nas cadeiras de luxo, todos sufocados pela gravata, eles são diretores, e eu já sou o Presidente, minha cadeira é maior e mais confortável, porem a gravata continua a me sufocar, parece que quanto mais, eu afrouxo, mais ela aperta, me sinto enforcado.
Aqui estou, no alto da montanha como uma estátua fria, como uma pedra, olhei para cima e não vi mais nada, olhei para os lados, ninguém estava sozinho, quando olhei para baixo, uma grande decepção, pessoas andando em círculos, muitos passando fome, outros roubando, outros matando, outros se protegendo com medo, e numa praça alguém me olhando e sorrindo.
Um urubu pousou do meu lado, tentei espantá-lo, mas ele insistia em ficar, acho que ele estava com fome, foi então que lembrei:
“Os urubus só pousam, onde tem carniça”
Já faz tempo que não sei o que é sorrir, aquela felicidade que o livro dizia, não existe, dediquei grande parte da minha “vida”, correndo atrás do nada, um vazio, quanto mais perto do topo da montanha, mais longe da felicidade, todos nós somos diferentes uns dos outros, cada um de nós deve seguir o seu caminho, para não morrer em vida, e sentir este vazio, que só quem chega ao topo da montanha pode sentir. Gostaria de poder voltar, descer cada degrau, voltar a ser feliz, poder ver novamente o arco-íris, e quem sabe voltar a vida.
Agora sentado no banco detrás de um grande carro, na frente um motorista, me levando de nenhum lugar, para lugar nenhum, em minhas mãos um jornal que diz que eu sou feliz.
Olho para o lado e vejo uma praça, feia e suja, uma lágrima sai dos meus olhos, quando vejo a faxineira sentada no banco da praça, olhando para cima e sorrindo.
A montanha é linda, faz parte do grande e maravilhoso cenário da vida, ela é de todos. E aqueles que hoje acham que são os donos da montanha, perderam o verdadeiro sentido da vida.
A verdadeira felicidade é ir e voltar até o topo da montanha, sem sair do banco da praça.

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