Edson Aparecido de Barros

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PEDRO VAGABUNDO

De repente, acordo. Estou morando num barraco, tenho 3 filhos José de 2 anos, Renato de 6 anos e Paula de 11 anos, estou casado com Maria que bebe muita pinga.
Estou sentado numa cadeira toda remendada, que em breve poderá cair, na mesa tem um copo com um liquido branco ,pela metade, curioso pego o copo e sinto o cheiro da pinga, é eu também bebo pinga, mesmo sem querer bebo o resto que está no copo, num só gole.
Levanto e vou até o quintal, lá estão meus dois filhos menores, brincando, sem chinelos, sem camisa, sem calça, apenas uma cueca suja e remendada, procuro por Paula, a mãe responde, foi para escola e logo vai chegar, tá ficando louco canalha, você que a levou para escola hoje cedo.
Procuro roupas não encontro, procuro comida, só encontro restos de lanches, e meia coxinha que parece gostosa.
Quando olho em volta, vejo de um lado uma bela casa, com um lindo carro na garagem, viro para outro lado, um posto de saúde, e uma longa fila com pessoas doentes e tristes, esperando para serem atendidas.
Por que meus filhos sofrem ?
Por que minha esposa esta triste, só bebe e xinga ?
Por que minha casa é feia, e nossas roupas velhas ?
Por que não há comida, só restos de comidas daqueles que podem comer ?
Vou dar uma volta, para ver se consigo arrumar um emprego.
Mas espere, não posso procurar emprego, com estas roupas rasgadas, descalço, barba e cabelo compridos, e sujo.
Já sei vou até a casa do lado e pedir emprestado uma camisa, um sapato, uma calça e quando eu voltar eu devolvo.
Aperto o botão da campahia, em pouco tempo alguém abre a porta, está vestida com um avental, deve ser a empregada, ela me olha, com um olhar de desprezo e antes que eu diga algo, ela grita.
- Seu vagabundo, filho da puta, vê se te enxerga, sai da frente da casa, vai trabalhar vagabundo !
Sem saber o que dizer, pedi desculpas nem sei do que, e voltei para casa, coloquei duas doses de pinga, uma para mim e outra para minha esposa.

Minha filha chega da escola, chorando,
- O que foi minha filha !
- Pai, os meus amigos riram de mim, porque repeti 3 vezes a merenda, eles me chamaram de gulosa, mas eu só comi duas, uma delas eu coloquei num saquinho e trouxe para os meus irmãos.
- A diretora mandou eu ficar dois dias sem merenda, e nunca mais levar para casa.
Volto ao quintal e vejo um poço, tiro a tampa, desço o balde, e puxo, parece fundo, fico atento para as crianças não chegarem perto, me parece muito perigoso.
Tomo um banho, coloco uma outra roupa, que apesar de velha e rasgada , vejo através de um pedaço de espelho, um homem triste, porém determinado e cheio de esperança.
Vou procurar emprego assim mesmo, descalço, com uma roupa rasgada, porém limpo e de cabelos penteados.

Começo a andar a procura de emprego, é minha única chance, assim terei dinheiro e logo minha vida vai melhorar, e os outros, não mais poderão chamar minha filha de gulosa, e eu não serei chamado de vagabundo.
Vejo homens e mulheres vestido com macacões todos da mesma cor, uns varrendo a rua e outros juntando o lixo no latão, algo está escrito nos seus macacões, mais eu não sei ler, me aproximo, tentando uma conversa, quem sabe um dia eu também possa ter um destes bonitos macacões cor de abóbora.
- Como o senhor se chama ?
- Meu nome é Pedro e o seu ?
(e agora, eu não sei meu nome)
- Moço, como o senhor se chama ? está surdo ?
- Pedro, meu nome também é Pedro, estou procurando um emprego, gostaria de trabalhar e ganhar dinheiro para sustentar minha família, sou pobre, preciso de um emprego. Gostei dos seus macacões, - Você gosta desse trabalho ? - Será que na sua empresa estão precisando de mais pessoas para trabalhar ?
- Eu trabalho na prefeitura já faz vinte e um anos, varro as ruas, como se fosse minha casa, estou velho e cansado, o que ganho, mau dá para sobreviver, mas em breve eu me aposento, ai sim estarei tranqüilo, não precisarei mais trabalhar e continuarei recebendo até morrer.
- Vai amanhã cedo no DP, e pede uma vaga !
- DP o que é isso?
- É onde a gente é contratado para trabalhar, só que dificilmente tem vaga, são muitos os vagabundos que querem trabalhar.
Um garoto se aproxima, e começa a vasculhar o latão de lixo a procura de alimento, não encontra nada e vai embora.
Mas enquanto ele vasculhava, notei que havia um material brilhante no latão, a luz ofuscava meus olhos, como tinha bebido pinga, pensei, acho que ainda estou de bêbado, onde já se viu uma luz no latão de lixo.
Andei um pouco mais, e vi, outros homens parecidos comigo, roupas velhas, sujas de cal e cimento, trabalhando, subindo e descendo latas de concreto, todos pareciam muito fortes, deviam comer bem, me aproximei, e um deles gritou.
- Aqui não tem esmola, vá pedir em outro lugar.
- Mas eu não vim pedir esmola, vim pedir um emprego.
- É a mesma coisa !
Disse um outro, se aproximando, com raiva.
- Igual a você todo dia vem muitos aqui, nós trabalhamos muito, e ganhamos pouco, justamente por isso, se a gente reclama com o patrão, ele manda a gente embora, e colocam outro vagabundo para trabalhar no nosso lugar, e continuam pagando pouco, o mínimo possível.
- Some daqui, filho da puta, é a melhor coisa que você pode fazer.
Fiquei parado, sem saber o que dizer, uma lágrima saiu dos meus olhos, sem eu saber o porque.
Dois homens fortes se aproximam, e eu pensando que iríamos conversar...
Bummm
Um soco, bem no meio da cara, caio no chão, outro me chuta nas pernas, outro me dá um chute no estômago, que embora vazio, doeu muito, sem ter como reagir, gritei.
- Parem, por favor, parem pelo amor de Deus!
Foi então que apareceu o Pedro (lixeiro da prefeitura), que me estendeu a mão e me salvou.
- Volta para casa xará, não procure emprego com estas roupas, dá um jeito e arrumar um sapato e uma roupa decente.
- Obrigado amigo, Deus lhe pague !
Saí andando, e numa breve olhada para trás, novamente aquela luz no latão de lixo, estou ficando louco, acho que é a fome.
Continuei andando, quando olhei para o chão
- olha!, uma moeda.
Vou comprar comida, mas espere, tenho uma família, não posso comer sozinho.
Mas por outro lado, esta moeda não dá para comprar comida para todos, o que faço, já sei vou comprar uma dose de pinga, ela não alimenta, mas não sei por que me deixa mais conformado, talvez seja porque vagabundo toma pinga.
A moeda era boa, o dono do bar enche o copo até a boca, tomo um gole, e, espere, enquanto eu estou aqui bebendo, ninguém me xingou de vagabundo, nem me bateu.
Tem um outro homem ali, do outro lado do balcão, bebendo também, vou ficar com este meio copo de pinga, e vou me aproximar dele, quem sabe ele possa me ouvir, e assim eu desabafo um pouco, estou me sentindo muito sozinho, preciso conversar com alguém.
- Olá amigo, tudo bem ?
- Tudo bem coisa nenhuma, estou muito doente, e não tenho dinheiro para comprar o remédio , trabalho numa grande empresa, e cometi um erro na linha de produção, me suspenderam por uma semana, estou aqui vagabundando, mas deveria estar trabalhado. - Minhas mãos só param de tremer quando bebo pinga, e naquele dia, eu não tinha bebido, minhas mãos tremeram e o serviço saiu todo errado. - Tenho que ir embora, se os patrões descobrirem meu problema, eles me despedem e eu não quero passar fome. - Tchau amigo! Qual é o seu nome ?
- Pedro, eu me chamo Pedro, e você ?.
- Meu nome é Rodnei, mas me chamam de Nei. - Até outro dia Pedro !
Tomei o resto da pinga, e quando eu ia saindo.
- Obrigado amigo, volte sempre ! Aqui você é sempre bem vindo.

Hoje não adianta continuar procurando emprego, vou voltar para casa, hoje não conseguirei nada, quem sabe amanha.
Mas e agora, como voltar, andei muito, me perdi, a única coisa que lembro bem, é da minha família, do poço fundo, não sei nem o nome bairro onde moro, e agora. Já sei , aquela linda casa da vizinha, com um lindo carro na garagem, isto eu me lembro muito bem, vou andar até encontrá-la. O efeito da pinga logo passa, e terei fome novamente.
Comecei andar rapidamente, para chegar logo, olhava cada casa por onde passava, cada carro, e nada, a noite vem chegando, meus passos já são curtos, minhas pernas estão doendo, estou com muita fome, acho que vou parar um pouco para descansar.
Ali esta uma praça, tem outros iguais a mim, descansando. Vou até lá, sento um banco, e logo a minha frente, um casal, namorando, no outro banco, um garoto, saboreando um cachorro-quente. Ah, posso sentir o gosto, daquele pão fresquinho, a salsicha, a maionese, a mostarda, um gostoso guaraná bem gelado.
O que eu não daria para dar uma mordida.
Mas se eu me aproximar, com estas roupas, ele vai ficar com medo e quem sabe também me chamar de vagabundo.
Já está na última mordida, não adianta eu olhar para ele, ele vira a cara, e finge que não me vê, parece que ele tem medo de mim.
Mas espere, ele está comprando outro cachorro quente, será vai me oferecer, puxa, quem sabe.
Nada disso, sentou novamente no banco, continuou saboreando seu cachorro quente, e virou a cara para outro lado, acho que mesmo sem dizer nada, eu o incomodava.
Tenho fome mas não tenho coragem de tomar da mão dele, ele é que tem que me oferecer, eu continuo esperando, ele parece que continua com medo de mim, se vira e fica de costas.
Mas por cima do seu ombro, posso ver ele saborear o sanduíche gostoso. Porém já não com tanta vontade, parece que o sanduíche vai aos poucos perdendo o gosto para ele, até que antes do final, faltando um terço para acabar, aquela maravilha, ele vira para o lado, mais uma vez pensei que ele iria dar para mim, pois vinha em minha direção. Nada disso, do meu lado tinha um latão de lixo, antes dele jogar o pedaço do lanche, eu o chamei.
- Garoto ! espere ! Preciso falar com você ?
Ele se assustou, jogou o pedaço do sanduíche gostoso no lixo, e saiu correndo assustado.
Logo em seguida, fui até o latão, esperei até que ninguém estivesse olhando, não sei porque mas acho que assim como aquele garoto, tinha vergonha ou medo de me oferecer o resto do sanduíche gostoso, eu também sentia vergonha (por estar pegando do lixo) e medo (de alguém me xingar de vagabundo, filho da puta, ou mendigo).
Assim que fiquei sozinho, peguei o resto do sanduíche que apesar de pequeno, parecia grande dentro da minha boca, sentia seu gosto deste a boca, passando pela garganta, chegando no estômago, e me dando forças para continuar vivo.
No fundo da lata, ainda tinha guaraná, era pouco, mais completava a grande festa no meu estômago.
Está escurecendo, acho que vou andar um pouco mais, quem sabe eu encontro aquela linda casa da vizinha.
Meus passos são cada vez mais curtos, estou cansado de andar e nada da casa, continuo andando, um carro de bombeiro passa fazendo muito barulho, parece que tem um incêndio, o carro de bombeiro vira a esquina, mas o barulho continua, ele deve ter parado, o incêndio deve ser logo ali, mas não vejo nenhuma fumaça.
Vou forçar minhas pernas e tentar correr, para ver o que está acontecendo. Quando viro a esquina, lá esta o carro de bombeiro parado em frente a um barraco feio e sujo. Espere, eu estou reconhecendo a casa do lado, meu Deus ! É na minha casa.
Começo a correr, me aproximo da casa, os homens de vermelho, vem saindo correndo, com uma criança nos braços, é meu filho Renato, havia caído no poço fundo.
- Ele está vivo ?
Pergunto ao homem de vermelho.
- Sim, parece que quebrou um braço e as duas pernas, vamos levá-lo ao hospital.
- Ele é meu filho, eu vou com vocês !
Entramos numa ambulância, o carro saiu em disparada.
Dentro da ambulância, um deles me pergunta.
- Quem é você ?
- Sou Pedro, sou o pai do garoto.
- Onde você estava, seu bêbado, deveria estar tomando conta dos seus filhos.
- Estava procurando um emprego, não sou vagabundo, apenas não tenho um emprego.
- Que procurando emprego nada, você estava era num bar bebendo pinga, posso sentir o cheiro de longe, deveria ter vergonha na cara seu vagabundo !
Chegamos no hospital, rapidamente abrem-se as portas, colocam meu filho numa maca, entram num corredor, e mandam eu ir preencher uma ficha.
A moça pergunta ?
- Você é o pai do garoto ?
- Sim, sou eu.
- Quantos anos seu filho tem ?
- 6 anos.
- Qual o seu nome ?
- Meu nome é Pedro
- Pedro de que ? continua o interrogatório.
- Pedro de nada, Pedro Vagabundo.
- Você tem convênio ?
- Não sei o que é isso.
- Você tem um emprego ?
- Não, estou procurando mais ainda não encontrei nenhum !
- Vá sentar naquele banco e espere, seu filho logo será atendido!
- Logo, como assim, ainda não o atenderam por quê ?
Uma Senhora vestida de branco se aproxima.
- Sentimos muito senhor, temos outros aguardando, para serem atendidos, seu filho está no corredor, em cima de uma maca.
Vou até a maca. Colocaram soro no braço do meu filho, ele parece sentir muitas dores, seus olhos cheios de lágrimas, está com as pernas e o braço esquerdo imobilizados.
Com a mão direita ele pede que eu aproxime um pouco mais, e chorando muito de dor, me diz.
- Pai, a minha bola caiu lá no poço, pega ela, amanhã eu quero brincar com senhor.
- Claro filho, não se preocupe amanhã, eu pego ela para você, agora fique quieto, que a dor logo vai passar.
Um homem vestido de branco pega a maca, leva meu filho para ser atendido, a mulher de branco, segura no meu braço, me guia até a saída do hospital.
- O senhor não pode ficar aqui, já é tarde, vá para casa, tome um banho, coloque roupas limpas e volte amanhã cedo, nós tomaremos conta de seu filho, fique tranqüilo.
Começo a andar, muito cansado, sento na beira da calçada.
Como posso voltar para casa, novamente estou perdido, a ambulância deu muitas voltas, não sei o caminho de volta.
Já é noite, está muito escuro, e frio, estou cansado, e com muita fome.
Tem um latão de lixo do outro lado da rua, vou até lá, quem sabe, alguma comida, algum pedaço de sanduíche.
Mas como conseguirei atravessar a rua, minhas pernas quase não se mexem mais, meus olhos, cheios de lágrimas, os faróis dos carros me deixam quase cego. Vou tentar, não tem outro jeito, se ficar aqui poderei morrer de fome, as pessoas passam apressadas e assustadas, todos parecem ter medo de mim.
Com muito esforço, consigo ficar de pé, lá vou eu.
Um passo, dois passos, no terceiro, uma luz brilhando, parecia a mesma luz daquele latão do lixeiro, só que esta não está parada, está vindo em minha direção.
- Mãeeeeee...
Não podia ver mais nada, não sentia mais cansaço, até a fome passou. Meu corpo adormecido, não sentia meus braços, nem as pernas, apenas meu coração, insistindo em bater.
Espere, meus ouvidos, ainda posso escutar.
- Coitado, estava bêbado, não viu o carro. Eu não tive culpa ! Não filho, não se aproxime, ele está morrendo.
- Pai eu conheço ele, é um vagabundo, queria roubar meu sanduíche , hoje a tarde lá na praça.
- Bem feito !
De volta ao hospital.
O homem de branco, examina. O coração não bate mais.
- Tirem ele da fila, o Pedro vagabundo está morto.

MACACOS IRRACIONAIS

Os macacos trabalhadores estavam ficando inquietos, e a cada dia estava ficando mais difícil mantê-los presos trabalhando, trabalhando, comendo apenas o suficiente para ter forças para trabalhar, enquanto poucos ficavam com a melhor parte da produção.
Os covardes sabem que não são tão fortes, e só conseguiram manter os outros presos, porque seus pais que eram fortes e com muita luta, os prenderam, e os filhos herdaram esse poder, mesmo sendo fracos.
A grande e única arma que eles possuem e o controle do sistema, e os outros vivem de uma grande mentira.
Porém, entre eles, existe um, que não aceita a mentira, acredita em si mesmo, sabe do ponto fraco do sistema, e está dizendo aos outros, que todos são iguais, logo todos vão descobrir a verdade, e se isso acontecer, iram se libertar.
Foi então, tramaram uma mentira maior ainda, ou seja, a maior de todas as mentiras.
Pagaram algumas bananas, para um dos seus seguidores, que, levou os soldados controlados pelo sistema, até o seu líder, o prenderam. Porém só prende-lo não bastou. Usaram o líder, como exemplo, para que nenhum outro tenha coragem de enfrentar o sistema, com esta arma tão poderosa que é a palavra. Pegaram um macaco grande e forte que estava preso por não querer pagar imposto e ter derrotado vários soldados do sistema, ele tinha mais popularidade entre os macacos, e apesar dos dois prisioneiros buscarem o mesmo objetivo (liberdade), um usava a força física, fácil de ser eliminado, e o outro a palavra, esta sim poderá um dia libertar a todos, desde que cada um acredite em si mesmo. Chamaram todos os macacos, para que a maioria escolhesse qual dos dois, seria libertado, e aquele que têm mais popularidade, com certeza será escolhido, e assim mataram o grande líder, diante de todos, seguindo a “vontade” da maioria dos macacos, e os então covardes do sistema, lavaram as mãos, fazendo a maioria acreditar, que eram culpados pela morte do líder.
E assim, mais uma vez os macacos trabalhadores cumpriram seu papel, ou seja, escolheram um culpado entre dois inocentes.
Com o passar do tempo, os macacos foram se acalmando, acalmando, e até hoje se julgam culpados, e passam a sua vida toda a pedir perdão por um crime que não cometeram e aceitando como normal, trabalhar como escravo, recebendo em troca, apenas o suficiente para ficar de pé, e ter força para trabalhar como camelos, carregando um fardo pesado, como se fosse um castigo daquele que nunca condenou ninguém.
Acreditaram tanto na mentira, que aos poucos, eles mesmos foram tirando as grades da prisão, porém continuam presos, não pelas grades, mas pelas armas do sistema, suas próprias mentes, hoje são como fantoches, uma máquina quase perfeita, com baixo custo de manutenção.
Várias ferramentas de manipulação foram criadas, tais como: escolas para domesticar, desde o nascimento, até estarem prontos para produzir, competições, cujo prêmio maior é uma banana em forma de troféu; salas de reparos, para fazer ajustes nas mentes dos macacos rebeldes, livros de mentira, para que eles acreditem que nasceram somente para trabalhar, trabalhar; guerras entre macacos de cor diferente, para diminuir o número de macacos em excesso. Dividiram-se em classes, e brigam entre si, para acumular bananas, morrendo afogados na própria comida.
Mas o que impressiona, é ver que, alguns dos macacos são selecionados, para formar uma grande barreira, entre a mentira e a verdade, ou seja, alguns dos macacos se vestem diferente dos outros, matam seus próprios irmãos para defender os covardes do sistema. Suas mentes são condicionadas a acreditar no que está escrito nos livros de mentira, e que os rebeldes são os inimigos, e assim matam seus lideres e os covardes ficam protegidos pela grande mentira.
Alguns quando começam a desconfiar da verdade, e se rebelam, são presos, torturados, assassinados e alguns se matam com suas próprias mãos, preferindo a morte ao ter que viver como escravo, ou se anular em nome de uma grande mentira.
Depois de morto, sua cabeça é exposta em um lugar público, para que todos possam ver, e os poucos que insistem em procurar seus verdadeiros direitos, fiquem com medo, e continuem a trabalhar, trabalhar, produzindo muito e comendo cada vez menos.
Assim, todos continuam trabalhando, trabalhando, cada vez mais presos pelas suas próprias cabeças, e mais longe da verdade.
Suas mentes são condicionadas a acreditar na mentira, produzem muito, porém comem pouco, até a água é engarrafada e vendida a preços absurdos, alguns passam fome, embora toneladas de bananas estragam nas casas dos que podem comer. Quando ficam doentes, os que tem poucas bananas, quase sempre estão condenados a morte, para que outro macaco trabalhador, fique em seu lugar, o que importa é a produção, macaco não tem vida é apenas uma peça, que quando quebra, deve ser trocada.
Tudo para manter um sistema que montou uma grande mentira, para escravizar milhares de macacos e covardemente beneficiar a poucos.
Ao longo do tempo de tanto viver de mentiras, os macacos na sua maioria, perderam até o instinto animal, e morrem pelas calçadas de fome, e frio, já sem força para reagir, acreditando que nasceu para sofrer, e que após a morte, irá acordar num paraíso, cheio de bananas.

Já é tarde, estou com sono, vou dormir, amanha tenho que levantar cedo, colocar minha mascara de macaco trabalhador, vou correr atrás da minha banana, no domingo vou assistir a final do campeonato, o meu time BABACAS enfrenta o OTÁRIOS, o preço do ingresso é meia banana.

A MONTANHA DA MORTE

Sentado no banco da praça, olho para cima e vejo uma linda montanha, tão alta que pode ser vista por “todos”.
Ela é linda, tem uma cachoeira de águas cristalina, e o contato da água com as pedras, formam nuvens, os raios do sol cortam as nuvens, formando um lindo arco-íris.
Como é linda a montanha, toda vez que a vejo sinto algo diferente, é como se lá décima alguém estivesse me olhando e querendo me dizer algo.
Todos os dias fico horas e horas contemplando sua beleza e imaginando, como seria bom se eu pudesse ir até o alto da montanha, todos iriam me olhar e eu seria como um rei.
Chega de sonhar, vou a busca de meu sonho, sou jovem, tenho a vida pela frente, e no livro está escrito que a felicidade está lá no alto.
Amanhã bem cedo vou partir em busca da minha felicidade, e se Deus me ajudar conseguirei chegar até o topo da montanha.
Através do jornal, consegui meu primeiro emprego, lá estou eu, trabalhando de office-boy, andando pra lá e pra cá, arquivando um monte de papeis, no final da tarde, faço horas extras, preciso chegar no alto da montanha.
O tempo vai passando, e a cada dia vou me aproximando mais do topo daquela linda montanha. Sinto que esta viagem me desgasta a cada dia, mas isso não importa, eu quero chegar até o alto daquela linda montanha e passo a passo vou chegar lá.
Mais alguns anos, me encontro sufocado por uma gravata, numa mesa de gerência com um sorriso forçado, que nem sei do que estou rindo, nem o porquê, acho que meu time ganhou o campeonato.
Estou no meio da montanha, a cachoeira faz muito barulho, a nuvem formada pela água que bate nas pedras, me impede de ver o topo da linda montanha.
Mais alguns passos e me vejo novamente sufocado por uma gravata, estou sentado numa linda e confortável poltrona, em cima da mesa uma placa muito bonita, escrito Diretor.
Do outro lado da mesa, uma moça chorando, e pedindo para que eu lhe dê um aumento de salário, parece ser uma faxineira, que dificilmente chegará ao topo da montanha.
- Não, esta é a resposta!
Já não vejo mais a cachoeira, estou bem próximo do alto da montanha e sinto saudades daquele banco da praça, de lá eu podia ver toda a montanha, a cachoeira, o arco-íris, no final da tarde, o sol se punha bem atrás dela, eu era feliz e não sabia.
Puxa, que saudade, mas agora não posso mais voltar, não ha caminho de volta, faltam poucos passos.
A mesa é grande, as cadeiras são de encostos altos e confortáveis, vários homens sentados nas cadeiras de luxo, todos sufocados pela gravata, eles são diretores, e eu já sou o Presidente, minha cadeira é maior e mais confortável, porem a gravata continua a me sufocar, parece que quanto mais, eu afrouxo, mais ela aperta, me sinto enforcado.
Aqui estou, no alto da montanha como uma estátua fria, como uma pedra, olhei para cima e não vi mais nada, olhei para os lados, ninguém estava sozinho, quando olhei para baixo, uma grande decepção, pessoas andando em círculos, muitos passando fome, outros roubando, outros matando, outros se protegendo com medo, e numa praça alguém me olhando e sorrindo.
Um urubu pousou do meu lado, tentei espantá-lo, mas ele insistia em ficar, acho que ele estava com fome, foi então que lembrei:
“Os urubus só pousam, onde tem carniça”
Já faz tempo que não sei o que é sorrir, aquela felicidade que o livro dizia, não existe, dediquei grande parte da minha “vida”, correndo atrás do nada, um vazio, quanto mais perto do topo da montanha, mais longe da felicidade, todos nós somos diferentes uns dos outros, cada um de nós deve seguir o seu caminho, para não morrer em vida, e sentir este vazio, que só quem chega ao topo da montanha pode sentir. Gostaria de poder voltar, descer cada degrau, voltar a ser feliz, poder ver novamente o arco-íris, e quem sabe voltar a vida.
Agora sentado no banco detrás de um grande carro, na frente um motorista, me levando de nenhum lugar, para lugar nenhum, em minhas mãos um jornal que diz que eu sou feliz.
Olho para o lado e vejo uma praça, feia e suja, uma lágrima sai dos meus olhos, quando vejo a faxineira sentada no banco da praça, olhando para cima e sorrindo.
A montanha é linda, faz parte do grande e maravilhoso cenário da vida, ela é de todos. E aqueles que hoje acham que são os donos da montanha, perderam o verdadeiro sentido da vida.
A verdadeira felicidade é ir e voltar até o topo da montanha, sem sair do banco da praça.