Edna Morb
Eu sempre fui racional demais. Não me comovia. Nada me perfurava. Era preto no branco e bastava. As coisas mudaram quando o conheci. Sofri por pouco. Me preparei para muito, chorei por menos. Foi a frustração da minha vida.
Em relação a esquecer, nada melhor que admitir que ainda se lembra. Nada melhor que não forçar o esquecimento. Nada melhor que aceitar que ainda dói.
Não escrevo por escrever. Não tenho auto piedade. Não me comovo. Não me reprimo. Continuo, ainda que a vida me encha de pancadas ao longo do caminho, crendo nos meus passos e de mente erguida, consciente de que farei mais por mim do que qualquer outra pessoa faria.
Dolorosa é essa ideia de continuar. Estou cansada de planejar idas e vindas, recriar caminhos e escolhas que outrora não me moveram. Lutar por algo é uma prova de amor próprio, uma forma de não aceitarmos o nosso fracasso e seguirmos em frente.
É apenas engraçado como o amor nos consegue tornar em algo grande, assim como em algo completamente miserável.
Estou me desprendendo do silêncio. Despejando no mundo as cinzas do meu cigarro e a confusão dos meus pensamentos.
Escrever é desafogar dos braços da amargura, meu senhor. Você faz das vírgulas as suas arfadas e os pontos são marcas de amores acabados. Os travessões são quando a boca tenta falar mais que a mente perdida em pensamentos, os parágrafos, são esperanças de novos inícios. A caneta marca o papel como a lâmina marca a pele fazendo doer quando somos forçados a escrever a história melancólica de nossas vidas.
Ninguém sabe dizer quais caminhos você trilhou ou narrar as marcas do seu passado. Irão, diversas vezes, construir uma imagem de quem você é totalmente diferente da forma como você deve se ver. Mas não é no espelho da sociedade que nos enxergamos, dentre esses rótulos e limitações de perfeição e medida. O reflexo da sua alma é para quem sabe te viver, só para quem sabe como te olhar.
Os seres humanos têm sempre o pensamento preso em algo. Um emprego melhor, um amor recordável, Deus, um pepino de família. Isso faz-me indagar quantas vezes uma pessoa já parou para pensar sobre si mesma neste dia.
O primeiro passo para sentir-se suficiente para alguém é estar satisfeito consigo mesmo e gostar da própria companhia. É sentir-se completo sozinho