edileuza borges 2016
Eu queria esconder as dores que não suporto, camuflando-as com a falta de sobriedade.
Eu queria reverter uma humilhação na praça pública dos meus sentimentos.
Eu queria corrigir a dor, e colocar no lugar dela a indiferença colorida de orvalho.
As vezes me sinto um completo fracasso. Daqueles rasos, voláteis e fácies de se converter.
Mas não tenho esperança, continuo achando que sou assim e não posso mudar. Aliás eu sei que posso tudo, todavia me falta mais audácia, como na juventude.
Eu desejo viajar nos meus pensamentos livremente, preciso encontrar uma liberdade fictícia, necessito viver em um mundo que eu criei.
Eu tenho ilusões, e eu gosto de tê-las, esse é um dos meus hobbies, cultivar ilusões. Descobri que quando é livre se pode fazer qualquer coisa, inclusive voltar a se prender.
Em algum lugar do futuro talvez haja vida. Aquela vida sonhada, construída sobre a insônia, sobre a solidão. Em algum lugar do futuro deve existir vida, mas é aquela vida causada, constante e fria como as paredes do meu coração.
O medo paralisa. Eu sei.
Sim, eu sei todas as respostas dos meus dilemas emocionais, mas não ouso responde-los, sequer ouso pensar nas respostas.
Mas, sei.
Estou exausta dessa falsa moral, desse ser humano sujo que asseia-se na lama tirada de outros corpos.
Esse que sente orgulho em apontar o outro por pensar que está limpo.
Uma moral tão falsa que qualquer um sabe que ele faria o mesmo, pois não esconde sua própria podridão. Mas é orgulho pra si, e todos aplaudem do esgoto.