Edgar Sacadura
Seria fácil gritar ao vento,
Que te amo eternamente,
Dissolviam-se as palavras,
Que entre gentes, são espadas,
Usadas sem sentimento.
Ladear os teus caminhos,
No teu lodoso leito,
Livre de lacunas,
Livre de fortunas,
Livre de tabus forçados,
Impostos, diabos e luz.
Nu, o teu corpo perfeito,
A que a língua jura,
Lealdade imaculada,
Que em mil luas,
Te purifica na natureza,
Vil.
Musas
Através dos olhos de ouro,
Que te pertencem,
Verdejante ficou a minha alma,
E aguçados sentidos,
Pela tua fugaz passagem,
No portão dos deuses,
Dos jardins de folhas claras,
E águas refletoras,
De corações palpitantes,
E frutos doces,
Que tanto consumo,
Quando apaixonado.
Eu tenho um espaço no coração, que guardarei para sempre para mim próprio, rasto de egoísmo? talvez, mas quem ama sem se amar?
25, um dia de folga
É fria, tão fria e devastadora,
A lâmina corroída e suja,
Que manchou o chão aos meus pés,
Sem aviso, nem demora,
Aos meus pés esvaindo me vou,
Devagarinho me vou, aos meus pés.
Quantos gestos de ego são,
Para que me esvaia aos meus pés?
Aos meus pés me esvaia então,
No chão as manchas pouco a pouco,
Por cada faca tua de traição,
meu amor.
Quem chamas, já não existe,
Quem chamas, já não existe,
Quem chamas, já não existe,
Agora já não é - alguém
Quem chamas, já não existe,
Quem chamas, já não existe,
Quem chamas, já não existe,
Neste funeral de mentiras.
Fazer da ignorância uma virtude, é como não te guiares por uma bússola, mas sim pela leitura de entranhas.
Pequeno, que me julgas tolo
Com mentiras me enfeitas?
De mãos dadas já tão cedo,
Duas vontades contrafeitas,
Pequeno, que me julgas tolo
Uma língua e a boca ao medo
Eu sei com quem te deitas
No largo de um romance antigo
Sobre um sol já encoberto
Gela o fogo do inferno e sigo
Uma paixão que não me lembro,
Andorinhas onde vão? Onde vão?
Já lá vem setembro…
Adeus minha paixão!
Muitas vezes pinto e escrevo mulheres,
Para lá do corpo, vejo a mulher como deusa,
Abençoado quem lhe guardará a pureza.
Ser o que sou, não o que penso ser, convocará mais um pouco de mim, serei agora menos tu, e aquilo que queres que seja.
Ser o que sou. Agora. Após o sonho.
A poesia, é para se trincar! mastigar! consumir! e tal como as folhas consomem a luz, todo este canibalismo deve ser encarado com pureza...
Quando floresce uma alegria,
Numa imensidão de sorrisos,
Torna-se vã a poesia,
Que a palavra êxtase,
É diminuta e sem sentido.
Para honrar tal sensação,
Teria cada verso incutido:
Um toque de céu,
Um punhado de chão
Uma lágrima dançante,
O rebentar de vulcão,
A consciência do instante
Uma vénia á paixão.
…Não…
Não á palavra para um amante.
Sorri meu amigo que já é tarde!
Amanhã é outra voz que chama,
Não chores meu príncipe alado,
Olha as nuvens e larga o drama.