Eder Xavier
O habitante do ocidente se embebeda de fragmentos do passado e injeta projeções de um futuro incerto. Quem se destaca no meio disso tudo é o Rivotril, que proporciona belas noites de sono.
Hoje no ônibus ouvi uma senhora dizer que Deus não gosta de pessoas rebeldes, uma sociedade opressora também não.
Aquele que utiliza a plebe como parâmetro de medição da ignorância humana, ainda não conheceu a nova classe média brasileira, porque, diferente dos pobres, possuem poder aquisitivo atrelado ao desconhecimento, o que gera uma população medíocre e perigosa.
O sujeito contemporâneo aprendeu que precisa estar rodeado de bens de consumo para ser feliz, isso inclui as experiências interpessoais, uma obsessão numérica e quantitativa, relações que nascem rasas e morrem efêmeras.
É estranho, injusto e comum. A qualidade mais apreciada pelo ser humano contemporâneo é dado através da aleatoriedade da natureza, a beleza fisica, essa que hipnotiza o olhar e aliena senso crítico.
Os seres humanos possuem duas características irrevogáveis e imutáveis, são mentirosos e contraditórios. Não se trata de um julgamento moral, não existe um culpado, certo ou errado, é apenas um fator comportamental. A prova maior de tudo isso, é que mesmo tendo consciência de tais fatores, ainda preferem negar, mentir e contradizer a própria natureza.
Enquanto assisto pela Tv, Pasolini desconstruir o imaginário fascista através da ficção, olho pela janela do meu quarto e vejo as pessoas da vida real exaltando o retrocesso em fase formação.
A abjeção de assistir o casamento dos famosos através da televisão, é a mesma ou similar de ler sobre estado de espirito dos indivíduos nas redes sociais. Ambos oferecem desserviço e procrastinação, a diferença é o meio pela quais as informações são disseminadas
Paixão de metrô
As paixões de metrô são sagazes, fortuitas e intensas. Chegam sem pedir licença e invadem os vagões, mexem com imaginário e causam decepções. Basta um olhar, um cheiro ou até mesmo um sorriso. Ninguém está livre desse sentimento incandescente, que atinge os casados, os solteiros e os aflitos. Basta ser usuário deste meio de transporte que carrega diariamente milhões de apressados, pessoas que desejam chegar a algum lugar, e quem sabe no meio do caminho encontrar uma aventura que ainda lhes façam sentir vivos, no meio desta massa de alienados.
Jucilene
Jucilene dormiu cristã e acordou descrente. Não havia mais empregos, não havia mais comida, não havia mais água. A única moeda de troca daquela gente era a esperança de encontrar um país melhor. Esperança dada à partir de suas TV´s com imagens fantasmagóricas, de homens brancos fantasiados com ternos feitos sob medida e sorriso amarelo; " Os tirarei da miséria, povo sofrido! Sou trabalhador como vocês e prometo dar-lhes aquilo que nenhum outro lhes deu, a dignidade que todo cidadão honesto merece!".
Sem escolha, Jucilene decidiu acreditar. Os anos se passaram e sua dignidade nunca foi entregue, nenhuma carta, nenhum telefonema, nenhum mensageiro. Ela viveu sendo amiga da fome, parente da sede e refém da ignorância que lhe foi sentenciada desde criança.