Éder Persaint
Você disse estar precisando beijar. Mas saiba que o que quer que seja externo, ou seja, parta de fora ou vá dos outros, é irreal, é efêmero e não preenche o vazio interno. Saiba que o amor não se trata de um relacionamento entre duas pessoas, mas, sim, de um estado de plenitude e unidade dentro de si mesmo, que vem de dentro para fora. Os outros não nos podem, nem têm a obrigação de nos preencher: o preenchimento é interno e pessoal.
Antes de buscar uma relação com quem quer que seja, ame-se, acolha-se, relacione-se de antemão consigo próprio, conheça-se. Depois de amar-se o suficiente, aí, sim, é que o amor de fora vem. E sabe por que agora ele vem? Porque não faz mais diferença alguma. Porque você não necessita mais compulsoriamente dele. Porque já não é mais prioridade sua cobrar algo dos outros. Porque agora você apenas é, e o ser é absoluto, absorto de quaisquer distrações ou ilusões dos sentidos.
Há uma linha bastante tênue entre mudar e se transformar. Ninguém ou nada muda repentinamente; tudo demanda tempo. Se alguém quer ver o seu exterior mudar, tem que primeiro transformar sua estrutura interna: para que tanto uma quanto outra tenham efeito, é necessário, de antemão, reconhecer com aceitação o que as requer, porque tudo por fora é subproduto do que já há por dentro, de tal forma que não se pode ser externamente o que não se é internamente.
Feliz ou infelizmente, no tocante a relacionamentos, desprezando-se a ordem, a cada vez que os observo, percebo que quem mais os busca é quem menos tem disposição de doar-se e fazê-los um meio para se chegar a um fim, que é florescer e servir de apoio recíproco às partes interessadas. Logo, o que ora se denomina como tal não é senão um fim em si mesmo, vazio e sem funcionalidade. É um paradoxo deplorável, mas não menos tangível.
Falar sobre a estupidez humana é ser tão estúpido quanto. Ressaltar o quanto de ignorância há no mundo só fá-lo aumentar tanto mais se lhe dê atenção. Observar a idiotice alheia é espoliar-lhe do quinhão a que tem direito do que de melhor lhe há, e reconhecer a obviedade de que somente um idiota pode reconhecer outro.
A verdade em si é simples. Porque não tem de ser agradável aos ouvidos ou aceita por quem a ouve, prescinde de todos os floreios. Porque nunca é injusta, pode até fustigar, mas não causa dor.
A paz nunca chega, por um motivo: para que chegue, é necessário que ela não exista, ou que, se exista, esteja longe de nós; e não é isso que acontece. A paz não precisa vir até nós, e nós não necessitamos ir à sua busca; ela já existe dentro de nós e em nós. É esse o princípio da não dualidade — nunca estivemos fragmentados, pois que sempre fomos completos.
Não existe certo ou errado ou qualquer outro binômio dual; isso tudo não passa de ilusão. Na verdade, tudo é perfeição, e tudo ruma a ela como um propósito tanto inicial quanto final de todas as coisas.
Amor-próprio, não por acaso, é próprio: ele emerge do seu ser tão logo você o reconheça como sua substância primordial. Descobri-lo, cultivá-lo e irrigá-lo em si requer, antes de mais nada, que seja reconhecido que ele há em você como subproduto do Criador.
Crer na necessidade de ter malícia a fim de discernir a verdade é uma crença a que nós, frequentemente, não raro sempre, nos submetemos; conquanto em nenhum momento a maldade se relaciona à verdade. Pelo contrário, não há maldade ou bondade, haja vista que derivam do princípio do julgamento, o qual por sua vez é baseado na prerrogativa da polaridade, separando, classificando e reduzindo tudo conforme as vontades do ego.
É a sua capacidade de identificar a necessidade de si em sua vida, do seu amor-próprio; de discernir a dificuldade de integrar esse aspecto seu que aspira sempre à aprovação exterior e ao amor dos outros; bem como de perceber a resistência em aceitar que ele já existe e sempre existiu; que prenunciará o seu estado de completude interior, com a posterior predisposição a atrair o amor das pessoas à sua volta.