Douglas Rodrigues
Recordação... Recordação...
Traz à memória boas lembranças,
Daquele nosso tempo adolescente,
Eternas crianças,
Mas que por descuido da vida
Separaram-se,
ainda que a amizade não tenha sido em vão.
Recordação... Recordação...
Que o tempo não volta mais,
Que o tempo, impiedoso,
Deixou para trás,
Que os dias suplicam,
Só por mais um até breve,
Um adeus, momentâneo,
Que talvez nunca aconteça mais.
Recordação... Recordação...
Não sei se é sinônimo de nostalgia
Ou desse sentimento que agora
E mesmo outrora
Assaltou meu coração.
Simplesmente, recordação... recordação...
Me faz perder o juízo,
O sentido,
A razão.
À margem de mim
Ao longo do oceano,
azul de desencantos,
vou aos poucos, sem pressa,
velejando.
As águas turvas,
os dias claros,
a nostalgia,
tudo,
vem em torrentes impiedosas
e me lavam a alma,
lavam minha mente,
transformam meus dias.
Sei que tudo isso
aos poucos vai passando,
mas viver de afetos,
amizades sorrateiras,
nada disso importa à hora fúnebre,
pois iguala aos homens,
ao mesmo destino,
às mesmas tardes lúgubres.
Percorro esse caminho sem sentido,
não sei mais quem sou,
não tenho mais amor,
sou partícula desprendida,
que depois de viver a vida,
aguarda a despedida da dor.
Não sei de nada, realmente,
só sei que de muito procurar,
nos labirintos que compõe essa mente,
perdido fiquei,
na individualidade,
no descontente...
Meu tempo
Acordo, esfrego os olhos,
miro o espelho e percebo,
que aquele ser sou eu.
Como se foram os meses, os dias, os anos,
minha existência,
e aquela criança cresceu;
ontem mesmo, segundo muitos,
trocavam- me as primeiras fraudas;
hoje, inspirado pelo futuro,
me encontro inseguro,
sem saber realmente se esse tempo é meu.
O tempo passou tão depressa que mal pude acompanhar,
as tardes se foram, em festas,
e nem pude no frescor da mocidade me refrescar.
Passaram- se os bons anos.
Sou realmente um adulto, um jovem,
um adolescente, um velho, uma criança,
um ser humano.
Nem tudo esta perdido,
ainda tenho o resto da vida
para nas águas do destino mergulhar,
mas não queria ter perdido meu tempo
esse tempo tão precioso, amor tão valioso,
que é fazer dos ventos,
meu lar.
Realmente não sei,
mas a vida deu um salto,
e agora me encontro, de sobressalto
sem amigos, sem destino,
sem nada,
sem mesmo saber o que é amar.
Escutem fiéis,
não deixem de agir,
pois o Deus onipotente e opressor,
no qual vocês creem cegamente,
não dá vasão a um Deus humano,
terno, bondoso
e que em tudo delega seu amor.
Como ovelhas,
seguindo seu rebanho,
deixam- se nesse pasto alimentar,
perdendo o instinto humano,
sem questionar, sem sensatez,
vivendo por comodismo
nesse constante engano.
À Igreja vão
sob o pretexto da salvação,
mas não hesitam o outro em criticar,
deliberadamente agir,
pois podem simplesmente o perdão pedir
e perdoado serão.
Há um livre arbítrio disfarçado,
se crermos em tudo
estaremos condicionados
a eterna estadia no paraíso,
porém quem critica,
ao inferno visita
e lá, pagando por seus pecados,
por toda eternidade fica...
Medo de viver
O luar prateado aos poucos vai enegrecendo,
motivado pelos tormentos,
os lamentos,
da ilusão que é amar.
As estrelas,
cintilantes testemunhos,
acrescentam a seu modo,
tão grande infortúnio
que lentamente ofusca
a intensidade desse mesmo amar.
As nuvens,
impiedosas,
testam os limites,
impõem barreiras
e testam até mesmo
as fraquezas do que é se apaixonar.
O corpo,
destinado a morte,
já não vê no fim do túnel,
nenhuma luz que lhe reserve sorte,
por isso o alvorecer
que nova vida traz,
representa a frustração
do que é para vida acordar.
Face a Face
Debaixo daquela chuva,
ouvi trovões, vi relâmpagos,
que me apagaram os sentidos.
Mesmo lamentando as dores,
sorrindo da situação,
esse circo de horrores,
não pude prever os prejuízos.
Infelizmente a vida é assim,
um arranjo de trapaças,
que na inconsciência de cada ato
promove um turbilhão de desgraças,
mas que usando a casual máscara da indiferença
recusa as desavenças de cada instante ou jornada.
Em cada essência há um perfume
que despertam imensuráveis lembranças,
as alegres tardes de verão,
ensolaradas fantasias,
felicidades, minha ilusão.
Pois a chuva que cai agora
e açoita aos transeuntes
me desperta para o meu real eu,
simplesmente o breu
que enegrece o meu mundo,
mas do qual não posso me livrar
por estar só e
da candura encontrar- me desnudo.
Reverência aos idealizadores
A noite embala aos homens com sua essência do sono.
Fazem- nos esquecer suas angústias,
seus temores,
ou mesmo que são humanos,
fornecendo uma realidade ilimitada,
onde o que reina é a fantasia,
as mais belas composições de tão doces melodias,
na qual a realidade mais palpável é sonhar,
mais até mesmo que amar.
O dia embriaga aos sentidos,
assimila todos numa forma,
padrões desnudos de beleza,
e por mais que um ao outro se assemelha
o ego desperta do medo de não se sentir único,
individual para si mesmo,
e ruge com feroz estridência
nas mentes dos homens que se alienam
e se tornam vítimas
de sua própria demência.
Invariavelmente, um ou outro se perdem,
nos labirintos de sua mente
e se desprendem
dessa corrente chamada humanidade.
Tais indivíduos são loucos ?
mesmo irrelevantes,
grãos de areia perdidos, mesmo poucos,
estes fazem a diferença,
da notoriedade se vestem
e após a morte se divertem com tão grande afamação,
pois se durante a vida eram loucos,
no pós morte definiram os padrões
que sistematicamente movimentam nossa nação.
Os dias vem sem demora,
vão- se os meses, os anos,
as minhas horas.
Vão- se os risos, os lamentos,
os prejuízos,
vão- se as dores, os amores,
as ilusões,
o tempo de agora.
Vai- se o sofrimento,
o tormento.
Vai- se tudo, até mesmo a vida,
pois finita, breve
e contida,
dá lugar a uma eternidade,
na qual a saudade
é a melhor sorte.
Foi- se tudo,
agora vem a morte.