Don Herold
O trabalho é a coisa mais importante do mundo. Por isso, devemos sempre deixar um pouco para o dia seguinte.
INSTANTES
Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido; na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida. Claro que tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feito a vida: só de momentos – não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia à parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um paraquedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.
Nota: Trecho adaptado do poema original, que se chama I'd Pick More Daisies (Eu colheria mais margaridas, em tradução literal). Essa versão adaptada do poema, intitulada Instantes, costuma ser erroneamente atribuída a Jorge Luis Borges e Nadine Stair.
...MaisEu colheria mais margaridas
É claro que não se pode desfritar um ovo, mas não há nenhuma lei que proíba pensar no assunto.
Se eu pudesse recomeçar minha vida, tentaria cometer mais erros. Eu relaxaria. Seria mais bobo do que fui nesta viagem. Sei de poucas coisas que eu levaria a sério. Eu seria menos higiênico. Iria a mais lugares. Escalaria montanhas e nadaria em mais rios. Tomaria mais sorvetes e comeria menos cereais.
Teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Sabe, eu fui um desses sujeitos que vivem com prudência e sanidade, hora após hora, dia após dia. Ah, eu tive meus momentos! Mas, se eu pudesse fazer tudo de novo, teria mais desses momentos – muito mais. Nunca vou a lugar nenhum sem um termômetro, uma bolsa de água quente, uma capa de chuva e um paraquedas. Se pudesse fazer tudo de novo, viajaria com menos bagagem.
Talvez seja tarde demais para um cachorro velho desaprender os velhos truques, mas talvez um conselho de alguém insensato seja benéfico para uma geração futura. Eu posso ajudá-los a cair em algumas das armadilhas que eu evitei.
Se eu pudesse recomeçar minha vida, daria menos atenção às pessoas que pregam o esforço contínuo. Neste mundo de especialização, nós temos, naturalmente, uma superabundância de indivíduos que gritam conosco para levarmos a sério sua própria especialidade. Dizem-nos que temos que aprender Latim ou História, senão, seremos desgraçados, arruinados, reprovados e fracassados.
Depois de uns doze ou mais desses protagonistas terem exercido sua ação sobre uma mente jovem, é provável que eles o deixem com sérias dificuldades para a vida. Queria que eles tivessem me convencido de que Latim e História eram divertidos.
Procuraria mais professores que incentivassem o relaxamento e a diversão. Felizmente, tive alguns assim, e acho que foram eles que impediram que a minha vida fosse muito pior. Foi com eles que aprendi a colher as poucas e míseras margaridas que colhi pelo caminho ingrato da vida.
Se eu pudesse recomeçar minha vida, começaria a andar descalço desde o começo da primavera e continuaria até o fim do outono. Mataria aula mais vezes, jogaria mais bolinhas de papel nos professores. Teria mais cachorros. Iria para a cama mais tarde. Teria mais namoradas.
Pescaria mais. Iria mais ao circo. Iria a mais bailes. Andaria em mais carrosséis. Seria despreocupado enquanto eu pudesse, ou, pelo menos, até ter alguma preocupação – em vez de me preocupar com antecedência.
A seriedade provoca mais erros do que a alegria. Os atritos da vida familiar acontecem, em geral, mais nos momentos de grande seriedade do que nos momentos de alegria. Imagine quão melhor seria se as nações – para ilustrar meu ponto –, em vez de declararem guerras, declarassem festivais internacionais!
G. K. Chesterton disse, certa vez: “Uma característica dos grandes santos é seu poder de leveza. Os anjos conseguem voar porque dão pouca importância a si mesmos. (…) A gente "se fixa" numa espécie de seriedade egoísta; mas é preciso erguer-se para um alegre esquecimento de si mesmo. Um homem "se afunda" num escritório marrom; mas ele tenta alcançar um céu azul.”
Num mundo em que todos parecem obcecados pela gravidade da situação, eu me levantaria para glorificar a leveza da situação. Pois eu concordo com Will Durant que “a alegria é mais sábia do que a sabedoria”.
Mas duvido que eu cause muito dano com a minha crença. A oposição é bem forte. Há muita gente séria tentando fazer com que todo o resto do mundo fique sério também.