Diego Engenho Novo
Por muito tempo, esperei as melhores ondas pra entrar no mar. As melhores palavras pra acreditar, o melhor momento pra agir, a melhor desculpa pra fugir. Por muito tempo, esperei a verdade para oferecê-la em troca, esperei o silêncio para dizer, esperei a calma para guarda-la. Por muito tempo esperei primeiro ser amado para depois amar, esperei que fosse eterno para me entregar, esperei por tempo demais para ser feliz.
O pescador não exige que o mar o reconheça, Noah, embora só encontre seu próprio sentido diante de suas ondas. Não pela sensação de ser pequeno, nem pela necessidade do que é alimento, tampouco o desafio de resistir: o pescador olha para o mar porque entende que faz parte daquilo e aquele, se preenche de sentido com parte de si.
O amor virá quando estivermos prontos para aquecê-lo, quando tivermos alinhavadas as costuras de nossos aprendizados, quando formos mais inteiros que sozinhos. Há dias, entre as noites, em que penso que você se perdeu na longa jornada da vida até mim. Você já amou tanto alguém a ponto de preferi-lo liberto? Estar livre é se perder. Prefiro que você se perca de mim a te perder por inteiro.
Não aceitava a ansiedade que queriam lhe dar de regalo. Regalo bom é presente. É quem diz pra gente dormir quando tem sono, sorrir quando tem graça, chorar quando está doendo. Presente mesmo é quem nos puxa de volta para o agora, quem não nos projeta para lugar nenhum, quem gosta do que a gente já é e não do que a gente pode ser.
Ame quem te abre o peito como duas asas, quem te liberta com um afago, quem te impulsiona, segurando firme as suas mãos. Ame quem te admira, mas ainda é franco diante de suas falhas, ame quem também é verdadeiro sobre seus próprios defeitos. Ame quem também adora aprender contigo, lendo tuas linhas como um sábio se debruça sobre um antigo livro raro.
Ama e ama sem medo nenhum. O amor encarrega-se do resto, busca o sentido, entrega os motivos, guarda o consolo, assopra as feridas. Ama, que nós só somos memória quando contados e repetidos pelos lábios tranquilos de alguém que também nos amou.
Ame quem te protege sem dizer uma palavra, quem divide contigo os medos, mas também as conquistas. Ame quem te sonha por inteiro.
Da dor que você partiu, para o vazio que sente agora, brotará o mais puro dos ritmos involuntários, embanhecido de coragem, uníssono da verdade, ecoando o som indubitável e inconfundível de um amor que valha.
E se der errado? Deu ué. Mas antes, deu certo durante o tempo que foi bom. E se eu me ferir? E se eu me perder? E se. É a dúvida que faz a gente arriscar. É ela que rega abundantemente os nossos corações de espontaneidade, de verdade, de memórias em cores vivas, de vida. Bonito é viver sem dívidas consigo mesmo.
Sabiam que nem toda distância precisa ser saudade. Que nem toda ausência precisa ser solidão. Que todo o amor que tinham ainda estava ali, litorâneo por todos os lados, margeando suas distâncias, devolvendo-os para o centro de si. Pensava nele como um país distante onde gostaria de ter nascido, para o qual sentia que, embora jamais fosse voltar, sempre estaria ligado. Em outro tempo, em outra vida, vai ver que um foi casa do outro.
Justo nos momentos em que parecemos mais perdidos é que estamos descobrindo o verdadeiro caminho e nossa força inata para trilhá-lo.
Você é forte, todo o resto é só a mão do costume sobre o seu ombro. Você é forte, tudo além é só medo do que ainda é desconhecido. Você é forte, ainda que ache que não precise ser. Você é mais forte e maior do que consegue medir em sua sombra. Não é preciso ir tão longe para entender isso. A verdade não pode ser comprada, ela pede para ser colhida.
E assim, te deixando ir, também me vou. Sigo buscando aquela, que como eu, ame o voo, e não o chegar. Não mudarei a minha rota, só sigo fazendo o que sei de melhor: continuar. Até que um dia, alguém levemente comece a me acompanhar. Até que um dia eu reencontre alguém, de um outro tempo. Alguém que voltou para também me amar e ser amado. Alguém que voltou para também me libertar.
O distanciamento no amor acontece nas pequenas coisas que deixamos de fazer e dizer, nos consecutivos desencontros, nas noites mal dormidas. O amor se vai de mãos dadas com a admiração. Já um amor em distância física, é alimentado por pequenas delicadezas, por todo e qualquer sintoma da vontade de proximidade. A dificuldade nos ensina a valorizar quem não está por perto, isto é antigo e certo. Ter alguém ao alcance do braço e do abraço, nos lança ao risco de nos acostumarmos.
As respostas vêm com jeito, mas principalmente vêm porque a gente se abre pra elas. É aí que o empecilho vira estímulo, a irritação vira bom humor e o insolucionável vai ficando miúdo, miúdo até poder ser contornado, até que a gente possa digerir.
Ninguém é responsável se não nós, pelo que aceitamos, pelo que escolhemos, pelo que preferimos acreditar, pelas verdades que preferimos adiar. Ninguém é responsável se não nós mesmos, por entrar e sair elegantemente da vida dos outros carregando os nossos próprios sonhos e pagando pelos excessos da gente.
Não importa o que você fantasiou. No mundo real somos só nós carregando nossos próprios ossos, pele e medos.
Um dia o medo passa; os olhares que te olham de fora cegam; as opiniões que te acompanham, calam-se; e tudo o que lhe restará é a sombra remanescente das escolhas que fez.
Até mesmo as montanhas se movem, se transformam em outra coisa, desfazendo-se em migalhas e lançando-se ao vento. Até mesmo os rios mudam seu curso na lentidão dos anos, tornando-se um rio diferente um segundo após o outro, insistentemente. A transformação só é impossível até nós descobrirmos que ela não o é. A montanha é sua mente, o rio, seu coração. Mova-se na direção que quiser.