Di Porfírio
A pé.
Cometi erros irreparaveis
Arruinei castelos inquebraveis
Destruí laços intangíveis
Derrubei conceitos em todos os níveis.
Inventei universos, fantasiei com eles
Escreví versos, me animei com eles
Lí historias, aventurei com heróis
Desmatei jardins, queimei girassóis.
Tentei falar, nada parecia concreto
Tentei ouvir, nada parecia correto
Tentei cantar, minha voz era rouca
Tentei pensar, minha idéia era pouca
Tentei chorar, as lágrimas eram ácidas
Tentei lutar, mas a guerra era plácida
Tentei esquecer, mas já era tarde demais
Tentei corrigir, mas já era tarde demais
Escolhí fugir pra longe,
Uma quase morte
P'ra arriscar a sorte, ver se era forte
Ainda não sei "pra onde".
Fiz uma mala pequena, poucas camisetas
Um violão, duas ou três palhetas
Um caderno em branco, um lápis, duas canetas
Um alfabeto enorme com mais de 30 letras
Vou pra lá, onde a estrada se afunila
Viver uma vida nova, percorrer uma trilha
Quem sabe encontro uma ilha
Onde instalo morada e me visto de eremita.
Cometí erros, sou humano
Aliás, sou um animal
Animalesco, arabesco
Sem forma definida,
Sou uma fera assistida
Numa jaula de barras
Faminto por sonhos inúteis
Trancado em historias translúcidas
Solfejando uma marcha fúnebre
Contemplando minha presença lúgubre.
E de todas as escolhas
E de tantas tentativas em vão
De tantos riscos e letras em folhas
Escolho a singularidade à pluralidade
Abraço com firmeza a minha amiga Solidão.
Mudaria a rotação do universo pra ficar eternamente na direção da sua voz
Ficaria surdo pela eternidade, pra ouvir o seu canto, que é a unica coisa que meu coração escuta.
Amaldiçoo o perverso
Que ao inverso do controverso;
Ao anverso do tangiverso;
Imerso em verso;
Colocou em seus olhos
O brilho do universo.
Me calo, mas grito em silêncio
Mudo o foco, mas o grito ainda arde meus ouvidos
Porém, me perco no universo dos seus olhos
Sua imagem queima minhas retinas
Seu sorriso ressuscita minha alma
Onde você estava? Fazendo outros milagres?