Denilson P. Silva
AS CINZAS DOS NOSSOS OSSOS
Escondi no tempo os meus sonhos
para que ele,amiúde, se transmudasse
na medida exata de minhas rugas
e percorrendo rios e montanhas
que escondo dentro de mim
soubesse de cada segredo que me prende.
O mundo está cheio dos meus passos
há tanto tanto tempo...
Ainda respiro o ar ameno da doce madrugada
a minha juventude: amante lasciva
percorrendo preguiçosa todo o meu espaço.
Aguardo a chuva branda para obter
a minha última colheita transformada:
um abraço frouxo de um amigo
um sorriso óbvio da amante
a paz serena nos olhos dos filhos
tudo que o tempo traz
e depois espalha: as cinzas dos nossos ossos
recriando outras vidas
PROFUNDO
Um olhar azul
Mais profundo que o mar
Um olhar profundo
mais que o mar azul
Azul; o olhar
um mar mais que profundo
Profundo o olhar
mais que o azul do mar
Olhar um mar
o azul mais que profundo
Um olhar
Mais profundo que o azul do mundo
A ÁGUIA
Pelos ares
deste lugar inóspito
baila majestosa
uma águia
deslizando pelo vento
imperturbável
Bela e majestosa
- a águia -
é mais que um pingente
a águia é o parópio céu
SOB OS OLHOS DE CONCEIÇÃO
Conceição ao me ver...sorriu
cerrou os olhos e rezou por mim
Foi Conceição quem primeiro
me viu feto e soube meu destino
Conceição me abrigou em seu abraço
e soprou em mim um beijo
bem antes que minha mãe; ela me amou
e Conceição se fez meu amor primeiro
Conceição cuidou para eu que não me perdesse
e ela foi sempre minha estrela
mesmo que estrela no céu não tivesse
E sob os olhos de Conceição
em cada tarde de Dezembro
novos sonhos surgiam em meu coração atento
Conceição me entregou o destino
e nele faço poesias
Quando eu nasci
já recitava Drumonnd
rezando à Conceição
A ÁGUIA
Pelos ares
deste lugar inóspito
baila majestosa
uma águia
deslizando pelo vento
imperturbável
Bela e majestosa
- a águia -
é mais que um pingente
a águia é o próprio céu
A palavra sem espinho
A palavra sem espinho
abre mansa o seu caminho
sem a casca dura da perversidade
ela acarícia a alma e brota
suas raízes sem esporas
A palavra sem espinho
entra pelos olhos e permanece
juntando troncos correntes
aprisionando o sentimento
mas não o deflora
A palavra sem espinho
cheira a flor do campo e frutas cítricas
e sua tez suave umedece a face
daqueles que a ouvem perto
daqueles que a leem longe
A palavra sem espinho
reivindica entrelaça absorve
conta a minha e a sua história
e quando arranha a pele fina
é para dizer que aquilo que começa
um dia termina
A palavra sem espinho
revigora nos lábios da criança
que titubeia mas a pronuncia
permeando-a de simplicidade
e sutil melodia