David Rocha
Quero pecar sempre pelo excesso, nunca pela inércia,
De pequena basta a vida,
Que nunca é maior que nossos sonhos.
Vestido Rasgado
Eu olhava apenas o céu,
Quando, sem mais nem menos, eu estava nele.
O peito que ardia era neste momento também o que acalantava,
Portanto equilibrei e aliviei meus pesos em pleno ar.
Flutuei de pleno solo me sentindo como um corpo celeste,
De repente não sabia mais o que era rastro e lastro,
Embora ainda me lembrava, a muito custo, do meu passado,
Mesmo assim foi irresistível adejar novamente.
As nuvens brancas têm as cores dos seus dentes quando sorri,
O céu parece ter o mesmo tamanho de seu coração,
O vento me acaricia não tão suaves como suas mãos,
Mas voei tão alto que senti o sol me queimar, até que morri.
Foi então que acordei na mesma cama que fazia parte do céu,
Mas faltava o que dava a tonalidade de azul,
Pois o que restou foi apenas um pedaço do tecido,
Pedaço este que fiz questão de ficar, mas não no intuito de apenas relembrar,
Porém de provar aos outros que o céu usa um vestido azul rasgado.
Sacrifício
Nunca imaginei que chegaria este dia,
Carregando minha alma até atingir este fim,
Nunca aspirei por coisa parecida,
Descobri apenas hoje que de repente tudo mudou.
Porém não tão de repente, mas chegou sem avisos,
Veio sem esperanças, transformou o que restou em algo vazio e lamentável,
Sentimento que residia em meu peito não decidirá mais quem eu sou,
É tão estranho senti essa liberdade, é como algo de mim que se foi.
Espero agora que eu consiga encontrar novos caminhos,
E por estes caminhos eu a encontre novamente,
Apenas para ter a certeza que tudo foi em vão,
Na expectativa de mais nada acontecer.
Fui o que não sou hoje,
Fui o que não mais reconheço, apenas o critico.
Mesmo sabendo que não fui eu que me permiti este recomeço,
Pois sempre foi e sempre será o tempo que sacrifiquei.
Condenado
Que idiota eu sou, que pude te rejeitar para depois ser rejeitado por ti.
Mas que desgraçado, pois fui a ti para machucar e acabei machucado.
Que ignorante e imbecil, pois para a pessoa mais importante, não soube lhe dar amor.
Rastejei pelas sombras, onde as luzes não chegam, com a lembrança do que fiz.
Aos sons das ruas noturnas de uma cidade urbana que diz:
- Não basta ser triste o fim, tem a lição de aprender a lidar com a dor,
Em ritmo dos meus dos passos rasos que dançam cansados.
Mas as feridas jamais cicatrizam no meu velho delírio,
O vento traz o perfume que um dia foi do meu amor e do meu ciúme,
Fios de cabelos balançando à prateada luz no cume, como outrora.
Dai eu corro por que de ti lembrei e por querer te esquecer.
Sou tolo que não vê esperança no fogo da estrada,
Por mais quente que ela que seja, minha alma sombria jamais será tocada.
Corro da luz sabendo que tudo não será mais como antes.
O medo da luz, o pavor pelo fogo e o desespero das fagulhas das lembranças fazem-me correr de uma nova aurora e andar escondido na madrugada.
Euforia
Não deveria ser, não queria que fosse assim,
Foi por minha incapacidade de compreensão,
Queria que você se sentisse bem, queria lhe tirar as dores,
Assim como você sorria pra mim e todos meus medos morriam.
Não queria que... a vida não é justa,
A merda das escolhas erradas que para sempre carregará
Não dá tempo para maturidade, não dá tempo para avaliar
Ela cobra o que não te oferece.
Tudo que desejo, por Deus como eu anseio,
Faze-lhe o bem como você me fez,
Mas, como uma espécie de sina ou destino,
Acabo sempre escolhendo a dor.
Sempre retorno a esta velha amiga,
Ela não me entende, eu também não a entendo,
Mas ela sempre ficou ao lado e nunca me abandonou,
Não é confortável estar com ela, mas sua onipresença em atrai.
Desculpe mais uma vez, sei que eu não deveria,
Mas acaba que é mais forte que eu, maior que o mundo.
E sinto que não me abandonará, estará sempre comigo,
Assim como a sombra que aparece diante a luz.
Interjeições Noturna
Sempre mirei a lua, mas se de fato errá-la poderei acertar uma estrela. Porém, ainda que não atinja-la, eu sei que, mesmo no escuro, sempre mirei o céu.
Poema de Arrependimento
Se eu fosse jovem, não enterraria meus sonhos correntes,
Seguiria mais o coração, seria mais intuitivo,
E tentaria o que sempre quis e talvez poderia morrer feliz
Ou talvez veria ela sorrir novamente ou, ao menos, a veria.
Meu futuro é nada mais que passado que acabou,
E o presente é a lembrança do que passou.
Outras vidas, outras pessoas, outros tempos
Perdidos nestes versos traçados.
A solidão e as lembranças do que fomos são o que me restaram,
Neste quarto abafado, empoeirado e vazio.
Queria voltar no tempo para vê-la, se possível, sorrindo.
Bendito tempo que nos entrega, maldita as cores que nos distrai e pune.
O sol e lua, até eles se cruzam,
Eu não sabia o que era importante,
Precisei estar onde estou,
Precisei do frio para saber o que era calor.
Das mentiras que carreguei e acreditei,
Da coragem que não tive, dos pensamentos, dos contratempos,
Da vida e o meio, da morte e o fim,
Agora já era, não existe mais.
Minhas vistas escurecem quando tudo ficou mais claro.
Acabou tudo tão rápido, apesar dos anos.
Um sorriso, nem mais um dia, nem mais uma noite.
Buraco Negro
Não se trata de arrependimento,
É além do que voltar no tempo.
É a vida com essa programação desconhecida
Que muitas das vezes não há saída,
E quando há, tem impedimentos, sem sobressaída.
E as sombras das lembranças permanecem,
Mesmo depois de muito tempo.
Juntamente os sentimentos confusos são libertados:
Naquele instante, atingi o universo dentro da Terra,
Segui as estrelas por todo o espaço em período curto.
Foi o meu tempo mais eterno, é a minha razão de viver,
Mas a realidade deixou tudo tão impossível depois de tudo.
Não se trata de voltar no tempo, o que vivi não quero reverter.
Isto, por mais que seja a minha memória mais triste, é também a mais viva,
Queria que na verdade que fosse loop temporal, que no infinito se repetisse
Da mesma forma que se repete em minha mente.
Obrigado, Vininha!
Se eu dissesse que eu amei você este tempo todo,
E que me livrei deste peso que era sufocante.
Quando soube do casamento e da gravidez,
Deu-me um alívio, pois finalmente não era comigo,
Como foi sempre nos meus sonhos.
Se eu dissesse que nos meus sonhos você está presente,
Mas não você de agora, mas de outrora.
Você e todo nosso espetáculo a dois na alma e na cama,
Se eu dissesse o que realmente deveria ter dito,
Eu sei que agora não faria sentido.
Sinto aqueles dias por todos esses anos,
Seja dormindo, seja acordado.
O universo era muito grande para o que aconteceu,
De todo resto de que não se tem importância.
Mas não de todo mal, devido aos nossos erros e incompatibilidade,
Finalmente entendo o Soneto de Fidelidade,
Creio que é sobre isso: sobre esse sentimento que trouxe felicidade
E posteriormente perdurou, mesmo finalizada,
Transformando-se em devoção solitária.
Saudade Viva
Lembrei de um tempo, um tempo distante
Já com validade vencida, sem conservantes,
Com seu cheiro podre, sufocante, apresentou-se, em meu peito, seu ar asfixiante
Cambaleei tentando passos à diante, depois disto tudo, a verdade foi delirante.
Os tremores do meu corpo, os pensamentos e coração acelerados,
O juízo final me visita sem ao menos avisar.
Vestígios de uma época incompreensível,
O tempo percorreu em outro sentido até mudar para o mesmo destino.
Lembranças de uma outra vida ou coisa parecida,
Não sou eu, era. Fui, mas não serei.
As imagens da minha cabeça não se deixam apagar
As recordações outrora esquecidas.
Daí me deito no colo de Nina Simone
Ou mergulho nos agudos de Janis Joplin
E morro mais uma vez, morro quanto mais for necessário.
Até não mais aguentar ou até passar.
Não compreendo o tempo, pois se ele passa e modifica as coisas,
Porque este sentimento sempre fica.
Quando parece que a dor não mais existe, retorna ainda mais forte,
Grita na alma e atinge não só a mim, como também a todos ao meu redor.
Sobre a Lua
Recentemente me peguei assistindo a um filme que jamais saberia apreciá-lo,
A beleza de sua história, em outros tempos, a desprezaria.
Tinha meus gostos atrelados a situação da qual me impus,
Não que eu estava enganado, apenas fui omisso para vida.
Então, foi olhando para você libertando a sua alma,
Apesar das marcas de cicatrizes em seu corpo,
Cingiu de amor, esperança e alegria,
Buscou a luz para refletir aos outros que se encontravam nas trevas.
Outrora, minhas noites de tão escuras, fizeram-me esquecer da lua,
Que continuava seu contínuo e incansável trabalho, mesmo com o céu fechado.
Agradeço por isto, por oferecer, através da luz, a cura por sua bondosa alma.
E recrimino as nuvens por hoje não me deixarem devotá-la.
Desejo que brilhe mesmo que a peça ou a convença do contrário.
Quero que continue, apesar de sentir que não.
Queria ter forças para sair da noite e aceitar finalmente o dia,
Mas enquanto eu tiver a lua, eu sei que me bastaria.
Ciclo de desperdício
Se o sopro do vento da vida esvair-se,
Se a chama do desejo apagar-se,
Se o contorno da tua alma deteriorar-se,
Se a lembrança de ti morresse.
Nada do que foi será,
Como são as ondas fadadas a morrerem naturalmente na praia,
Mas que dão outros sentidos a outros seres,
Como as tartarugas, que através do fim daquele criam possibilidades.
Isto não é sobre “se uma porta que se fecha, abre-se outra”,
Pois nem sequer resume de forma minimamente condizente.
É sobre o fim de algo que não deveria morrer,
Que injustamente, por força maior, acaba.
Às vezes nem se iniciam, morrem nas intenções.
A natureza faz sempre o seu processo cruel, insensato e arrogante
Explicitando que não existe vontade maior que a sua,
A onipotência da sua natureza selvagem.
Não posso reclamar da sua franqueza,
Mas como adaptar um coração que nasceu para amar
Acreditar que nesse processo imperativo possa o inspirar
Para sobreviver neste ambiente hostil
Que pune e o substitui sem qualquer pudor?
Entretanto, apesar da tragédia, existe uma condição de misericórdia,
Por que a dor do fracasso desaparece juntamente com sujeito
Ou se torna mais uma regra biológica,
Direcionando um alívio libertador para um novo ser.
A Dor
O sussurro no vento invadiu meus pensamentos,
Destes processamentos desencadearam-me para a solidão.
Logo, na escuridão em meu corpo,
O murmurejo encontra abrigo
No vazio da alma que vai até o coração.
De repente o brilho da vida se extingue,
Nem o alívio do humor mais existe,
É consternação além do simples sofrimento
Que não se detém apenas com tratamento.
A dor precisa ser gritada,
A dor precisa ser compreendida,
A dor precisa ser aliviada,
A dor precisa ser dividida.
Mas ninguém entende, a dor é a mim mesmo
Busco ajuda, procuro companhia,
Mas não há quem entenda o que sinto,
Porque eu não consigo parar de sentir.
Na natureza do desespero, existe o abismo
Que não é medido pela traição de Chico
Ou por likes e compartilhamento,
Pois destrói o autocontrole e o comprometimento
E aniquila os sonhos que se reencarnam em tormento.
No mais mágicos dos dias errantes modernos
Quando o paraíso se constrói nas telas do celular,
Disperso-me deste teatro de alegrias que ignoram a realidade,
E sucumbo de vez desta fantasia me livrando da vida e da dor.
Seu Brilho, Meu Encantamento
Nesses dias calmos e vazio é quando aumenta o desejo de amar-te,
Logo vêm-me as lembranças dos poucos dias que estive a te beijar
Nas suas costas, no seu pescoço, no seu rosto, na sua barriga
No teu sorriso, e seu jeito com as suas provocações que me invadiram a minha vida.
Se todos os dias fossem como esses dias, eu não teria futuro,
Pois não desejaria mais nada além destes sentimentos que conjecturo,
Devido aos seus carinhos, do seu amor e sua força de mulher,
Divirto-me imaginando coisas para quando um dia puder.
Solitariamente preparo meu café e sento-me à mesa,
Porém vejo você mesmo ausente conversando comigo emitindo sua beleza,
Não existe comercial de margarina que transmita essa leveza,
Para os dias que sonho que sua alma encontre de novo a minha, ressoando pureza.
Com as suas suaves mãos em meu corpo, suas doces palavras em minha mente,
O suor do calor da sua dança e seu ardente desejo frequente
Não me fazem ver o meu futuro sem você nele presente.
Poema de Sinceridade
O céu negro traz consigo nuvens escuras,
Com isto as estrelas ficam escondidas e também não se vê a luz da lua.
As lágrimas celestiais caem para acompanhar o penar da solidão
Pelo tempo perdido de mais um dia na escuridão.
Não é fácil encontrar você em outro corpo,
Mais uma tentativa inútil, mais um vazio dentro de mim.
Quem me dera agora ser o monstro que eu um dia imaginei ser,
Por cogitar isto agora eu sou o que perdi
.
Meu fracasso é buscar o que perdi pelo porquê de sempre,
Devido a mesma ideia idiota de que contigo fui feliz.
Busco na penumbra do presente alguma luz do passado
Que na verdade não foi tão maravilhoso assim.
Hoje respeito mais à vontade natural das coisas
E os fenômenos que ou me acompanham, ou eu acompanho-os,
Porém eu carrego uma espada cega e um escudo destruído
De tantas lutas, nessas noites, para que elas acabassem.
Para depois, quem sabe, no novo brilho da aurora,
Criem novas sinas e com novas aspirações,
Mas que seja sem a sua essência no meio, pois deve ser outra,
Para que me engane mais uma vez que com a felicidade.
A Dor Escondida
A aurora esconde, no brilho do horizonte,
O maior dos segredos e dos mais importantes,
Mas ainda sob a cama, crio diversos pensamentos distantes,
Aonde entro no modo de entretenimento e solidarizo-me quase de forma permanente.
As imagens são agradáveis, coloridas e belas, repletas de vida,
Sinto como quem finalmente encontrou a paz para se tornar mais completo,
Embora sei que meu espírito não tem essa capacidade nem de perto,
Pois logo mais sentirei, ainda viva, a ferida que me persegue nesta estrada perdida.
Deixo o sol tocar a minha pele, o vento me abraçar,
Porém a sombra adiante me assombra e sufoca, pois me persegue como fosse sua caça,
Quando tento compreender o que nunca consegui alcançar,
Abatido pelos extremos, deixo-me arrastar com toda sua força.
A diversidade do dia me parece falso agora,
Tudo soa artificial e irreal, tento alcançar o conhecimento para saber o porquê desta droga,
Entretanto os meus sentidos já não mais me obedecem como outrora,
E me perco-me em lembranças que não lembrara, memórias já não mais existiam por hora.
Difícil achar respostas para vida, aceitar as coisas como elas são,
Mas uma coisa é certa, não importa a felicidade e ter uma vida sã
Quando casualmente acabo encontrando a mesma dor escondida no coração.
Há Muita Dor, Mas Há Mais Amor
Sorrateiramente memórias de infância me invadem e me fazem descumprir o cotidiano:
Na lembrança, apresenta-se uma figura aterrorizante que representa um clichê de tirano,
Do meu quarto, sinto o odor do cachimbo juntamente com o desprezo nos seus olhos exalando ódio,
Mas dar para ouvir da janela, apesar da tarde taciturna, as vozes das outras crianças brincando.
Do terceiro andar, eu fantasio-me brincando com elas no térreo, pois nem concebo a ideia se eu devo ir,
No instinto, aguardo o déspota desacordar ou sair de casa, para que possa me divertir.
De repente o interfone toca, ele atende, após uns berros, sai depressa pelas escadas, entra no carro e liberta-me.
Fiz meus afazeres escolares, minhas irmãs estão dormindo, minha mãe no trabalho e agora desobedecer é o mesmo que viver.
Viver é muito melhor que sonhar e me entrego de corpo e alma as brincadeiras, com minha pipa e meu pião,
Já estou todo sujo de terra como os amigos, ganhei pipas, não tenho mais o pião e acendi a chama do meu coração.
Minha a alma é invadida pela alegria de ser uma criança, sinto que venci o mau,
Porém subitamente escuto a cavalaria do inferno através do escape velho e barulhento.
Corro mais rápido que na brincadeira do pega-pega, subo as escadas para que não perceba que estive brincando,
Entro direto no banheiro, tomo banho e começo a chorar porque sei o que está acontecendo,
Você entra, espera eu terminar o banho e me surra com a mangueira que você usou para lavar o automóvel,
E sofro mais uma das infinitas violências do escárnio que um dia eu chamei de pai.
Por estes episódios, passei a minha vida crendo que não deveria ser pai, pois às vezes me deparei reagindo igual como inclemente.
Nas diversas escolhas, este pensamento sempre permaneceu, por achar que um dia eu seria como ele.
Arrependo-me profundamente, porque as opções que fiz anteriormente me castigaram a alma e me amaldiçoou até recentemente.
Mesmo que tardiamente, ser pai foi a melhor ventura que me aconteceu,
A importância de sê-lo é o mesmo que reconhecer a mudança e despejar a esperança na posterioridade,
Embora, o mais especial pra mim foi descobrir, mesmo com toda dor que possuo, o amor que ainda sou capaz de dar e receber.