Dari Souza
"Alcaçuz agora é prova viva da morte, sangue, gritos e um vazio de almas. Do lado de dentro é estrago no teto, é a maldade nos olhos, crueldade na mente, fogueira de cabeças, salada de corpos, rastro de monstruosidade pelo chão, pelas paredes, por todo lugar. Do lado de fora o desespero das famílias, a inquietação da mídia, a busca de controle da polícia, a cobrança da sociedade, as opiniões divididas. Os barulhos que vem de lá variam entre tiros, choro, angústia, revolta, dor. Ninguém sabe até onde vai a sede de vingança, briga, matança.
E já se foram vinte e seis vidas ceifadas, vinte e seis cabeças decepadas, vinte e seis corpos esquartejados, vinte e seis penas que não serão cumpridas como deveria, vinte e seis histórias, vinte e seis famílias, vinte e seis criminosos, vinte e seis mortos em cenas de terror, carnificina, no inferno na terra que Alcaçuz manifesta."
Se eu fosse um homem, mais seguro seria.
Se fosse homem não teria medo do que a língua do povo diria.
Se fosse homem seria mais sol.
Tocaria o paraíso por mais pecado que tenha cometido.
Abraçaria o mundo sem de ser...
Agredida
Amarrada
Exposta
Maltratada
Humilhada
Assediada
Queimada
ESTUPRADA
Morta e jogada na vala
Baleada
Sufocada
Esfaqueada
Chutada, traída, desprezada.
Abandonada feito lixo na estrada.
E depois de tudo ainda ouvir que sou CULPADA.
Que não fui eu que apertou o gatilho, mas é minha culpa ter recebido a bala.
É minha culpa porque quando tive medo, gritei; também é minha culpa ter ficado calada.
Não fui eu que planejei ser morta na frente dos meus filhos, mas fui eu que me apaixonei por um canalha. Culpada.
Então vamos e convenhamos, com uma saia dessas como não ser assediada?
Com esse copo de bebida na mão pediu pra ser estuprada.
Aumentou a voz para o marido e não quer apanhar na cara?! Fique calada! É tudo culpa sua. Mais uma vez, culpada.
Porque não sou um cara.
Não tenho barba
Nem tanta força
Nem as piadas constrangedoras.
E quando penso que caço, na verdade sou presa fácil do macho viril e sagaz
De uma sociedade inteira que julga, cospe e amaldiçoa.
Desrespeita, escarnece e não perdoa, seja menina, mulher ou moça é sempre CULPADA
Nunca tem razão
Se nasceste fêmea, é digna apenas de impureza, incompreensão e opressão.