Danilo Passos
Expectativas são tão engraçadas e imprevisíveis, pois, você perde tanto tempo adivinhando como sua vida deve ser e almejando maneiras para torná-la de acordo com os seus sonhos, porém, você não tem como saber até o dia em que abrir os olhos e ver que se relaxar e deixar o inesperado acontecer, pode ser algo ainda mais bonito do que você jamais imaginou. Jamais.
Há quem diga... (conto)
Há quem diga que amar simplesmente acontece, sem nenhuma interrupção. Rhuan Marcondes, homem de nome elegante, que também se fissurava à mesma denominação, não se encaixaria no grupo de opinadores românticos. Rhuan se submetia a ser reacional, objetivo, planejador. De fato, todos temos que ambiciar estas qualidades, se quisermos encontrar-nos em nossos sonhos. Sonhos necessitam de planejamento e este de objetivos. Neste impasse, Rhuan tornou-se um célebre, bem conceituado profissionalmente, visador de um futuro, mas meras qualidades não mascaram os defeitos.
Certo dia, quando retornava de seu trabalho, avistou em um outdoor uma sublime frase que se estampavacom as mais impreginantes letras, "Ah o amor... impossível não viver sem.", a frase compunha uma campanha publicitária de uma grife famosa. Rhuan, sem dispensar sua racionalidade que transbordava a todo instante, fechou vagarozamente o vidro de seu carro e não hesitou em soltar um leve grunhido, acompanhado de um sorriso escárnio. Para que sua mente não se aponderasse à uma convicção amorosa, como na frase, imediatamente ele abriu sua agenda virtual, que saltava pela tela de seu moderno celular e, preocupou-se em realizar seus próximos afazeres profissionais.
O desprezo por um sentimento único, era rotineiro, quando tratava-se de Rhuan Marcondes. Seus boêmios amigos o intitulavam como um "louco", os mais íntimos colegas de um mero coração "de pedra". Críticas voltadas à este âmbito, era como o cantar dos pássaros para o nosso protagonista.
Porém, como dissera Camões, "amor é fogo que arde sem se ver", surge na modesta vida deste personagem, uma linda donzela. Ela estampava um olhar negro que se perdia nos detalhes de seu rosto branco. Seus cabelos, cacheados, ofuscavam os raios solares quando de dia, e se pincelavam com a luz refletida da lua, em noites estreladas. A doce donzela, surgiu como uma cliente interessada nos brilhantes projetos arquitetônicos de Marcondes. Com sua simpatia e simplicidade, conseguiu marcar um jantar, de negócios, com o nosso protagonista. "Dom Rhuan é quase que sinônimo de encantador e arrazador de corações", dissera ela referindo-se a um personagem sedutor espanhol ao modesto coração de pedra, que não retrucou. Passado dias, Rhuan continuava com a sua ambição profissional, mas ela tornou-se diferentemente mudada. Sua agenda virtual de compromissos passou a estampar o nome da donzela dos cabelos cacheados e sua mente passou a processar detalhadamente o físico daquela doce mulher. Tornou-se rotineiro, a voz encantadora de sua simples cliente, pairando em seus ouvidos e o deixando fulminantemente extasiado. Sua êxtase, o levou ao ápice de seus sentimentos.
O nosso racionalista não hesitava em gastar com presentes e projetos que retirassem o brilho contente no olhar daquela moça. Rhuan afundou-se em filmes românticos e não enxergava os clichês que os roteiristas deixavam nas entrelinhas. Tornou-se emotivamente feliz e lisonjeadamente contente. Abriu mão do seu futuro e abiu as portas para um futuro ao lado daquela "aurora preciosa" como passou a defini-la. Perdeu projetos, afastou-se de amigos e neste impasse, ainda alegara sua racionalidade.
Noutro dia, quando passou novamente pelo outdoor, não fechou o vidro de seu carro, mas retirou de seu bolso uma brilhante caixa preta que protegia uma aliança indescritivelmente magnífica. Ajeitou o seu penteado e soltou um leve sorriso cintilante, depois, partiu para o restaurante no qual, fizera uma reserva para dois. Ao engatar com o seu automóvel, amoleceu as pedras que esculpiam o seu coração.
Há quem diga que amar simplesmente acontece, sem nenhuma interrupção.
Pediram modestamente para que eu exemplificasse os meus sentimentos íntimos. Hesitei, estampando um olhar sereno e dispensando os traços lineares de um sorriso que poderia estampar o meu rosto. Por alguns segundos, pareci-me com um manequim fitando um nada, por justamente, não ser um nada. Mas, esta reação que se formigava em meu rosto, não se assemelhava nem um pouco, com as reações que dançavam em meu íntimo, com as emoções que gritavam dentro de mim. Sentimentos, são tão peculiares, ora eles te elevam a um êxtase em que impulsiona ao ápice da felicidade, ora, eles te derrubam ao ponto mais profundo do seu bem-estar, fazendo-lhe, por um pequeno instante, sentir-se como um resto no meio dos restos. Esta é a verdadeira diversão de se ter sentimentos: tornar-se a mais bela pomba branca, quando sua felicidade reluzir abundantemente ou virar o amargo verme que necessita dos ardorosos restos para a sua sobrevivência, quando você se frustrar.
Pediram honestamente para que eu exemplificasse o que eu estava sentindo e, de uma fisionomia estática, abri um pequeno sorriso, mudei de assunto, indagando uma conversa sobre os temas mais engraçados da vida, enquanto fitava todas as belezas de um mundo afora da janela que estava próxima a mim.
Depois, descobri que tornou-se necessário maquiar as sensações gratificantes, ou seja, tudo que vivenciei, pois, no fim de tudo, você descobre que tudo foi tudo, e que sem esse tudo, você é um nada.
E não pode deixar esse nada te destruir, para tanto, você deve sorrir.