Danilo M. Martinho
Não encontrei respostas em festa, não vi propósitos em namoricos de uma noite, não sabia nem de quem gostar. Não tive beijos roubados em corredores de escola, no quintal ou nos fundos do prédio. (…) Não existiu ninguém disposto a viver o romance que um dia eu sonhei. Buscava algo maior do que podia, talvez, mas era o que queria. Querer amar assustou muita gente, compadeceu algumas outras, e conquistou raras. (…)
Fui tanta solidão que até achei que podia preenchê-la somente com desejos dos outros. (…)
A verdade é que nesses anos foi a solidão que me fez grande. Foi ela que me ensinou a distinguir o que chamava de amor, foi ela que me ensinou que era impossível fugir do que se sente, foi ela que me levou cada sofrimento distante de quem jamais me escutou, ou viveu ao meu lado. Foi ela que compartilhou os silêncios mais doídos longe dos amigos. Foi ela que me manteve aqui vivo por um romance. Só vejo isso hoje que finalmente amo em reciprocidade, que finalmente completei o vazio que criei tanto tempo atrás.
Por isso pinto este quadro. Para que os que passem por aqui saibam que a solidão não é eterna, é companhia até a felicidade chegar.
Relações que desafiam o tempo só podem ser construídas com amor. Para ficar bonito, grande e forte, é preciso doçura, paciência, caprichar daqui, consertar dali, plantar, regar, deixar pra trás o que não prestou. Não é ser feliz o tempo todo, não é esperar do outro mais do que ele pode dar, mas saber do que o coração de cada um pode oferecer. É respeitar o sonho do outro, porque sonho é coisa delicada. Não acredito em amor incondicional, mas naquele verdadeiro, que cede, respeita, entende, pacientemente espera, que vive. O que importa para cada um é a felicidade do outro. No cansaço, o conforto do colo. Nas diferenças, a tolerância. Nas vitórias, a cumplicidade do olhar. Na vida, companheiros.
A vida é feita de extremos, o resto é encontro.