Daniel Jonas
SPLEEN
Cemitério de todos os sóis
o mar, cinza
onde habita o beemote do tempo,
a grande baleia do oblívio
sob socalcos de aço,
na chapa recurva,
sucata de toda a metáfora.
Porquê dizê-lo?
Cansaço de o dizer…
O mar é uma maçada.
POÉTICA
Fechar a tampa do abrigo
e respirar
com serena convulsão
lançando o grande dirigível da escrita
depois retesar o arpão
e espremer o choco polvo
seus tentáculos tensos
na placa marmórea
ou na balança
é um negócio violento,
a testa escreve-se, um mundo progride,
decanta-se a bolha do nível,
esgaça-se a gaze
depois da fenomenologia dos petroleiros
a refinaria,
o guarda-nocturno de olhos
na trovoada e solidão
no monitor.
Trabalho e trabalho
para dar à luz um pai
na minha solidão de depauperado
arado que nada sulca
porque como um comboio a que faltaram carris
prévios ao meu arado são seus sulcos.
Sou um filho circular. Como um signo
zodiacal sou um filho circular, requer o que faço
aquilo em que me movo
que é aquilo em que me movo
o que faço e como fazê-lo
se não tenho já em que me mova? O que faço
é o que me fez.
Sou comboio e arado e um rodado
sem discos. Sem paralelo em círculos
rotunda tristeza propago
de vertiginosa incubação de vórtices
que ajudo a solidificar: outra vez a sólida
solidão: é fácil a primeira imagem do comboio:
insta à compaixão. E são pesados os bois
circulares que o meu arado
entontece, em vão o rodado
sem discos. Quanto pesarão
bois entontecidos? Como ser pai
quando se é filho?