Dandara Brito Figueredo
Nasci pra ser feliz. Clichê, eu sei, mas é isso mesmo. Simplesmente não tenho vocação e nem paciência pra tristeza. Que se exploda o mundo e suas expectativas sobre mim. Que se danem minhas próprias angustias, raivas e decepções. Que passem pela minha vida como o vento: Rápido e sem grandes estragos. Que minha alegria não dependa de terceiros e que, na ineficácia dos antigos, surjam novos motivos que me façam fechar os olhos e sonhar. Motivos estes que me estampem um sorriso bobo e que me devolvam a paz pro coração.
A verdade é que passamos a vida inteira tentando mudar pessoas. Pais tentam formar filhos, filhos tentam “abrir a cabeça” dos pais. Amigos e namorados então… São Ideias que conflitam, atitudes que irritam. Defeitos… humanos e seus infindáveis defeitos.
Todos sabem que para que um relacionamento, amoroso ou não, dê certo, muito precisa ser mudado. Muitos defeitos devem ser sanados… Mas sempre existe um porém.
Seria lindo e maravilhoso se pudéssemos, realmente, moldar pessoas ao nosso bel prazer. O problema é que nem todos os defeitos são, de fato, sanáveis.
Todos temos aquele defeito que é o centro de tudo. Que nos sustenta, faz parte de quem somos. Que é, além do nosso pior defeito, nossa maior qualidade.
Exemplificando, ponho-me no fogo ao dizer que sempre tive uma sede imensa por liberdade, e que nunca consegui abrir mão disso por ninguém. Não por falta de amor, e sim por falta de domínio. E, provavelmente, esse é o pior e o melhor em mim.
Defeitos insanáveis… Você com certeza já se deparou com algum deles. É aquilo que te faz querer arrancar os cabelos. É aquela tecla, já sem cor, de tão batida. Motivo de brigas, términos e cabelos brancos.
O que te disseram é que pessoas devem mudar. O que esqueceram de te dizer é que existem coisas no outro que precisam ser entendidas, aceitas ou, no mínimo, suportadas. Afinal, não existe nada mais complicado do que se relacionar com outro alguém que possui alma, visão e necessidades totalmente alheias as nossas próprias. E que são, necessariamente, a ele vitais.
O que? Você pensou que seria assim, tão fácil? Não. Não é. E, se serve de consolo, lembre-se que existem aqueles que um dia aceitaram ou aceitarão (Deus queira!) o desafio de suportar os seus defeitos insanáveis também. Aceite. Decisão. Isso é amar, isso é amor.
Por mais dura que você possa ser. Por mais independente que você, mulher, queria ser. Sempre haverá uma música, uma foto, um cheiro que terá o poder instantâneo de te arrancar um suspiro. Que te fará sentir, mesmo que apenas por uma fração de segundos, frágil. Boba. E talvez, apenas talvez, você queira o que não quer querer, ou pense em quem, ou o que, não quer pensar. É assim que funciona… Mulheres passam a vida inteira tentando estabelecer um equilíbrio interno entre a razão e a emoção. E, razão, por mais difícil que seja admitir, não é fácil administrar esse turbilhão de emoções, sentimentos e memórias que, às vezes, te pegam desprevenida no caminho para o trabalho, na fila do cinema, e que te tornam, por um momento, tudo aquilo que você não quer ser. E, então, o que resta a fazer é fechar os olhos, respirar fundo e esperar passar, se dissipar. Porque - graças a Deus - sempre passa…
E tem aquele momento quando você percebe que, por mais difícil que seja, é hora de deixar pra lá… É hora de continuar andando.
Você não acreditou quando te disseram. Optou por fechar os olhos e abrir o coração. E, então, em algum lugar pelo meio do caminho percebeu, enfim, a insustentabilidade de seus próprios passos. Percebeu que era chegada a hora de abrir os olhos e fechar o coração. E continuar andando… Só que, dessa vez, em sentido oposto.
Porque a vida é isso mesmo, uma caminhada na qual você permite, ou não, perder-se… E, felizmente, independendo da incerteza de seus passos, sempre haverá um caminho de volta.
Ouvi dizer que os inteligentes são aqueles que aprendem com os erros dos outros.
Bem… Se isso for verdade, penso, sinto e ajo como uma burra de marca maior. E sabe o que mais? tenho orgulho disso.
Existe superficialidade maior do que passar a vida equiparando-a a dos outros? Que se dane a experiência alheia. Quero ganhar a minha!
Eu opto pelos riscos, pela adrenalina. E, apesar de morrer de medo de altura, escolho a queda livre. Caso contrário, o que seria da minha vida além de uma triste e chata receita de bolo?
Me chame de louca, de irresponsável. Talvez eu até concorde.
Quero pegar os caminhos que me disseram pra não pegar simplesmente porque eu senti vontade.
Eu tenho consciência de que vai ser assustador, às vezes. Mas é assim que vai ser, nem que pra isso eu tenha que lembrar a mim mesma, todos os dias da minha vida, que eu tenho, ou tive, sede demais pra me contentar com pouco.
Eu quero ser alguém, sabe? E o meu ponto é: Ninguém se torna alguém sendo, ou agindo, como mais um.
Aquele de quando eu decidi não me arrepender
Sabe aquela história de viver intensamente, sem arrependimentos e blá, blá, blá? Pois é, pra mim nunca funcionou muito bem.
Eu não sei se essa é uma capacidade geral das pessoas, ou se é só comigo. Eu penso demais.
Penso no que pensam, no que poderiam pensar. Em como foi, em como eu me saí, em como eu poderia ter feito, em como poderia ter acontecido e se, realmente, deveria ter acontecido. Foi no tempo certo?
Ah, quer saber? CANSEI!
Somos animais. Racionais, mas somos. O que me faz pensar que, apesar de ser uma coisa só, não deve ser misturada. Impulsos não combinam com racionalidade. Pra ser mais objetiva, simplesmente não tente encontrar lógica em coisas passionais. É impossível. É loucura.
Pessoas sofrem porque, além de sentirem demais, pensam demais.
Se for pra pensar em algo, que seja: Eu agi deste modo porque estava sob as influências do meu eu ontem. Circunstâncias mudam, pessoas mudam. Sentimentos e vontades, nem se fala.
Por isso, a lei pra mim agora é essa: Eu não vou pensar. não vou me arrepender. Vou viver e não volto.
Quem dera eu ser vazia dessa ausência que me ocupa, dessa falta que insiste em sobrar. Da marca que ficou quando nada sobrou. Da única presença que agora é fantasma do que foi, de quem se foi. Quem dera eu esquecer de lembrar, ou lembrar de esquecer… você.
Fecho os olhos na esperança de encontrar minha inspiração. Sem paisagens bonitas, nem influências externas. Eu, apenas eu, e um emaranhado sem fim de sentimentos confusos que, por vezes, me roubam a lógica que tanto prezo. Vão-se as certezas e resta somente um coração batendo no ritmo da música que invade os meus ouvidos e que me torna ainda mais sensível a um sentimento que me avessa da cabeça aos pés, e que me faz querer sonhar, mesmo com a possibilidade, sempre bem presente, de ser forçada acordar em um súpeto. Como em um daqueles sonhos em que se cai de um precipício tão rapidamente que o ar abandona os pulmões instantaneamente, com o chão cada vez mais próximo e a queda cada vez mais certa. E o que fazer com aquela sensação de que nada resta a não ser juntar os pedaços ou de, tão somente, esperar o tempo varrer a bagunça que ficou? Quem disse que se apaixonar era fácil, afinal de contas? E, depois de tudo, resta aquela falsa ideia de que tudo o que vivemos são consequências de nossas próprias escolhas, quando, na verdade, não houveram se quer chances de se ponderar sobre qualquer coisa que não fosse como aquele abraço congelou o mundo ao redor. Ou sobre como, quase que milagrosamente, o cérebro conseguiu enviar a mensagem da necessidade de se respirar enquanto os lábios se encontravam em uma perfeita sincronia. Quando o toque na alma é tão forte, quando o chão some, por um milésimo de segundo, sob os pés, quem vai lembrar de se importa com o resto, afinal? E, no final, de olhos bem abertos questiono ser benção ou maldição esse sentir perigoso, isso de sonhar acordada por algo, alguém. Pergunto-me ainda se abster-me, em nome dos riscos, seria uma saída… Mas então sinto-me abençoada pelo risco e, até mesmo, pela queda. Tão somente por ter vivido algo capaz de me roubar o ar. Quem disse que precisa de lógica?