D C Monroe
Meus olhos só te dizem o quanto sei de mim. Sei pouco, sei quase nada, sei o suficiente pra não me perder. Mesmo na penumbra, onde se esconde o mais vil de todos os seres que me habitam, um raio reluzente transcende a barreira do ego, provando que mesmo distante de você meu coração ainda clama seu nome. Clama, grita, murmura aos quatro cantos de um planeta esférico que não há nada que possa sucumbir ao desdém de um amor.
Meus olhos só me dizem o quanto posso ser. Serei muito, serei quase tudo, serei o suficiente pra não me encontrar em você. Mesmo em meio ao fulgor, onde reside o mais puro dos anjos, um sonho atormentado escurece um verseto que leva o amor em fé e crença. Algo que cogita no intimo de um coração murado, um sopro de vida que cedo ou tarde desvanece o próprio ser. É fato que longe assim, o amor ainda é tido como melhor escolha, mas é sempre um castigo de Hamlet ser posto na escolher entre o certo e o melhor. Motivos não me faltam em dormir, dormir… sonhar talvez.
Meus olhos só me escondem você como és. Meus olhos só visam meu coração duro.
Coração de um moribundo, que suando esfria a lascívia de amar.
E esfria, esfria… congela.
Logo vejo,
que sem querer,
plantamos amor
no quintal
quando te beijo,
e sem perceber
penduramos a dor
no varal.
Sou poeta
No rumo da rima.
Sou repentista
No ramo do rimador.
Sou devaneio
Vivendo por cima.
Sou egoísta
Não divido minha dor.
Moça do Convento
Canções de amor
Cantadas ao vento
Na espera sem dor
À mercê do tempo
Que deixou a moça
Trancafiada no convento
Na procura de um passatempo
Deu seu coração no evento.
Na cidade pequena do interior
Àquele moço sedutor
De alma transparente
De bons modos, aparente.
E o fim foi fatal
Para aquela moça
Que não mais era normal
Com o coração quase poça
Que cantava ao vento
Canções de amor
Perdidas no tempo.
A vida é menos chata no outro lado da rua
Todos os dias eu tento me convencer de que em qualquer circunstância que eu me encontrar, sempre terei que escolher entre o certo e o melhor. E a variação de escolhas certas e escolhas melhores é surpreendentemente inclinada à sensatez do erro. Acordo com vontade de dormir, e tenho que escolher entre ir trabalhar e dormir mais cinco minutos – levanto atrasado. Me apronto as pressas, e tenho que escolher entre tomar o café quente de uma vez ou deixar pra comer na rua – passo a manhã com fome. Ouvi no rádio que o tempo está se fechando, e tenho que escolher entre levar o guarda-chuva ou sair com menos peso – chego no trabalho ensopado. Saio do trabalho, e tenho que escolher entre pegar o ônibus ou ir caminhando – quase sou atropelado por um táxi.
Não importa a escolha feita, se é a certa ou a melhor, você sempre vai se perguntar “porque não escolhi a outra?”. E sabe o que é mais interessante nisso tudo? Nada. Você só termina o dia se perguntado como foi seu dia e tentando planejar um novo sentido pra tudo que está ao seu redor, sendo que o sentido é só não procura-lo ao redor.
E agora estou aqui. Onde tudo começa. No fim do dia com a sensação de um péssimo começo, comendo um cachorro quente e a calça suja de mostarda. No outro lado da rua.
Bem-te-vi
Mal-te-quis.
Naquela flor,
Flor-de-lis,
O beija-flor
Pediu bis
Em pé, no meu nariz
De girassol
Em bem-me-quer
Mais mau-me-quer
Do que qualquer
Bem-me-quer.
Desculpe-me
Bem-te-vi,
Mau-te-quis
Que nem-te-vi.
Vamos dançar.
Só me resta saber
se você tem
um qualquer pra ver
onde vai parar
esse corpo cheio,
solidão e tristeza,
riqueza do meu ser,
qualquer coisa é melhor.