Cynthia Garda
Deve ser porque eu não consigo prestar atenção (ou pensar) em uma só coisa. Logo, se quero me desligar, não basta ligar a televisão, como vejo os homens fazerem com eficiência fascinante. É preciso algo bem mais contundente, que ocupe meus olhos, nariz, mãos, pernas e cabeça ao mesmo tempo, como a faxina.
Solidão
Tem horas que é a única coisa que quero, e quase todo dia tem alguma hora que é essa hora. Nas últimas semanas, foram incontáveis horas à beira-mar, até passar a vontade.
Por muito achei que eu era torta, porque por mais que amasse um homem, em determinados dias ou momentos não o amava nenhum pouco. Olhava, olhava, puxava mas não adiantava, o amor não estava lá. Depois ele, o amor, me surpreendia, nos encontrávamos de novo como se nunca nos tivéssemos deixado.
O amor não é contínuo. Amor é começo e fim para sempre. O fim é parte do amor. Do amor que acaba e do amor que continua. Aliás, só continua, se volta depois que acaba, mesmo que tenha se acabado só por uns minutos. E se não volta, é só isso. Acabou para começar de novo, provavelmente com outra pessoa.
Mulher call center – Tenho uma amiga que, se bebe, liga. Liga, manda mensagem, deixa scrap. Ela se transforma num call center às avessas, e em geral só sabe o que disse se foi por escrito e pode achar depois em algum dispositivo online ou página da internet. Não tem como evitar, ela vai ligar sim de novo se beber. Ela inventou o drunk dial. Uma vez ela teve um blackberry mas felizmente desistiu disso. Com o blackberry ela ficou impossível, pois podia ligar, mandar mensagem, entrar no chat, mandar email e deixar scrap na mesa do bar.