CRISTIANO ROSA
A VIDA É FEITA DE AUTOS E BAIXOS
AS VEZES CONQUISTAMOS
AS VEZES SOMOS CONUISTADOS, MAS O IMPORTANTE É
DESISTIR JAMAIS
Nós somos mais do que pensamos
Há um mundo cheio de oportunidades
Mas para alguns, qualquer coisa serve
Enquanto alguns se deixam levar
Outros têm foco e não param enquanto não conquistarem aquilo que determinarem
Nós somos mais do que pensamos
Se olharmos o passado, descobriremos
O quanto evoluímos
Os dias obscuros
E a luz que agora guia
E ainda temos tempo a aprender
Mas pra mudar, temos que avançar
Sem medo do novo e sem apego ao velho e atitude ainda é tudo
Mas pra vencer temos que arriscar
Se a força que tenho for pouca e não bastar
Há quem comigo se esforce e força se torna maior
Meu jazz
Pode-se chamar de jazz tudo o que não soa convencional.
Uma metáfora.
Uma ruptura com o fixo, o estável, o estático seria jazz.
Uma mudança de padrões estabelecidos.
O não-convencional é jazz.
Já o meu jazz não é como os outros, posto que, eu... com os outros não me pareço.
Cada um é cada um, um universo em si mesmo.
O mundo é de dois lados, bipolar, dicotômico.
Há os que dançam e os que pensam, e os que pensam também sabem dançar, pois pensam, logo dançam. Embora haja quem dance tanto que não pense. Há também quem tanto pense que se negue dançar. Ora, pois, é uma grande desfeita contra a vida não dançar. Sim, Nietzsche, tenho visto Deus dançar uma balada romântica e ensaiar os passos do frevo com grande entusiasmo. Enfim, há quem dance e pense. Eu porém, quando penso, costumo dançar.
Sou o que você poderia chamar de um cara de esquerda, como foram os gênios e os revolucionários em tempos e tempos. Você não deve ser muito diferente de mim se...
Meus acordes soam dissonantes. Minha voz destoa, mas não chego a ser desafinado. Sou assim um outside. Às vezes sôo atonal como jazz, aliás, quem poderá entender o jazz para então poder apreciar a bossa nova, bossa nossa, bossa minha, o meu jazz.
Comecei tocando na igreja, mas desde as primeiras noções, optei por uma linha musical nada ortodoxa. Minha música era maior que eu, embora não fossem, ainda, os meus motivos. Ora, o que e grande precisa de espaço. Assim é minha vida. Assim é minha música, o meu jazz.
A gana dos homens
Quem nunca ouviu o ditado
“tem-se o tesouro onde a mente está”
E quem não conhece o provérbio
“o pior cego é o que não quer ver”
Enxerga-se com vendas nos olhos
Escuta-se com um filtro de proteção
Gira o mundo e os homens se movem
Passa o tempo e a vida se esvai
Vive-se a mercê da experiência
E cada homem seu preço tem
E as elucubrações se dissolvem
Corre-se atrás do vento...
Viajar é possível através da mente que cria universos paralelos, mundo particular, mundos invisíveis e outros devaneios(e o homem sem devaneios é também sem vida, a criança é morta, e sem a criança o homem é solidão).
A viagem é feita através dos sons que embalam os ouvidos, através dos olhos que captam um mundo de milagres que os homens insistem em chamar de realidade, afora o milagre da vida, o milagre da beleza, milagre do amor, milagre de Deus.
E quase tudo é viagem: viagem para dentro, viagem pra fora, viagem de dentro pra fora(o nascimento), viagem de fora pra dentro, viagem a tempo e o tempo todo.
A vida é uma viagem. Somos todos viajantes. E não estamos sós na viagem. De fato, nunca estivemos...
O Nada
Antes de tudo havia o nada
Mas o nada, donde vem?
Nada vem do nada
Alguma coisa precisa existir antes
Antes do início de tudo...
nada se sabe a respeito
Se é possível o vazio total,
então é possível o nada
Um nada substancial
O nada é esse paradoxo
Esse paralelo
Esse paramorfismo
O universo é tudo o que há
Desdobramento do nada
O nada e o universo são coisas e a realidade é uma só
O nada é coisa fechada
O universo é coisa a se abrir
O nada é coisa perfeita
O universo é coisa em fazendo-se
Mas se o nada se abre, o universo explode
E o que antes não era nada (ou era nada), passa a ser de coisa em coisa
Se o que é, é desde sempre, então o tempo não existe para o que é
Mas por causa do tempo o que é, se torna
Sem tempo há o que é
O nada é antes do tempo
Mas o antes do antes é ainda uma incógnita
Desconfio que o universo retorne para o nada
O nada é completo, tão completo que dele se tira tudo e nada lhe falta
Mas não é, em nada, um nada comum
E nada há de comum no nada
Crises
A crise da existência levou-me à fé em Deus.
A crise da fé no homem levou-me de volta à crise da existência.
A fé em Deus levou-me de volta à fé no homem e resolveu o problema da crise.
Chamam-me
chamam-se esdrúxulo porque dois me valem mais que um
chamam-me cético porque, ao ouvir o som, quis saber donde vinha
chamam-me ateu porque não podia aceitar um deus pior que o homem
chamam-me radical porque não conheci duas verdades
chamam-me severo porque ao malfazejo não pude chamar pastor e guia...
Confissões de uma menina que não gosta
Não gosto do frio
Não gosto do quente
Não gosto do alívio e nem tampouco gosto da dor
Não gosto do egoísmo e, nem por isso, gosto do amor
Não gosto de criança - crianças nunca se cansam
Não gosto da velhice - velhos são chatos, tão donos da verdade e tão fatigados
Não gosto do beijo
Não gosto do abraço
Mas gosto muito menos do regaço
Não gosto e quem canta e seus males espanta
Não gosto de quem dança,
Pois não gosto de festa
A música não me interessa
Pra que serve o prazer?
Só serve pra entreter
Não gosto de quem sonha
Nem da tragédia medonha
Não gosto de quem perde
Também não gosto de ganha
Não gosto de menina assanhada
Também não gosto de menina acanhada
Não gosto de gente que bebe
Não gosto de gente que fuma
Não de coisa nenhuma
Não gosto de quem gosta de tudo
Também não gosto de quem não gosta de nada
Não gosto de mim
Não gosto de quem gosta de mim
Também não gosto de quem de mim não gosta
Não gosto do não
Não gosto do fim
Não gosto do afeto
Prefiro a desdém
Não gosto do medo
Não gosto do apego
Não gosto do apelo
Também não gosto de apelido
Não gosto do mocinho
Também não gosto do bandido
Tenho medo de ambos
Mas não gosto de ter medo
Não gosto de ser cedo
Também não gosto de ser tarde
Não gosto do ócio
Não me arramo em nenhum negócio
Não gosto de ter sócio
Não gosto do tédio
Não gosto de remédio
Não gosto de estar vivo
Não me sinto à vontade
Não gosto de gente melosa
Não gosto de gente melindrosa
E nem de gente meticulosa
Também não gosto de gente sem prosa
Não gosto de gente desnuda
Não gosto que me deixem de saia justa
Não gosto que me deixem de lado
Mas sou alérgica ao afago
Não gosto de ser o centro das atenções
Não gosto de gente bonita
Mas não cultuo a feiura
Não gosto de sair
Mas não gosto de ficar
Não gosto de gente metida
Não gosto de gente atrevida
Não gosto de gente sofrida
Não gosto de gente arredia
Não gosto da noite
Não gosto do dia
Vai que um um dia eu goste e goste de gostar...
Sacerdócio
Faz já algum tempo que uma invasão inusitada ocorreu. Um contingente de letras veio me habitar. Foram chegando aos bandos, caravanas e caravelas. Povoaram minha mente e se estabeleceram. De mim fizeram sua pátria. Palavras de toda sorte, lots delas, fortes e tênues, e vultosas, sobretudo constantes. Concomitantemente uma força mais forte que a que move o moinho passou a me impelir. Não havia lugar próprio e hora certa. Escrevia... Quando descansava, pensava... Pensava e escrevia. Palavras soltas e vazias ganhavam vida e significado. Escrever passou a ser um tipo de sacerdócio. Escrever e cumprir meu dever. Tal é a relação. Escrever sempre. Escrever é despir a alma, é ser visto por dentro.
Precisamos de santos que não fogem à luta
Precisamos de santos atuantes, comprometidos com causas humanitárias
Precisamos de santos que temperem o mundo
Precisamos de santos que não sejam alienígenas, nem alienados
Precisamos de santos que saibam amar
Precisamos de santos que tenham amigos
Precisamos de santos que gostem de música, teatro e cinema
Precisamos de santos que saibam dançar
Precisamos de santos que saibam sorrir
Precisamos de santos que amem a vida
Precisamos de santos que, a exemplo de Cristo, se pareçam com Deus sem deixar de ser parecido com os homens
Não carecemos de santos esquisitos
Nem de santos indiferentes
Não precisamos de santos pálidos e apáticos
Abaixo de nós... o abismo.
Acima de nós... os céus.
Abaixo de nós... a aviltação.
Acima de nós... a sublimidade.