Clivson Ruy
Debruço-me no peitoril da vida e vejo, em meio ao curso da sobrevivência, os reflexos do que fui. Ainda que eu possa vislumbrar na corrente o meu mar, percebo o quanto de mim vive preso aos mananciais de minha nascente. Contudo, o amor paira sob ela como uma gôndola que segue, mesmo que sem guia, a nortear meu horizonte destino.
Em algum lugar largo meu corpo cansado. Menos que minha mente, menos que meu coração. A vida se mostra menos colorida do que é de verdade. Os passaros nao gorjeiam mais e a chuva bate no telhado como pedras e tudo mais confusso se torna. A dor de outrora se faz presente, as incertezas se tornam constantes e a chaga da angustia se aproxima. Onde me encontro?! Pergunto-me. Em que meio de acho e o pior: para onde devo ir? Que vazio é esse que se apodera de mim e me diz que nada sou diante dele? Não vejo a luz. Não vejo a luz. Não, não, eu não vejo a luz.
Envolto em uma brisa amadeirada, eternizo meus desejos, lanço minh'alma e projeto-me no ar. Viajo em asas brancas, por entre nuvens de algodão que suavizam a jornada que leva ao sul de minha atual existência. Abaixo das asas e proximo aos que me guiam ao futuro, quando em solo me encontro, trago um simbolo, um circulo a reluzir o sol e assim armazenar a luz que me norteará quando as trevas tentarem me acompanhar. Furações e tempestades enfrentarei, na esperança de que, no meu destino forças e alegria serão a mim devotadas. Quedas doídas, desiluções de areia e fé abalada não terão forças de me desviar do rumo traçado, pois em palavras que me chegam pelo vento, em acordes entoados através do tempo e em sentimentos que adentram meu coração, traço meu plano de vôo. Na sede beberei na fonte desse amor que me banha. Na fome, me alimentarei nesse silo de saudade que me cerca e assim chegarei a terra de paz e carinho que sempre busquei e agora mais do que nunca proximo a mim se encontra.