Clayton d'Souza
Soneto do dia 7
Hora canta
Hora dança
Hora chora
Hora brinca
A hora passa
O tempo passa
Um tempo termina
Outro tempo inicia
A cada intervalo uma era inicia
A cada era espera alegria
Um desejo de felicidade que não termina
Pensa que a canseira é tristeza
Logo percebe que não é uma menina
Suas alegrias se iniciaram e que se lembre nesse dia
Demora a hora
Repousada sobre a terra
A linda flor que brota em soledade
A benesse da tardança
Trás força
Esperança
Se sentes o cansaço
As marcas do sol
Do vento
Do frio
Aprende se que a demora da hora
Era enfim a dadiva maior
Quando acreditou em que lhe diziam
A ponta da sanguínea deixou de ter sua cor brilhante
Ao ouvir conselhos bondosos
Sua caneta secou a ponta
Seus sonhos são tolices
Perdeu tudo
Tato
Visão
Audição
Então nasceu em ti, aquela força
Que fez brotar as cores de seus pastéis
E papel preencheu a lápis, formas e palavras
As bordas da vida
Na direção oposta
A maré e mais forte
Na margem da vida
A vida é mais só
Sem as mesmas marcas
Sem joias do povo
Sem ser igual
Entendi e aceitei
Sou um vivente marginal
A via da vida
havia na vida uma via
eu a via na via
mas a mim não via
Que via infeliz
Só queria o que eu via na via
Mas a via a mim proibiu
ter o que eu via
ainda sem nome
Vai, segue na vida,
na estrada deixe seu rastro
da cor do fogo,
como a cor dos seus cabelos.
Se coloque no horizonte.
Quem ficar vera sumir aos poucos.
Aos acompanhantes novos horizontes.
Vai, e começa de novo.
Diminua a árdua tarefa daquele que tentar,
segue com o coração limpo, pulsante e quente.
Andar sem olhar para traz,
os primeiros passos doem,
descubra novas letras,
novas melodias
Na dura tarefa de culpar,
faça ao que se foi
e permita quem quer chegar.
No decorrer de uma nova história
com seu próprio bem e mal,
viver é assim.
Uma viagem
Pela janela do trem olho e penso em todas as pessoas, nos velhos prédios que abrigam pessoas novas, paredes desbotadas que passam rápido, quase tão rápida quanto a vida que se esvai. Sentada em um dos bancos há uma bela jovem que lê. Em seu livro um personagem descreve uma viagem de trem de alguém que lê um livro sobre uma outra viagem de trem. E pela janela, paredes cinzentas continuam a passar rápido, a porta se abre, é hora de descer.
Patologia
risco de mim a paixão
um peso extra ao coração
vivo uma contradição
que por zelo ouço a razão
a paixão se esvai rápido
um mal necessário?
prefiro a cumplicidade meu caro
que com calma constrói o duradouro
a pressa da paixão deixo ao tolo
21/04/2019
terra e céu
o firmamento que outrora guiava e previa
e que em nossos dias
jaz sobre as luzes
ofuscado
por muitos esquecidos
existe o céu
com todas as respostas
digno
aguarda o seu olhar
16/06/2019
Do desespero à Vitória.
Desperdiço folhas que não sabiam do poeta
Quebro-me em partes que a vida e o tempo não hão de juntar
Desfaço-me em todos os pedaços
Dedico fôlego e existência a escrever
No papel em branco me refaço
18/06/2019
Visão do mundo
Não importa quem eu sou
(quem eu realmente sou)
Tua presunção lhe permite
a mim definir
Por fim serei o que pensar de mim
07/06/2019
Gotas que caem
Uma chuva que cai
gotas deslizam pelas folhas verdes
brincam rumo ao chão
uma após outra molha a terra.
Um vento que sopra
faz dançar os galhos
as gotas teimosas, temerosas, escorregam e se empoçam.
Mas eu, daqui da minha janela,
fitava apenas uma gota
que sem demora
brincou na folha e foi-se embora.
Não há nascido por engano
Mas estes fadados aos cuidados humanos
Que o bom Deus permite o sofrimento
Até a um simples bichano
Em punição ao bicho homem
É merecido um minuto
Um tempo dedicado
Aos bichinhos que sem terem culpa... Também nos redimem do pecado
Na ponta da língua
Parte da minha poesia,
se perdeu pela falta de sintonia,
entre caneta, papel, mão
e o que passa pelo coração.
01/07/2019
Clayton d'Souza
sistere
Sou todo inverno
As horas passam
Sou primavera
As horas passam
Sou verão
As horas passam
Sou outono
Os dias passam
Não quero ser mais ser estação.
Enfadonho
Já me perdi milhões de vezes
Sempre em em mim
Já já me esqueci mas não a ti
És sempre ti
Já encomendei uma corda
Desisti
Nem eu se do quê
Já não me empolgo mais
Não sinto brisas só vendavais
Já me perdi em ti
Esqueci de mim
Já me perdi milhões de vezes
Me procurei até cansar
Já me repeti enfadonhamente
E acabei a lhe irritar
Já não me encontro mais
Desisti de procurar
Kronia
O que se passa agora?
O que dobra é a hora
Cronos sorri sem demora
Um deus sádico que não chora
Sorrindo controla e lhe outorga as horas
O que passa agora?
O que dobrou foi a hora
Quem fica chora
O mundo não para
Por alguns dias a hora sera bucólica
Cronos sorri a toda hora
A hora dobrou
A quem você deixou?
Quem te deixou?
Já passou...
Já passou...
Feliz ou triste deixou o que deixou
Conselhos
Se faça de pedra sabendo que as pedras racham
Se faça de areia e perceba que o vento a leva
Se faça de água e evapore
Seja você então se deleite
Rache, seja levado, evapore
Esteja ar, sinta-se luz
Viva!
Nos manuais não esta claro
Que o sol não serve para sermos
Quem explicou que cheiro não tem cor?
Faça confusão
Mas se for para ser que seja o fundo do oceano
Escolha as flores imperfeitas e as colha
Não seja espinho nem dor
Para quê fazer sentido?
Quem vai saber se dor ou amor?
A cada hora seja um novo
Mas não esqueça dos seus velhos
Eo mais importante e que nunca se esqueça
Seja amor
29/07/2019
Velha poesia em novos poemas
Passamos o tempo curvados
Um olhar fechado
Nossos caminhos despercebidos
Olhar focado
Pequenas telas são o mundo
Nelas estão todos
Eu vejo e sou visto
Estamos cheios de tudo
Conectados a todos
E vazios
Ansiosos, distantes do importante
Somos crianças em um mundo novo
Aprendendo um novo caminhar
E de fato, nossos joelhos estão meio ralados.
Se nesse novo mundo existem dores
Vez ou outra ha amores
Amizades distantes, tão perto no tocar da tela
O mundo vasto e menor que uma janela ou uma gaiola
Um incompreensível novo mundo
Emaranhado de hiperlinks, hipertextos, tags, cálculos binários
Tão atraente espaço inexplorado
Onde muitos amores morrem
Outros amores nascem.
O vento
Pare um pouco e se cale
Lhe direi algo que me vale
A brisa
O vento
Sabem cantar
Cantam para mim
E não por exceção
O faram por ti.
Árido
Quid pro quo lhe diria
Se ainda houvesse brilho
Em seus noturnos outrora castanhos
Brilhantes e profundos
Há poesia onde eu quiser
Em minhas mágoas que afogam o vizinho
Nas dores que sinto sozinho
Poesia melancólica eu diria
Mas ainda sim poesia
Me demorei em sombras
E agora temo o Sol
Sinto-me fino, esguio
Construo um forte e nele moro
Jazo alí há muitos anos
Sou homem ou sou pedra?
E quando choro
Rego a terra sedenta
Que sem sementes não brota flor.