Claudia Perotti
Ahhhhhhhhh!
olhos teus
que volvem afoitos dos sítios ignotos
que me consomem por dentro
que, em feitiços prateados,
me acendem feito lua no céu negro
que me incitam sorrisos
que me estimulam estrelas
que me alongam ardências e delícias
que me liquefaz em êxtase
.
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Quando os olhos se expõem mais do que gostariam; Quando da boca escorrem palavras, uma a uma, e deitam nas mãos do amor; Quando o coração ofega freneticamente e explode em mil cores transformando para sempre as nuances ao nosso redor; Quando um grito mudo se eleva até espalhar afeição por todos os lados; Não há como impedir . . .
Na vastidão dos dias
A tua canção ecoa-me nas entranhas
E misteriosamente preenche-me de delícias
.
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De tempos em tempos os impedimentos chegam feito um tsunami arrastando tudo sem dó, sem piedade. Estamos sempre às voltas, ora desvencilhando dos obstáculos, ora nos afogando num mar de pena. Por mais que nos esforcemos as vagas nos envolvem roubando-nos a coragem. Resta-nos então jazer num oceano sem fim a deriva, a espera de um recomeço... Eu não sei quanto tempo permanecerei mergulhada nessa languidez. Meu fôlego já não é mais o mesmo. Flutuo cansada dessa usança exasperada... Mesmo conhecedora de que nada dura para sempre e que Deus é meu consorte, uma lágrima insiste em cair...
Os abraços adormecem os ruídos
que gritam estridentemente no fundo de nós,
Domam os cavalos selvagens das emoções
E consola a alma perdida
.
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Tudo está diverso, estranho, distante...
O sorriso, os gestos, a visão, as emoções...
Às vezes não sei mais quem sou. E mesmo diante da imagem refletida no espelho não reconheço-me nela. Tudo o que fui e senti esvaiu-se de mim. Não sobrou nada, nem migalhas. Não há transformação. Não há renovação. Há pausa. Estou suspensa. Ausente de tudo e de todos. Alheia. E os pensamentos seguem mergulhados e confusos no infinito vácuo de mim...
Enleio-me nas letras e elas arrancam-me amorosamente as vísceras, contam segredos, refletem virtudes e dissipam defeitos. Quanto mais escrevo mais me acho, me dispo, me desvendo, me respeito e me compreendo. Nessa exposição constante de mim mesma aprendo a me aceitar integralmente...
Por mais que queira esquecer,
que deite uma pedra sobre tudo que aconteceu,
o destino entrelaça-me mais uma vez a você...
Todos nós temos o hábito de julgar as escolhas alheias como se fôssemos “expert” em viver, mas quando esse julgamento se vira para nós ... Uia! Dói!
Enquanto dos olhos escapam lágrimas doridas, o corpo esvazia o sentir que pesa. E nesse derramar de sentimentos os ventos trançam nos cabelos suas carícias divinas amainando as emoções, silenciando os pensamentos...
Das mãos escorrem pouco a pouco as areias do tempo
e dos olhos cheios de sol as lágrimas de muitas vidas
se unem nas águas cristalinas de um mar imenso
ao sal e a beleza de mais uma brisa...
Somos uma miragem,
somos face oculta nos véus das existências,
somos personagens de nós mesmos...
Escondemo-nos atrás de nuances que nos torna mais atrativos.
Deslumbramos ou assombramos no grande espetáculo da vida...
Hesitamos na aceitação alheia quando despidos.
Ideamos então artimanhas, artifícios, caminhos,
que nos levam a mais uma figura dramática...
E seguimos assim,
sem tardança, constantes,
no entusiasmo de uma alma cativa num corpo lento...
Justamente agora que o sol aqueceu os ares,
aqui dentro faz frio...
Enregelaram os sentires e as atitudes,
as lágrimas e o riso,
as mãos e os ossos...
A solidão jamais foi tão implacável
e a distância
.
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ahhhh essa aumentou seu tamanho
Uma inquietude atravessou a noite, enquanto os olhos meus, em ritmos tão característicos, se abriam e fechavam...
Num reflexo busquei os sonhos em algum sítio de mim...
Tarde, muito tarde, revirei-me tanto quanto pude e não os encontrei...
Porque mudos sorrateiros passaram sem que eu os visse...
E olhar que antes era procura tornou-se cansaço...
A noite se foi...
quanto mais penso saber tudo sobre você, percebo que não sei coisa alguma...
isso é perfeito! Detesto os previsíveis!
e descobri-lo a cada dia é mágico
é como um dedilhar colorido numa tela branca
é tudo de bom! Sempre!
Vez ou outra
perco-me por aí ,
abstrata, distraída...
Duvidosa,
carregada de um mar negro
afundo ainda mais...
E por pouco,
muito pouco
esqueço-me de quem sou...
Suplico-te, amor,
não deixe os meus passos confusos
o caminho é árduo sem ti
.
.
.
Quero
os rastros teus nos meus dias,
a luz da ternura tua a iluminar-me as emoções,
os braços teus ao redor das minhas agonias,
cada verso teu a derrocar muralhas e aflições...
Quero
tanto,
tanto,
tanto,
encurtar distâncias,
a presença tua
nas tramas do tempo meu...
Confesso-me através dos pincéis que se derramam na tela da vida...
Procuro revelar-me em cada movimento, em cada cor...
Mas no fundo sou arte inacabada em constante transformação...
Triângulo
Há duas sombras
velando o teu coração...
Retiro-me espectro
quieta
distante
do teu silêncio
e paixão
.
.
.
Há tempos que a GRATIDÃO resplandece em todos os espaços do meu ser...
Sinto-me grata por cada dificuldade, pois foi através delas que me descobri forte;
pelas perdas porque aprendi a valorizar o que me rodeia;
pelas lágrimas que me mantiveram sensível as coisas do universo;
pelos inimigos que fizeram de mim uma pessoa melhor;
pela aventura, a magia, o amor, o carinho,
por todos os beijos, abraços, sorrisos, apoio, amigos....
Sinto-me grata simplesmente
por existir nesse mundão de Deus...