Claudia duarte
Deitada na minha cama, aquilo que era para se tornar mais um noite de sono, ou melhor, apenas mais uma atividade comum, de uma vida rotineira, vira um tormento. Viro para um lado e para o outro. Me parecem gritos de socorro. Pressiono o travesseiro sobre meus ouvidos e percebo que é tudo coisa da minha cabeça. Quem se desespera e pede por socorro, sou eu mesma. Meus pensamentos já não me deixam mais em paz. Já não mais é possível descansar, sem preocupações. Está doendo querer mudar. Não está sendo nada fácil, e parece que é de noite, o único momento em que eu paro para refletir. Por mais que eu tenha chegado a conclusão de que do jeito que eu me encontrava, nenhum avanço seria possível, e que eu esteja inteiramente disposta a mudar, em momentos eu quase desisto. A teoria é sempre simples, agora, a prática é um desafio e tanto. Está doendo querer mudar; é ferida profunda; é passado recente. Posso estar sendo radical demais, esperançosa demais, sei lá, mas é tanto exagero assim, da minha parte, querer seguir em frente limpa, sem lembranças, apenas pronta para uma nova vida? Tenho plena consciência de que nada é assim tão fácil. Ainda mais quando se decide, de repente, querer que, de uma hora para a outra, todo e qualquer passado seja esquecido. Eu só queria renascer, livre de lembranças e sem riscos de ficar cada vez mais acorrentada ao passado. Eu só queria levar a sério essa história de "ano novo, vida nova". Por que não? Ao menos se alguém compreendesse como é incomoda essa sensação de estar prestes a fracassar, de como é perturbadora essa ideia de que não irei alcançar meus objetivos. Eu sei que ninguém consegue seguir seus próprios conselhos, mas eu ainda posso tentar, não é? Minha cabeça está dando voltas e adora recordar tudo aquilo que eu quero esquecer. Parece que quanto mais eu fujo, mais rápido meus problemas me alcançam. Como se minhas tentativas fossem nulas. Como se eu não pudesse lutar contra mim mesma. E assim eu vou indo.. A cada segundo, recordando mais e mais momentos que vivenciei, logo agora que eu só queria era descansar.
Sono da Compensação
Fecho os olhos lentamente,
letargicamente,
apago descoloridos em mim,
acordo no sono da compensação.
Destino?
Casualidade?
Sei lá..
Prefiro chamar de ilusão.
Conheço pessoas,
outras re(conheço)
em meio a prédios difusos
e nuvens cinzas confusas.
Pessoas de branco gélido
acenam em minha direção.
Sigo acordando no sono,
em total alienação...
Não quero as mesmas palavras
nem sons com os quais amei,
atitudes sem leis
e pessoas que se pensam reis.
Quero simplicidade.
amores de verdade,
vida em espaço pequeno,
rios descendo em mim.
Respirar ar puro,
recitar versos lindos,
colorir o espaço
com cores astrais.
Fazer serenata
em janelas abertas,
corações pulsantes
por dias de luz.
Fecho os olhos lentamente,
letargicamente,
sonho com quem não encontro,
com quem é meu contraponto.
Sonho com cidades claras,
jardins verdes em flor,
céu que não seja o limite
e pessoas feitas de amor.
No sono da compensação,
encontro tudo o que espero..
Trago de lá a harmonia
do mundo que tanto quero...
Destino? Casualidade?
Prefiro chamar de ilusão
Desperto... reverencio o Artista,
oferecendo-lhe Gratidão.