Cláudia Barral

Encontrados 3 pensamentos de Cláudia Barral

JANELA ACESA


A moça se inclina sobre o parapeito,
silêncio, flor branca guardada.

Perdida de mim, a moça ausente me olha.
É a minha alma que ela espreme entre os dedos ferozes.

A moça habita o azul,
entre nuvens, anjos e pássaros, seu rosto sem sol.

Suspensa nos olha, atrás da vidraça, seu nicho de santa,
sua vida que eu não conheço.

De longe eu a vejo, princesa do céu,
enquanto estou preso em mim.

Inserida por IrineuMagalhaes

POUSO

Para me aninhar nos teus braços percorri mil oceanos,
As águas profundas de mim mesma.
Até dormir a teu lado passei as noites em claro,
Percorri os subterrâneos.
Para ver os teus olhos tive que descobrir os meus,
Meus olhos pousados sobre pedras quentes.
Chegar a ti foi tudo o que fiz. E foi o bastante.

Inserida por IrineuMagalhaes

PEQUENA VALSA PARA O FUNERAL DAS HORAS.


Se eu pudesse, minha irmã, ouvir o que ela ouvia
Quando olhava, em silêncio, os relógios, seus ponteiros a girar.
Se eu pudesse escutar o som que eles faziam,
O tempo que existia, quando o tempo costumava a caminhar.
As mulheres costumavam engordar,
Os homens desatavam a beber,
Os velhos tinham o hábito de morrer,
E o tempo não parava de passar.
Se eu pudesse acompanhar seus olhos que seguiam
As horas que morriam quando outras começavam a nascer.
Se eu pudesse escutar que o som do que ela via
Era um tal barulho imenso que podia, em silêncio, ensurdecer.
Quando ainda era cedo.
Quando ela ainda podia ficar.
Quando ela ainda queria me ver.
E o tempo não parava de passar.

Inserida por IrineuMagalhaes