Biografia de Clarice Lispector

Clarice Lispector

Clarice Lispector (1920 - 1977) foi uma escritora e jornalista brasileira que nasceu na Ucrânia e se mudou para o nosso país durante os primeiros anos de vida. Considerada uma das maiores autoras nacionais do século XX, ela ficou eternizada sobretudo pelas obras de romance, contos e crônicas. 

Alguns dos seus livros, como A Paixão Segundo G.H. (1964), Felicidade Clandestina (1971) e A Hora da Estrela (1977), são verdadeiros clássicos da literatura brasileira. 

Clarice Lispector por Maureen Bisilliat

Origens e juventude da autora

Chaya Pinkhasovna Lispector nasceu no dia 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, na Ucrânia. Seus pais eram judeus russos que tiveram que abandonar a Europa, com as filhas, devido ao aumento da perseguição antissemita. 

Quando tinha apenas 2 anos, ela chegou ao Brasil com os pais e as irmãs mais velhas, Leah e Tania, depois de uma longa viagem de navio. Aqui, seu nome foi alterado, para ser mais parecido com o idioma português: assim, Chaya se tornou Clarice. 

A família se estabeleceu em Recife por muito tempo, onde a mãe das meninas faleceu. O amor pela literatura surgiu ainda durante a infância: com apenas 9 anos, Clarice já escrevia peças de teatro e contos. Mais tarde, ela se mudou para o Rio de Janeiro com o pai e as irmãs, onde cursou Direito na Universidade Federal. 

Começou a trabalhar na imprensa, em 1942, colaborando posteriormente com publicações como “A Noite”, “Diário da Noite”, “Correio da Manhã”, “Manchete” e “Jornal do Brasil”. Um pouco mais tarde, também se iniciou no campo da tradução literária. 

Inspirada por grandes autores do Modernismo, como Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, ela continuou escrevendo longo da juventude. 

Carreira literária e maiores sucessos 

Em 1943, Clarice lançou a sua primeira obra, o romance Perto do Coração Selvagem, que apresentava uma visão interiorizada do mundo e da adolescência. O livro foi bem acolhido pela crítica e galardoado com o Prêmio Graça Aranha, marcando o início de uma carreira brilhante. 

Seu gênio literário foi confirmado através de diversos livros que conquistaram a admiração de leitores e críticos. A obra Laços de Família (1960) reúne contos da autora que narram epifanias do cotidiano. Já A Paixão Segundo G.H. (1964) é um romance fascinante que acompanha o encontro inesperado de uma mulher com uma barata. 

Em Felicidade Clandestina (1971), encontramos narrativas breves que se centram nas temáticas da infância, da adolescência e das relações familiares. A Hora da Estrela (1977), seu romance mais célebre, segue o destino solitário de Macabéa, uma nordestina vivendo no Rio de Janeiro. 

Sua produção literária é extensa e diversa, entre romances, contos, crônicas e obras infantis. Entre as suas traduções, se destacou o romance de terror Entrevista com o Vampiro (1977), da norte-americana Anne Rice.

Uma das vozes mais importantes da terceira geração do Modernismo brasileiro, Clarice sobrepõe cenas cotidianas com profundas reflexões psicológicas, filosóficas e existenciais, possibilitando um mergulho na vida interior e secreta dos sujeitos, no universo particular de cada um. 

Vida privada e familiar de Clarice Lispector 

Clarice começou a namorar Maury Gurgel Valente quando ambos estudavam na Faculdade de Direito; após a formatura, ele se tornou diplomata. Em 1943, quando ela obteve a nacionalidade brasileira, os dois se casaram e passaram a viver em Botafogo. 

No ano seguinte, o marido precisou viajar para a Europa e a autora teve que acompanhá-lo. Primeiro, o casal se fixou em Nápoles, na Itália, onde ela se tornou voluntária num hospital militar. Depois, passou longas temporadas na Suíça e nos Estados Unidos, devido às obrigações do diplomata, viajando também pelo resto da Europa e pelo continente africano. 

Pedro Lispector Valente, o primeiro filho, nasceu em 1948. Alguns anos depois, em 1953, nasceu Paulo Gurgel Valente. Os períodos que a escritora passava longe do Brasil foram piorando os seus sintomas de depressão. Assim, em 1959, ela pediu o divórcio e se mudou, com os filhos, para o Rio de Janeiro. 

Morte e legado da escritora

Após uma luta contra o câncer de ovário, Clarice Lispector faleceu em 9 de dezembro de 1977, na véspera de completar 57 anos. Dois dias depois, seu corpo foi sepultado no Cemitério Israelita do Caju. 

Suas obras se tornaram cada vez mais populares, principalmente a partir da década de 80. Surgiram novas edições, coletâneas póstumas, traduções para outros idiomas e diversos trabalhos acadêmicos centrados na sua escrita. 

Em 2009, o historiador e crítico norte-americano Benjamin Moser descreveu a sua trajetória em Clarice, Uma Biografia, satisfazendo a curiosidade dos leitores sobre uma autora que sempre foi considerada enigmática e até incompreensível. 

Porque há o direito ao grito. Então eu grito.

(Clarice Lispector, A Hora da Estrela)

Acervo: 1787 frases e pensamentos de Clarice Lispector.

Frases e Pensamentos de Clarice Lispector

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

Clarice Lispector
Montero, Teresa (org.). Correspondências. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.

Nota: Trecho de carta escrita a Tania Kaufmann, em 6 de janeiro de 1948.

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Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

Clarice Lispector

Nota: Trecho citado por Anna Maria Knobel em "Moreno Em Ato", atribuído a Clarice Lispector.

Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Rocco. 1998.