Clarice Junqueira
Haicai do ganho em se perder
Foi-se embora ñ restando nem carinho nem saudade?
Já foi tarde, já foi tarde..."
"Poesia é palavra que sobrevive ao tédio dos dias. E martela, ressonante. Até virar papel. É o sumo, o suco da rotina. Fazer poesia é unânime! Não carece estudo, treino. Poetar é inerente ao humano. Todos. Poesia é modo de enxergar. Entrelinhas, entre ruas. Entre paredes. Entre, entre, saia.. absolutamente tudo se faz poesia se apertar.
Poesia é sumo da vida espremida"
Perdoar : "doar-se por completo".
Sem rédea, arreio, facão. Perdoar é relevar o erro do outro. Escolher reviver. Renascer. Doação.
Olvidar, relaxar, esquecer.
Uma vez perdoado, alforriado. Enterrar o que houve de errado de coração acertado, sem esperar gratidão.
Perdão é o fato encerrado.
Velório do erro, passado.
Ponto final de um fado.
Humilhar é impor gratidão
Meu Poeta eternamente confessa fingir que é dor a dor que deveras sente...
Eu confesso veemente, nadando contra a corrente, que finjo não sentir dor, mesmo quando é dor me faz latente. Minto tão perfeitamente, em alma, corpo, mente.
Se é para ser fingidor, finjo prosperidade. Não admito a dor. Nem falsa nem dor verdade.
Mas que linda a falsa dor.
Emociona, convincente. Mas Pessoa mente dor. E é Caeiro, Reis, e tanta gente. Pessoa e mais que escritor. É ator, é Gênio, expoente.
Eu só finjo não ter dor . E a vida ou acredita ou me entende?!
Fazer poesia
Urge porque ora ardem. Ardem até serem escritas. Palavras entoam ardidas, tal como Sol do verão.
Há também as que amassam, sem ardor, queimação. Palavras apertadas, tal como nó na gravata. Sufocam, só desafroxam escritas no punho, à mão.
Mas há palavras que urgem sem tocar no coração. Juntas porque rimadas. Repetem tão ensaiadas, tal modinha de verão.
Rimas pobres, outras ricas. Carimbam, viram canção.
Urgem de tal maneira, habitam a cabeceira. As levo por todo instante, praga, saga e refrão. Me rendo, registro a rima.
De fato, nenhuma obra prima. Jamais tive tal pretensão. Mas rima virou poesia, singela, bela guria, quanta gente sonharia alçar tão posição.. Plenitude alcançada, rima ousou ser poema. Ousar ser poema e bom.
Metalinguagem
Pressinto poema, a rima me invade
Me cerca por cima, abafa a prosa
Martela na alma, me urge e arde.
Escrevo com calma a rima teimosa.
Na cama, pijama, controle, marido
É quando a rima aparece perfeita
Prometo jamais esquecer e repito
Mas é poesia e precisa ser feita
A prosa me ronda tão chique e nobre
A rima invade, covarde, " chinfrim"
Em prosa sou ouro. Rimando sou cobre Rima é poesia que exala de mim
Ml
Não quero a rima
Nem rica nem pobre .
A prosa é ouro, rimando é cobre.
Eu tento a prosa: medrosa, padeço.
Em rima, sou asa.
Se prosa, sou gesso.
C