Clara Godinho
Desejo
Quero voltar
ao mundo dimensão,
ao centro da paixão
desenhada num ponto só
fixo no meio de ti,
no meio de mim,
a rodopiar
na confusão.
Queres voltar
para lutar,
entre a espada e a flecha
no vento da porta que fecha
na chave do teu coração,
segredo que ultrapassa,
se dispersa e abraça
o teu medo, o teu chão.
Talvez adormecer,
talvez mergulhar,
talvez revirar
a flor que em ti nasce
neste verso tão confuso,
que me cobre meia face.
Quero viver,
quero voltar.
Quero querer
quero sonhar.
Futuro discreto
Hoje o dia veste-se de preto
Rasga a folha que cobre o vento
Deita o Sol no auge do tempo
Leva-te preso nas entrelinhas
E prende-te em histórias minhas
Que na eternidade se perderam.
Hoje ele veste-se de preto,
O dia, que os anjos perderam.
Ontem o dia vestiu-se de branco
Reflectiu a sua luz
Na flor do sonho que te seduz
E te faz saltar de banco em banco
No algodão que cobre o céu,
Que te fez dançar no véu
Nesta arte da palavra retratada
Que te fez escrever ao desalento
Na magia de pálpebra apagada
Cantando o sentimento.
Amanhã que cor terás?
Dia, que a noite amanhece
Enigma que as estrelas enlouquece
E a lua que te faz crescer,
Que cor vestirás?
Dia do amanhã
Será a densa luz
O vestido da paz…
O vestido da manhã…
Será o actual ódio
Que no Homem se desfaz?
Dia,
Á noite
Que cor vestirás?