Clara Brant
Auto sabotagem, é você estar com a faca e o queijo nas mãos pra fazer as coisas darem certo e acabar dando o queijo para os ratos e enfiando a faca no próprio pescoço.
No âmago do meu sofrimento
Eu ainda nem sei se lamento
Desejar tão ardentemente morrer
Me livrar desse falso querer
Das coisas fúteis da vida
Que alguns já nascem sabendo
Que não valem a pena se ter
E sobre aqueles que perderam as esperanças: nada mais os surpreendem ou magoam.
Estes não sentem nada.
Tentei fugir dos problemas
Tentei fugir da tristeza
Tentei fugir da raiva
Tentei fugir de tudo
Queria apenas um recanto a prova de fogo
Mas nunca consegui
E então percebi
Que fugir não adiantaria
Que não existiria qualquer recanto para mim
Alguma coisa estava errada
Essa coisa
Era eu
Não temos certeza e nem convicção de nada. Não temos sentimentos. Não temos preocupação.Não temos esperança. Não temos. Nós não temos. Me desculpe, nós não temos nada.
Me disseram que a esperança é a última que morre. De fato, ela permaneceu por aqui durante muito tempo, me impedindo de cair no abismo.Mas depois de muito resistir, ela acabou perecendo, foi enfraquecendo, se apagando. Ate deixar de existir.
E se perguntarem sobre mim, digam-lhes que de tanto viver no inferno eu acabei desistindo e aceitando que vou perecer. E por favor, digam a Deus que eu não entendo, mas que eu sinto muito por tudo.
Acaso alguém me encontrar pelas ruas noite adentro a vagar, por favor respeite minha solidão, minha introspecção. Não me ofereça ajuda ou companhia, eu renunciei a vocês.
Quando o torpor e a inércia tomam conta do corpo já abatido, não resta muito a fazer se não entregar-se totalmente ao vazio.
E vai chegar o dia do cúmulo, e eles vão me perguntar a razão de tudo aquilo, e eu não vou me pronunciar, porque afinal de contas, eu já tinha falado várias vezes e de todas as formas possíveis, mas ninguém nunca me escutou.
Já passava das nove e meia da noite.
Eu aqui dentro do meu quarto.
Dom Casmurro a minha esquerda me servindo de companhia em leitura.
Lá fora ouço o vento a vaguear pela rua.
Já passava das nove e meia da noite, e a cidade já estava recolhida.
Cada um em seu lugar com sua solidão e seus pensamentos.
E eu aqui, dentro do meu quarto.
Dom Casmurro a minha esquerda se oferecendo como companhia, para que eu não fique a sós comigo mesma.
Estou morrendo
Morrendo em minha própria fria existência
Morrendo em preto e branco
Morrendo em câmera lenta
Morrendo em inércia
Morrendo sem sentir
Não tenho interesse em nada
A vida e as pessoas se tornaram intragáveis
Será que existe algo nesse mundo capaz de me salvar?
Algo que me dê fôlego, algo me dê sentido
Estou procurando por uma razão
Qualquer coisa
Não precisa ser nada especial
Pode ser algo simples e singelo
Que me salve, que me dê norte
Quanto mais penso, mais confusa e triste eu me sinto, pois estou longe de chegar a alguma certeza. Na verdade, acho que não existem certezas, só dúvidas e mais dúvidas.
Eu sinto o frio dos dias de inverno, mesmo estando no calor do verão
Sinto a solidão de estar por conta própria, sem poder contar com alguém que ajude a achar a direção
Eu sinto a sombra que me envolve como um manto
Eu sinto a escuridão que me ofusca os sentidos
Eu sinto a dor de estar sufocando em meus próprios pensamentos
Eu tenho o desejo de partir desse mundo
Mas acima de tudo isso
Eu sinto medo
Eu tenho muito medo
E me olhar no espelho começou a se tornar algo muito difícil
Embora o reflexo presente ali seja meu, não o reconheço
Talvez seja eu, talvez não seja
Só sei que essa pessoa me enoja
Eu estou em chamas
Sempre estive
Eu não percebia o fogo, devido a adrenalina que as trivialidades do mundo gerava
Eu não parava um só instante
Mas um dia eu parei
E nesse dia olhei para mim mesma
E dei por fé das coisas horríveis que tinha feito
Pecados gravíssimos
Machuquei pessoas, machuquei a Deus
Percebi meus pensamentos horripilantes
E então vi meu corpo pegando fogo
Havia chamas para todo lado
Meu coração estava esmagado e dilacerado
Minha consciência doía e tinha o peso do mundo
E as chamas
Eu podia sentir
Por fora tudo normal
Por dentro, queimaduras de terceiro grau