Cinthya Reis
LIBERDADE
Nunca gostei de pássaros em gaiolas. Por mais bonitos que sejam e por mais que eu me sinta bem em companhia deles, prefiro deixá-los livres. Se quiserem cantar pra mim, conhecem o caminho da minha janela. E se eles cantam na minha janela é porque não querem cantar em outro lugar naquele momento. Eles são livres. E eu também.
Eu não paro a caminhada
Ainda que esteja assim:
A derramar esse sal dos olhos.
Essas lágrimas que você deixou-me de herança
Transformo-as em degraus.
Chorarei cada uma delas,
E quando terminar
Estarei em um ponto tão alto
Que sequer poderá ouvir o meu riso da vitória.
Renasço da minha poesia.
Eu não tenho medo da vida.
Tô nem ligando para o que esperam de mim, tô nem ligando para o sucesso que a sociedade me cobra. Esse sucesso forjado não me encanta, não me atrai. Não gosto de hipocrisia e não admito interpretar um papel que não condiz com o que eu acredito.
Então, não importa o tamanho da dor. Um dia ela passa. E o que fica são as lições. O que fica é o que nos tornamos. Nós somos o resultado. É assim que é. Ninguém é feliz o bastante que não tenha um dia de tristeza, e ninguém é tão triste que não goze de felicidade em algum instante da vida.
As dores chegam, mas um dia vão embora. Um dia a gente esquece, um dia a gente supera. Não importa o tamanho que ela tenha, a gente consegue ser maior que ela. Um dia o alívio chega.
Sou fruto das minhas escolhas sejam elas certas ou erradas. Mas não sou escrava delas. Existe sempre a opção “mudar” que pode ser acionada a qualquer momento. Sou livre para seguir o caminho que escolher e errar tanto quanto for preciso para não deixar nenhuma folha em branco nesse livro chamado VIDA.
Como costumo dizer “pulei etapas” na minha vida. Nunca fui muito dada a regras moralistas (e sem embasamento). Gosto da “liberdade organizada” em que vivo e dentro dessa minha linha de pensamento e postura, sou mãe solteira vivendo as delícias e desafios que essa condição oferece e exige.
À medida que o meu filho cresce, cresce também o meu comprometimento com a educação dele, com a formação dele, pois, cada vez mais ele se desvincula de mim e se vincula ao mundo lá fora, o mundo que o cerca, o mundo que me faz tremer na base, que me dá calafrios e uma sensação de oco no estômago.
Enquanto ele vive apenas comigo e com a nossa família, é fácil incutir-lhe os valores, os conceitos. É fácil cobrar. E ele muito raramente sairá da linha, pois não vê exemplos desse tipo para seguir. Mas, à medida que ele inicia o convívio fora da família, os outros conceitos, os outros valores começam a aparecer juntamente com os novos coleguinhas.
Cada criança traz uma criação, e nem sempre é da forma que deveria ser e nem sempre condiz com a criação que eu ofereço. Então acontece o choque e a minha criança acaba por absorver um pouco de cada coisa. Nisso começam as reclamações na escola, comportamentos inadequados e, é justamente nessa hora que a reponsabilidade precisa ser dobrada, triplicada.
Depois de um dia inteiro de trabalho, chegar em casa e conversar calmamente com uma criança de quatro anos para saber o porquê dela passar a aula toda mostrando a língua para os coleguinhas se, em casa, ela não vê ninguém fazendo isso. Explicar que, embora quase todas as mães insistam em deixar os filhos levarem brinquedos para a sala de aula, ele não vai levar, pois sei que essa é uma regra interna da escola (sim, porque até nisso a gente sofre, pela falta de educação dos outros que sempre respinga na gente).
Ensinar ao Pedro que brincar na rua até tarde não é legal, apesar de todos os coleguinhas brincarem. Que falar palavrão é feio, muito embora ele esteja sempre escutando algum. Que, ao contrário do que o tio e o pai dele falam, homens usa sim roupas cor de rosa. Que, ao contrario do que a maioria das pessoas fala, homem pode casar com homem e mulher com mulher, pois as pessoas são livres para casarem com quem elas quiserem, ou ainda, não casarem com ninguém (assim como eu, a mamãe dele). Que a birra dele não vai me ganhar, pelo contrário, quanto mais birra, mais longe ele fica do objeto de desejo. Que nem tudo o que ele pede eu posso comprar. Que nem tudo o que eu posso comprar, eu devo comprar. E que, a gente conquista as coisas com o nosso comportamento. O mundo é uma troca.
É complicado. É um ensinamento diário, sem interrupções. Você vira a página e a outra já está ali, prontinha pra ser escrita. Você ensina uma coisa e logo tem outra para ser ensinada. Não tem recesso na educação Mãe & Filho. Saber dosar as coisas, nem demais e nem tão pouco. Saber falar no tom certo, nem gritar e nem sussurrar. Saber ser enérgica sem ser violenta. Saber conter o descontentamento e explicar o porquê do “castigo”.
E, de quebra, nunca esquecer que a criança é ele. Eu sou uma adulta de 36 anos de idade. A sabedoria de vida é minha. Quanto a ele... Ele é um diamante precioso que me foi confiado para lapidar dia-a-dia.
É garotão, estamos juntos nessa. Eu não dou moleza, preciso fazer de você um grande ser humano. Esse compromisso eu assumi quando, por minhas atitudes, trouxe você ao mundo, numa situação atípica. Sou uma só, mas valho por mil, você sabe disso. Não cobro nada de ninguém, puxei para mim as rédeas de sua educação e vou conseguir o meu objetivo. Você será um grande homem! Um ser humano livre e feliz.
Nunca me canso de parabenizar as mulheres que, como eu, educam sozinhas os seus filhos. Parabéns!