Cida Pedrosa

Encontrados 6 pensamentos de Cida Pedrosa

⁠o sol anestesia a dor e de dor é feito
como deve ser feito de dor o frio do outro campo

Inserida por pensador

⁠Diferença

meu amor ouve fado
não rodopia
apenas baila e espreita.

eu gosto de tango.

minha mãe sempre diz:
seus olhos são trágicos.

Inserida por pensador

⁠esta poesia não te cortará
já nasceu partida
como choro de quem perdeu a mãe

existe o corte de outra faca
palavra
fina ferida fervente
ferinafacadorlírica

corte de rio cinza
cano cratera carvão
cão vidro pluma

a garrafa corta a água
gavião do mangue

toca de caranguejo
puçá de siris
tetéia de goiamuns

a adaga corta a veia
singra a solidão do branco

partidapalavraperdida

mas não se importe leitor
esta poesia corta apenas o papel
já nasceu partida
como a asa do albatroz.

Inserida por pensador

⁠Olhos de mar

a primeira vez que vi o mar
fiquei em desmantelo
as ondas iam e vinham
como vinha e ia o meu olhar

a primeira vez que vi o mar
fiquei em desmantelo
os olhos iam e vinham
como iam e vinham as ondas do mar

hoje não consigo apartar
gêmeos estes dois
teus olhos e o mar

Inserida por pensador

⁠Passeio pelas ruas do espinheiro

quero
pelos olhos da cidade
apreciar papoulas
abertas de par em par
para deleite dos cãezinhos
e colares de pérola de maiorca

(a pressa atropela a solidão do homem
que vende pipoca na esquina

o vento do carro
levanta a saia da moça lilás
para felicidade dos operários
já libertos do andaime
e da rigidez das horas)

quero
pelos olhos da cidade
sentir cheiro de pão e de fuligem
de brisa e de cimento
e testemunhar o preciso instante
em que o beija-flor afaga
a papoula aberta de par em par

Inserida por pensador

⁠Céu de confeiteiro

uma fatia de céu
é dada
nesta noite de maio

quinhão que cabe ao homem
que da janela espera

a urbe apita
e o calor
se faz bruma e precipício

uma fatia de céu
é dada
aos amantes da varanda

quinhão que cabe ao amor
em tempos de luas magras

Inserida por pensador