Christina Rossetti
Pode alguma coisa ser mais triste do que um trabalho incompleto? Sim: um trabalho que nunca foi começado.
Recorda-te de mim quando eu embora
For para o chão silente e desolado;
Quando não te tiver mais a meu lado
E sombra vã chorar por quem me chora.
Quando não mais puderes, hora a hora,
Falar-me no futuro que hás sonhado,
Ah de mim te recorda e do passado,
Delícia do presente por agora.
No entanto, se algum dia me olvidares
E depois te lembrares novamente,
Não chores: que se em meio aos meus pesares
Um resto houver do afeto que em mim viste,
– Melhor é me esqueceres, mas contente,
Que me lembrares e ficares triste.
Em minha sepultura,
Ó meu amor, não plantes
Nem cipreste nem rosas;
Nem tristemente cantes.
Sê como a erva dos túmulos
Que o orvalho umedece.
E se quiseres, lembra-te;
Se quiseres, esquece.
Eu não verei as sombras
Quando a tarde baixar;
Não ouvirei de noite
O rouxinol cantar.
Sonhando em meu crepúsculo,
Sem sentir, sem sofrer,
Talvez possa lembrar-me,
Talvez possa esquecer.
Meu coração é como um sabiá
Cujo ninho na água é mergulhado
Meu coração é como uma macieira
Cujos galhos com grandes frutos estão sobrecarregados;
É como a concha do arco-íris
Que rema num tranquilo mar
E mais feliz que todos esses
Porque meu amor está para chegar
Quando eu chegar ao fim da estrada
e o sol se pôr para mim,
não quero lágrimas presas em uma sala escura,
nem lamentos por uma alma que se libertou.
Sinta saudades, mas não por muito tempo,
e nunca com a cabeça baixa.
Lembre-se do amor que compartilhamos,
guarde-o no peito, mas me deixe partir.
Essa é uma jornada que todos devemos trilhar,
e, no fim, seguimos sozinhos.
É apenas um passo no grande plano,
um caminho que leva de volta para casa.
Quando a solidão pesar no coração,
busque aqueles que ainda carregam nossas memórias.
Ria das histórias que vivemos,
celebre o que fomos…
Sinta minha falta, mas me deixe ir.
— Christina Rossetti
Crédito do artista: Jungsuk Lee