Chico Garcia
Aonde eu quero chegar com esse meu jogo, que só me faz perder? É tão difícil assim um pouco de atenção? Tão improvável ser amada por aquele cara que eu escolhi? Nossa, como faço perguntas idiotas ao espelho, nem ele me aguenta mais.
Poxa, não peço muito. Só preciso estar com alguém que seja mais alto do que eu, tenha um pouco de barba e de vergonha na cara. A faixa etária pode ser ali entre 25 e 40 anos, dos vorazes aos experientes. Tem que estar trabalhando, lógico, e numa coisa legal. Algo que eu admire. Aliás, há quanto tempo não tenho alguém em que eu possa me inspirar ao meu lado. Não precisa nem ser bonito, mas tem que sorrir com a alma, mostrar aquela alegria capaz de fazer eu esquecer todos os problemas. Não há nada mais cativante num homem do que um sorriso de felicidade que leva o seu nome.
Gosto também daquelas sobrancelhas marcantes e do maxilar bem definido. Rosto de homem mesmo. Nem gordo, nem magro, pode até ter uma barriguinha, desde que tenha disposição para me amar. Simpatia demais é ruim e atrai periguetes demais, então pode ser um sujeito educado e reservado, mas que se transforma em quatro paredes. Ah, claro que adore viajar, seja de carro, avião ou navio e que não descarte uma aventura.
Tem que ser aquele cara que não me pergunte se eu quero, mas que me convença a ser sua. Quero um homem decidido, que inove na cama, que me pegue de jeito, mas saiba me dar colo na hora certa. O ideal é que gostasse de cozinhar e me surpreendesse a cada receita, que tenha um pouco de Sommelier e me ensine todas as harmonizações da bebida de Baco com um cardápio requintado. Mas também deve ser simples. Em alguns dias, vou precisar que ele abra uma lata de cerveja pra gente comer aquele xis bem gorduroso. Necessito de uma dose diária de gordice e alguém para me acompanhar.
Bom mesmo seria se curtisse Pink Floyd, Led Zeppelin ou Metallica, mas também escute Adele e John Mayer de vez em quando. E que não brigasse comigo quando eu cantasse aquelas clássicas do “Roupa Nova”, que eu sei de cor. Muito importante ter uma mãe acessível também, ou que more longe.
Na verdade, é tranquilo, basta ser não-fumante, beber apenas fim de semana – com exceção de uma taça de vinho de vez em quando – use perfume cítrico, durma do lado direito da cama, não puxe minhas cobertas à noite, acorde de bom humor, seja romântico sem ser meloso, rude sem ser distante, religioso sem ser fanático e organizado sem ser neurótico. Não é pedir muito né?
O problema é que eu trocava tudo isso apenas pelo simples, apaixonante e sincero sorriso daquele traste. Tento me convencer de que ainda não terminou e fico imaginando alguém impossível no horizonte, para o destino me contrariar e mandá-lo de volta. Bom, mas quem sabe alguém assim surge no meu caminho. Já que não tem você, vou me contentando com essa coisa chamada esperança.