Charles Valente

Encontrados 6 pensamentos de Charles Valente

Simples Assim.
Gosto do simples, do pé no chão, do ficar de cócoras. Gosto de água de pote, de cantiga de ninar, de beira de rio, de trote de cavalo, de pôr do sol e do brilho da lua. Olhar o entardecer e ver aquele sol quase morrendo na colina, me dá uma sensação de euforia, de saudade. Já tentou observar um ninho de passarinho? Quanta força a natureza revela naquela sutileza dos galinhos trançados. Assim vivo. Sou meio raizeiro, acredito em chá, em planta, em erva-santa e em benzedeira. Poesia de matuto? Quase choro quando escuto. Velhos sábios, cantado de porteira, espuma de cachoeira. Gosto de causos de assombro, de festa de roça e de cheiro de gente.
Dou rizadas das presepadas das crianças de pernas cinzentas e de riso doce e fácil. Gosto de criança e de cachorro. Sou assim. Quer me agradar? Me dê um beijo, um abraço apertado, um bom dia, um olá. Divida comigo um copo de cerveja, cante comigo uma canção. Morda minha orelha e diga que me ama. Deite se em meu peito e durma, porque amanhã será mais um dia feliz.
Charles Valente

Meus Moinhos.

Fazer canções, compor uma música é insano. Dentro deste mundo de obras faraônicas e moral babilônica, eu vivo montado em meus acordes “Rosinante” travando batalhas com monstros e dragões onde outros veem apenas moinhos.
Só porque você não viu, não significa que não existe! Os monstros estão lá e eu os vi. A batida tribal, a malha colada evidenciando o sexo e a letra demente... A televisão jura que é gênio, o governo declara que é pleno e o povo engole o veneno, de novo.
Muitos porquês sem respostas, muitas respostas sem perguntas... O mundo esta enlouquecido! Quem esta no caos não percebe a abrangência dos seus tentáculos. Não tem mais freio, não tem mais fé. O homem predador do homem. Como canibais devorando e sorvendo cada parte com gosto, em um espetáculo mórbido e comum. Ninguém mais se compadece...
Os loucos sabem... Eles já sabiam que não eram simples moinhos... Também seus amigos queimarão seus livros e lhes obrigarão sempre, a voltar pra casa.
A minha canção, não tem nem meu fiel escudeiro que sonha com um reino. Talvez ate consiga, e surpreenderás com sua habilidade de governar. Não! A mim não sobrou nem ele. Minha viola esta jogada, julgada e sub julgada a lei da poderosa rainha, mãe de todas as artes dos nossos dias. Personagem primeira, alfa e ômega das canções de rastelo, que enfileira as massas e desperta os sonhos. Grandes montes, adornados de renda vermelha que penetram ao mais escuro poço de lava orgânica, tão fétida como a canção proferida.
Mas a sina de cavaleiro é sua lança de justa e a de violeiro é a viola liberta. Cantador que também sorveu o balsamo no elmo de outros valentes, não se deixe vencer por quebrantos e encantos.
Ainda tem lua e ainda há de ter cachoeira. Ainda tem a chapada onde Quixote ainda vive. Sei do poder de Malfato, mas minha Dulcineia ainda me inspira e os ventos do leste ainda trazem a chuva.
Descanso este corpo cansado da peleja diária, enquanto viajo por hospedarias e castelos. Monstros? Claro que existem. Sou louco! E os loucos sabem...

Charles Valente

Não sou perfeito e nem pretendo ser. Um ser humano tem que ser humano.

Charles Valente

Permita então que eu te beije, pois a saudade da sua boca e meu veneno, mas a sua saliva é meu remédio.
Charles Valente

Não conto o tempo pelas ciências exatas de Pitágoras, conto pela ciência abstrata de Drummond.

Charles Valente

Eu quero é mais.
Pois é, estou eu aqui entre upas e ais sobrevivi. Passei pelo final da ditadura militar, campanhas das diretas, fui cara pintada, descobri que fui manipulado, fui comunista, idealista, Darwinista, fui crente e fui ateu. Quando pensava que ensinava estava eu aprendendo de novo. Não terminei de escrever meu livro, fiz dois filhos, me encantei com Nietzsche, Kant, Confúcio e Rousseau, me apaixonei por filosofia, compus canções, falei de amores e misérias, de sonhos e ideais. Fui poeta, cantador, ator e repentista, hippie, naturalista, fui fumante e fui ex-fumante, fiz tatuagem, bebi sucos, chás, cervejas e vinhos... Ufa! Vivi um bocado. Mas sabe? Pensando bem, a gente nunca acha que viveu o suficiente, tem sempre um sonho que nos impulsiona para mais um “tiquinho” de vida, e eu ainda tenho tantos... Sonho tanto com amor sincero entre as pessoas, com uma lágrima depois do poema, com aquela sensação de paz depois da canção, sonho com o pão nosso de cada dia de preferencia acompanhado de: Café, leite, manteiga e livros da escola. Sonho com meus filhos encontrando seus filhos e batendo um papo sadio, sonho com pessoas bem resolvidas de cabeça erguida com coragem de dizer que não concorda, mas com educação para ouvir o oposto de suas ideias. Sonho com um mundo melhor sabe? Não é porque sou bonzinho ou bom menino no papel politicamente correto até porque politicamente correto eu nunca fui. Sonho com isso por puro egoísmo, verdade! Egoísmo puro. Criar um filho em um mundo (Filho da Puta) deste é para deixar qualquer cético rezando ladainha e crente excomungando Jesus. Uma sociedade onde as leis existem, mas não são cumpridas, o voto é direto, mas a eleição é manipulada, os políticos com cara de peroba e coração de OGN, impostos acabando com a nação, os órgãos de defesa do meio ambiente preocupados apenas em defender os interesses estrangeiros e sacrificando a produção. Ainda falta: Saúde, dignidade, escola. Ainda sobra: Preconceitos, crack, cocaína, heroína, metafetamina, e mais um monte de “ina” que eu nem sei. No meu tempo, se resumia em duas palavras: Maconheiro ou subversivo assim eram definidos todos aqueles que tiveram a petulância de não concordar. Mas quer saber? Foda-se! Eu assisti: Pink Floyd na derrubada do muro de Berlin, eu curti: Todos os rocks e MPB’s dos anos: 70, 80 e 90, eu fiz serenata na janela e ganhei beijo de madrugada, eu bebi vinho safado ouvindo o barulho da cachoeira, fiz discurso, recebi palmas e vaias. Sei que ainda resta uma estrada a ser percorrida e que agora eu trago em minha bagagem dois corações famintos por saber e por participar desta vida louca e bela que temos. Então cheguei até aqui cheio de esperança e gritando: VALEU CASA DOS 40! Uhuuuu que venha mais, 50, 60, 70, 80...E QUANTOS MAIS PUDEREM VIR. Obrigado aos meus amigos, a minha família, aos meus filhos e a meu amor pela experiência ímpar de viver. Sei que um dia eu volto ao começo cumprindo a missão cíclica e bíblica: Do pó ao pó. Enquanto meu dia não chega, me divirto na labuta e na peleja sirvo versos em uma bandeja feita de banda de cabaça. Um coité serve de taça o meu verso é minha igreja.