charbitten
Eu amo as pessoas de uma maneira tão verdadeira que esse amor chega a ser irreal. Esse é o meu dom e a minha dor: Amar incondicionalmente numa sociedade que desaprendeu a amar.
Amar não é fazer uma escolha. O coração escolhe por nós. E a consequência da insana escolha do coração é totalmente nossa.
Sentada no parapeito da janela do andar mais alto do prédio mais alto da cidade. Observo os carros passando lá embaixo. Balanço as pernas e sorrio ao ver o quão frágil a minha vida é. Basta um salto e tudo o que eu (des)construí ao longo da minha existência está acabado, estatelado lá no chão. É cômico perceber como toda a minha vida pode se basear numa única decisão.
E no dia em que te disserem que sonhar é inútil, diga que uma pessoa sem sonhos é como um céu sem estrelas, é como um caderno em branco, é como uma escuridão sem qualquer indício de luz no fim do túnel, é como uma coruja sem asas, é como um coração sem amor, é como um corpo sem alma.
Ah, como eu gostaria de uma palavra que pudesse me descrever. Uma palavra mágica, que me abrisse como uma chave abre uma porta para um universo paralelo. Mas descobri que sou indescritível, não me encaixo numa categoria, não podem me dominar. Sou como um bicho selvagem, sou movida pelos meus desejos mais íntimos e me liberto por mais que tentem me prender. Às vezes me orgulho disso, noutras gostaria de ser um pouco mais normal. Mas se ser normal é compactuar com esse sistema sujo e hipócrita, prefiro continuar indefinida mesmo. Receber uma definição seria como negar a minha complexidade e me aceitar apenas como uma coisa. Contudo, eu não sou só uma coisa. Talvez ninguém seja. Somos todos espirais de loucura incandescente, chamas escuras no fundo do abismo mais profundo, fitas vermelhas dançantes nas mãos de uma bailarina. Somos tudo. Somos do tamanho das nossas ideias. E por falar nisso, quais são as suas ideias? Não hesite em expô-las. As suas ideias são belas, a sociedade que é feia.
E eu simplesmente acho que estou viciada em escrever. Acontece que eu tenho muitas dores dentro de mim. E me liberto delas, ao menos enquanto as jogo no papel. Mas mais cedo ou mais tarde elas voltam. Elas sempre voltam. E quando elas voltam, escrevo mais e mais, libertando as dores, até que elas voltem novamente e o processo recomece. E estranhamente isso me dá prazer. É, eu estou mesmo viciada, mas, como todo bom viciado, não quero parar. É, eu estou perdida, ainda vou morrer disso, quer ver? Dane-se, vai ser uma morte bem poética, diga-se de passagem.
Eu dou muito mais valor às pessoas do que elas realmente merecem. Cara, tenho que parar com isso, guardo amor demais dentro de mim para um mundo tão cheio de ódio. E no dia em que esse amor vier à tona, chamar-me-ão de fraca. E é por isso que tenho que fingir ser fria. Dizem que eu sou distante, complicada. Mas não, eu não sou nada disso. Eu só preciso que ultrapassem a minha fina camada de frieza, encontrem todo o brilho da minha alma e me amem, tão somente me amem. E eu juro que amarei de volta. Por que eu não amaria? Eu só preciso de alguém que me entenda. Talvez eu esteja pedindo demais. É, talvez seja mesmo. Mas não me leve a mal, acostume-se, eu sempre espero demais das pessoas, adoro fazer isso, por mais que me decepcione pelo caminho.
Eu amo e ao mesmo tempo odeio as pessoas. É que elas não são nem boas nem más em toda a sua totalidade; são surpreendentes.
Algumas pessoas são como as doces e belas vírgulas: Pausam suavemente as nossas vidas para que possamos respirar um pouco antes de chegarmos ao ponto final.
Algumas pessoas são tão frias quanto o ponto final dum texto: Rígidas, não têm qualquer vestígio de dó ou medo no olhar; finalizam a frase como deve ser finalizada e não se fala mais nisso. Consideram-se as donas do mundo, mas seriam elas as donas de si mesmas?
Algumas pessoas são como os pontos de interrogação: Lotadas de dúvidas, quanto mais questionam, mais se perdem em si mesmas. Encaixo-me nesse grupo.
Estilhaça-me o coração quantas vezes julgar necessário. Amar-te-ei a cada estilhaçar, não desistirei de ti, sangrarei pacientemente à tua espera. Amar-te-ei tão somente porque qualquer outra escolha me faria lacrimejar pelo resto da trilha da minha existência. Não me deixa ao relento, permite-me ser a tua dama da noite, a tua princesa das linhas prateadas, a rainha da tua loucura. Estilhaça-me, amar-te-ei para sempre, eu te amarei para sempre. Estilhaça-me, eu me sentirei ungida por completo... Copiosamente.
Afinal, não importa o quanto esconda. O que toda mulher mais quer é nada mais e nada menos do que amar e ser amada em retorno.
Note que a ilusão é o primeiro dos prazeres. E a sua irmã, a desilusão, é o primeiro dos sofrimentos.
A minha complexidade está além da sua compreensão; tentar me entender é tão inútil quanto perseguir nuvens.
Eu não sei se conseguirei lidar com o meu mito
Inventei uma mentira e nela piamente acredito
E eu digo que contigo simbolicamente suicido
Viverei com prazer o nosso finito infinito