Cesare Pavese
Em suma, todo o problema da vida é este: como romper a própria solidão, como comunicar-se com os outros.
A dificuldade de praticar o suicídio está nisto: é um ato de ambição que só pode ser realizado depois de superada toda a espécie de ambição.
As coisas são descobertas por meio das lembranças que se têm delas. Relembrar uma coisa significa vê-la - apenas agora - pela primeira vez.
O sexo é um acidente: o que dele recebemos é momentâneo e casual; visamos a algo mais secreto e misterioso do qual o sexo é apenas um sinal, um símbolo.
Quando se sofre, julga-se que para lá do círculo existe a felicidade; quando não se sofre, sabe-se que a felicidade não existe e sofre-se, então, por não sofrer.
O homem interessa-se tão pouco pelo próximo que até mesmo o cristianismo recomenda fazer o bem por amor a Deus.
A religião consiste em acreditar que tudo aquilo que nos acontece é extraordinariamente importante. Nunca poderá desaparecer do mundo, justamente por essa razão.
Que importa viver com os outros quando cada um se está nas tintas para o que é importante para os outros?
Será um conforto pensar que a fraqueza pode ser uma força, como uma saúde delicada é uma defesa contra as doenças graves?
Ironia da vida: a mulher dá-se como prêmio ao fraco e apoio ao forte, e nunca ninguém tem o que precisa.
Defender a ideia de que os nossos sucessos nos são concedidos pela Providência, e não pela astúcia, é uma astúcia a mais para aumentar aos nossos olhos a importância desses sucessos.
Para agradar aos homens é preciso professar o que cada um desses homens repudia e odeia na sua vida secreta.
É concebível que se mate uma pessoa para contarmos na vida dela? Então, é admissível que nos matemos para contar na nossa própria vida.