Castelo Hanssen

Encontrados 12 pensamentos de Castelo Hanssen

⁠POEMA CACHAÇA
Eu queria fazer uma poesia
que fosse cristalina como o dia
para ser consumida como o pão
Uma poesia assim
agridoce como a fruta do mato,
pura como a água do regato
melodiosa como uma canção.
Uma poesia assim,
que trouxesse beleza em cada rima,
para ser cantada no trabalho,
para ser batucada nas marmitas,
para ser comentada nas esquinas.
Uma poesia assim
comum e popular, como a cachaça,
que se bebe barato, que é de graça,
que é do pobre, do rico, do sem nome.
Uma poesia que todos entendessem,
como todos entendem a palavra amor,
ou a palavra fome.

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⁠Houve um tempo
em que todos os versos eram de esperança,
a mostrar um caminho por fazer
Mesmo que a noite fosse escura e fria,
havia sempre um jeito de poesia
prá se aguardar o amanhecer.
Mesmo em tempos de fome, de tristeza
de guerra fria,de dor e de incerteza,
havia sempre um sol na consciência,
havia sempre luz no fim do túnel,
a marcha da História,a curva do horizonte,
para acalmar a santa impaciência.
Houve um tempo
em que todos os jovens eram proletários
construindo seus versos libertários
e fabricando um amanhã mais justo.
E já se via até um novo dia
de sol,de amor, de pão e de alegria,
a compensar todo trabalho e susto.
Houve um tempo
Esse tempo passou, era tudo bobagem
era tudo mentira,engodo vil
A História se enganou, voltou prá trás,
não existe amanhã,nem pão,nem paz
nem fim do túnel,nem sonho,nem miragem.
Enganamos um bobo. Primeiro de Abril !...

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⁠Mesmo que a noite fosse escura e fria,
havia sempre um jeito de poesia
prá se aguardar o amanhecer.

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⁠"Os donos do mundo, que adoram as trevas,
com medo,taparam os olhos do povo,
prá noite durar."

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⁠..os donos do mundo, senhores da Terra, tornaram verdade as mentiras da guerra ..."

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⁠CANÇÃO PRO SOL VOLTAR
Puseram algema nos braços do mundo,
fizeram um muro em torno do mundo
pro sol não chegar.
Os donos do mundo, que adoram as trevas,
com medo,taparam os olhos do povo,
prá noite durar.

Munidos de força,de falsa verdade,
com autoridade de quem tudo pode,
com a prepotência de quem tudo manda,
os donos do mundo,senhores da Terra,
tornaram verdade as mentiras da guerra,
tornaram mentira as verdades do amor.

Os donos do mundo,com suas mil bocas
que falam de guerra,de "marcha,soldado!"..
disseram ao povo : ser bom é fraqueza,
sorrir é tolice,amar é pecado.

A lua era boa,amava os poetas,
amava os amantes,amava o porvir.
Se a noite chegava,a lua risonha
rondava na noite pro sol ir dormir.
Os donos do mundo,com suas geringonças,
subiram na lua, treparam na lua,
a lua do povo,senhora dos sonhos,
a lua dos beijos,dos olhos risonhos.

Os donos do Mundo treparam na lua,
taparam,com trapos,os olhos da lua
Mas eu ainda canto,os olhos vendados,
os braços atados,já quase sem voz.
Quem sabe o meu canto,o canto do povo,
consigam que a lua ainda acorde de novo ?

Quem sabe o corguinho,cantando na serra,
consiga que as plantas floresçam na terra ?..
Consiga que as rodas do engenho maldito
parem de repente,ouvindo o meu grito ?
Consiga que a Máquina,já enferrujada,
com suas engrenagens,talvez já cansadas,
esqueçam um pouco de só trabalhar ?..

Consiga que o sol ainda volte prá nós ?...

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⁠ A tristeza saiu pelas ruas
sentindo alegrias de Carnaval

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⁠DE AMOR E DE ESPERANÇA
"....no amor que flui em nós, água corrente ... "

Eu sei,amor, a vida está difícil
- o preço do feijão, a ausência de futuro,
a poluição, a falta de ternura,
a falta de verdade e de abertura,
esse medo do escuro...
O perigo maior,porém,é que esta vida,
este cansaço, esta ilusão perdida
destruam esse amor,fortuna que nos resta.
E,sem fazer versinhos cor-de-rosa,
eu quero neste verso,nesta prosa,
dizer que ha um caminho ,uma fresta.
Inda é possível,amor, esse milagre
de multiplicar o pão.
É só somar as coisas que nós somos,
é dividir as coisas que nós temos,
subtrair todo egoísmo e ódio
na matemática do coração.
Amor,vamos brincar de aventureiros,
vamos buscar em nós, na humanidade,
no amor que flui em nós, água corrente,
um tesouro escondido à flor da terra.
Um tesouro que existe,em que pisamos,
o qual não vemos,porque não olhamos,
um tesouro real e verdadeiro.
Vamos amor, me leve nos teus braços,
eu te levo em meus versos,que são teus
Vamos abrir estrada em nossos passos,
vamos abrir estradas para o mundo,
vamos falar com Deus..


( do livro " Canção pro Sol Voltar" , Editora do Escritor )
Castelo Hanssen é jornalista e escritor , membro fundador do Grupo Literário Letra Viva e da Academia Guarulhense de Letras.

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⁠É NOITE,OS GATOS SÃO PARDOS

É noite, e tudo é mentira
As poças d'água na rua
enganam os pés incautos,
o assobio engana o medo
dos fantasmas e dos fatos.
É noite,os gatos são pardos...

Os muros todos escondem
ladrões e policiais,
as amizades escondem
os "dedos-duros" fatais.
A noite já foi suave,
já foi ternura,seresta,
namoro,luar e festa,
conversa,banco;quintal,
mas,nesta noite de medo,
a gente nunca distingue
qual é o amigo sincero,
qual é o amor verdadeiro,
e qual a flor cujo cheiro
não é tóxico ou mortal.

As palavras são sussurros,
- as paredes têm ouvidos -
as verdades são traiçoeiras,
os amigos são temidos.
Quem fala palavras boas
pode ser falso ou vendido,
quem grita está insuflando,
quem cala está consentindo..

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⁠JORNADA

Eis-me aqui, o que restou de mim
depois de uma jornada de trabalho,
Um resto de pessoa, um rebotalho,
cansado e consumido pelo dia.
Eis-me aqui, tal como sou, poeta,
sem tempo de viver e sem poesia,
cansado de fabricar imagens falsas
na busca pelo pão de cada dia.
Eis-me aqui, tal como sou, um trapo,
me coma, me consuma, consumido,
Vamos juntar nós dois nossos fracassos,
Ajunte o seu cansaço ao meu cansaço,
Que sou teu, comprovado e assumido.
Vamos fazer da noite o nosso dia,
O nosso mundo, a nossa fantasia,
A nossa fuga, a forma de viver.
Vamos viver a noite, lado a lado,
Idéias, mentes, corpos abraçados,
Porque amanhã o sol há de nascer

(in “Canção pro Sol Voltar “ Editora do Escritor Ltda” )

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UTOPIA

Aquela estrela é minha
Aquela, pequenina,
Na esquina do Universo, escondidinha.

Eu, que não tenho nada além dos meus chinelos,
Além dos meus poemas, além dos meus anseios,
Sou feliz proprietário de uma estrela,
Uma que eu inventei, e para vê-la,
Fecho os olhos na hora de sonhar.

Aquela estrela é minha, senhores astronautas,
Vagabundos do espaço de ninguém:
Cuidado, ela é frágil, assim como meus versos,
Astrônomos, que fuxicai pelo Universo,
Se um dia descobrirem essa estrela,
Ela tem nome, chama-se Utopia.

Aquela estrela é minha, senhor Deus,
Que pastoreais nuvens no Infinito,
E que semeais sóis e tempestades
Não leves a mal a pretensão do poeta,
Mas, aquela estrela, ainda que feia, é minha,
Não faz parte do elenco dos teus astros,
Eu a fiz com as mãos, o sonho, o coração.

Aquela estrela é minha, senhoras e senhores
E, quem quiser passear na minha estrela,
Numa tarde qualquer, de chuva ou sol,
É só me dar as mãos, ser meu amigo,
Compreender minhas incompreensões,
E caminhar comigo.

Mas não reparem se, de madrugada,
Não houver mais estrelas nem mais nada
É que ,às vezes, acordo mal dormido,
Oprimido, homem e pingente,
E minha estrela, triste, vai embora,
E só regressa numa nova aurora,
Quando eu volto a ser gente..

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⁠CORGUINHO

O pobre corguinho que canta na serra,
Que corre, que corre, sem nunca cansar,
Pobre Corguinho, é tão pequeninho,
Mas, para mim, é “mais maior” que o mar.

Ele, para mim, é bem maior que tudo,
É grande,grande, como um coração,
É o coração feliz e bom da serra,
Da minha terra, do meu grande chão.

Pobre Corguinho, é bem maior que o mar,
Porque é bom, porque é cantor dolente,
Não ruge como o mar e não se zanga,
É humilde e pobre como a minha gente.

Corguinho bom que Deus criou na serra,
Que Deus criou cantando uma toada
Naquele dia, Deus estava alegre,
Criou o mundo e não criou mais nada

E foi dormir, contente deste mundo
Tinha criado a serra benfazeja,
Tinha criado a mata, os passarinhos,
Tinha criado a toada sertaneja.

Corguinho bom, que vai descendo a serra
Sem ambição, sem orgulho e sem nada
Tudo o que tem vai entregar ao mar
E morre feliz, cumprida a sua jornada

Quando eu encontro alguém falando grosso,
Quando um grande despreza um pequenino,
Eu me lembro do mar, que ronca e bufa,
E tudo o que ele tem deve ao corguinho...


(in “Canção pro Sol Voltar “ Editora do Escritor Ltda” )

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