Biografia de Cassiano Ricardo

Cassiano Ricardo

Cassiano Ricardo nasceu em São José dos Campos, São Paulo, no dia 26 de julho de 1895. Escreveu seus primeiros versos ainda na escola, no ginásio em Jacareí. Em 1915 ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em São Paulo. Em seguida, muda-se para o Rio de Janeiro onde conclui o curso de Direito.

Iniciou sua carreira dentro dos padrões do Neo Simbolismo com a obra “Dentro da Noite” (1915). Sempre soube se adaptar às mais diferentes estéticas dominantes. Em 1917, ajustado ao rigor parnasiano de Alberto de Oliveira, publica “A Flauta de Pã”.

Depois de atuar como advogado em São Paulo e em seguida no Rio Grande do Sul voltou para São Paulo e integrou os dissidentes do Movimento Modernista e aliando-se ao Grupo Verde e Amarelo. Mergulhado no ufanismo nacionalista publica “Borrões Verde e Amarelo” (1925), “Vamos Caçar Papagaios” (1926), “Martim Cererê” (1928), entre outras.

A partir de 1960, o poeta múltiplo, alia-se aos mais ousados vanguardista. São dessa época as obras: “Poesias Completas” (1960), “A Montanha Russa” (1960), “Jeremias Sem Chorar” (1964) e “Os Sobreviventes” (1971), com ousadas características do Concretismo e da Poesia Práxis. Cassiano Ricardo faleceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de janeiro de 1974.

Acervo: 6 frases e pensamentos de Cassiano Ricardo.

Frases e Pensamentos de Cassiano Ricardo

O tempo é efêmero, no momento em que se nasce, já se começa a morrer, ser é apenas uma face do não ser

O Relógio

Diante de coisa tão doída
conservemo-nos serenos

Cada minuto de vida
nunca é mais, é sempre menos

Ser é apenas uma face
do não ser, e não do ser

Desde o instante em que se nasce
já se começa a morrer.

Por que o raciocínio,
os músculos, os ossos?
A automação, ócio dourado.
O cérebro eletrônico, o músculo mecânico
mais fáceis que um sorriso.

Por que o coração?
O de metal não tornará o homem
mais cordial,
dando-lhe um ritmo extra-corporal?

Por que levantar o braço
para colher o fruto?
A máquina o fará por nós.
Por que labutar no campo, na cidade?
A máquina o fará por nós.
Por que pensar, imaginar?
A máquina o fará por nós.
Por que fazer um poema?
A máquina o fará por nós.
Por que subir a escada de Jacó?
A máquina o fará por nós.
Ó máquina, orai por nós.

A esperança é também uma forma
De continuo adiamento.

Só me resta agora
Esta graça triste
De te haver esperado
Adormecer primeiro.

Ouço agora o rumor
Das raízes da noite,
Também o das formigas
Imensas, numerosas,
Que estão, todas, corroendo
As rosas e as espigas.

Sou um ramo seco
Onde duas palavras
Gorjeiam. Mais nada.
E sei que já não ouves
Estas vãs palavras.

Um universo espesso
Dói em mim com raízes
De tristeza e alegria.
Mas só lhe vejo a face
Da noite e a do dia.

Não te dei o desgosto
De ter partido antes.
Não te gelei o lábio
Com o frio do meu rosto.

O destino foi sábio:
Entre a dor de quem parte
E a maior — de quem fica —
Deu-me a que, por mais longa,
Eu não quisera dar-te.

Que me importa saber
Se por trás das estrelas
haverá outros mundos
Ou se cada uma delas
É uma luz ou um charco?

O universo, em arco,
Cintila, alto e complexo.
E em meio disso tudo
E de todos os sóis,
Diurnos, ou noturnos,
Só uma coisa existe.

É esta graça triste
De te haver esperado
Adormecer primeiro.

É uma lápide negra
Sobre a qual, dia e noite,
Brilha uma chama verde