Caroline Lana
PROVEITO BALELA
De tudo se tira proveito, dizem. Será? Penso que sim. Mas isso se aplica a o que? Pergunto-me inquieta. A tudo? Bem, se de tudo se tira proveito, a vida é uma eterna loteria. Estamos sempre jogando para acumular pontos fictícios.
Não, eu acredito que não tiramos proveito de todas as experiências e situações. Nem de tudo. Condicionados ou não, acho que criamos na nossa consciência uma proteção para: “não foi tão ruim assim”. Aprendi isso e aquilo - mas na verdade, não houve proveito algum.
Claro, é extremamente relativo. E nem deixa de ser proveitoso um dia. Aquele que você programa ir na cachoeira, amassa suas roupas na velha e companheira mochila e na hora H, cai aquele dilúvio. Então todos entram em casa, sentam-se na rede e começam a cantar músicas de Almir Satres a Cássia Eller; apesar do dilúvio, tirou-se proveito de tantas outras coisas, que mínimas gotas não atravessariam um segundo com o sentimento eterno.
No que já não se tirou proveito? Há mais razão em mim que em você. Lhe ofereço o prêmio, ser digna de tal é algo bem distante. Já fez alguma loucura que passou a ser algo mais importante do que pensara ser possível? A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez. Sendo assim, eu sou péssima pra lembrar fatos, mas boa pra aceitar idéias. Portanto, não só faria, como sim, já o fiz... Lembrar é difícil. Acordar e fazer a diferença na vida das pessoas. Ou o que meu ego insiste em chamar de: direcionar a pergunta pra outro lado.
Por incrível que pareça, as iniciais loucuras (aos olhos de alguns) se tornaram as maiores histórias dos meus trilhos. Famosos opostos, completos impostores. Sair na pressa e pegar dinheiro do seu limite pra passar um fim-de-semana, e ainda assim, se sentir bem. Sentar num posto de conveniência e aquela tarde laranjada ao lados dos amigos na mesa amarela, sintonia.
Se você está com anseio de responder a essa pergunta, por medo de eu lhe achar supérflua, superior ou companheira de jardins pensantes. Ao extremo por minhas histórias vir recheadas de detalhes, não o faça. Não é um historia que toda aventureira gostaria de ler ou imaginar. Meu estado de felicidade não precisa muito de estilo, salto alto e elegância ao melhor estilo... É a velha tentativa de ser feliz com besterinhas, sabe?.
E se num belo dia (nada de belo pra você, claro, porque a discórdia lhe tira os alecrins do caminho) for pedir, sim, desculpas, comprar um dvd do chico Buarque, caindo a chuva pesada em seus ombros, você decidir voltar e pegar um atalho, parar na esquina e esperar, para então bater no apartamento exato... O resto da história será um filme do Zé do Caixão, bem abaixo do que imaginou, sorria. Um sorriso meio torto que chega a ser lerdo. Porque sim, você pode não ter tirado nenhum proveito, mas viveu como se vive um guerreiro ao enxergar sua mãe minutos antes de falecer, um amante sentindo o salgado das lágrimas de sua, não menina, mas mulher, o extremo e intenso ‘that’s over’.
O tal do “proveito” as vezes é balela. No máximo,O dvd fica pra você e a carta molhada no outro dia em frente a sua casa.