Caroline Amaral
Cansei.
Acho que cansei, não aguento viver assim. De migalhas. De restos de um falso amor.
Os sintomas já desapareceram completamente. O coração não dispara, a bochecha continua em sua cor natural, as mãos não suam. Não me senti boba, estou atenta. Suas palavras não me dominam e deixam sem ação, elas encontram respostas rápidas e secas. Não acho seu sorriso tão lindo como antes.
Não quero desmerecer suas qualidades ou cuspir no prato que comi. Você teve seus – raros – momentos de cavalheirismo. Aprendi muita coisa contigo, principalmente o que não fazer. Alguém precisava gostar, amar, decepcionar e escrever um texto.
Nunca imaginei que seria eu que terminaria com isso, mas acho que me curei.
Sabe qual foi o antídoto? Amor-próprio.
O choro de tristeza parou. As lagrimas que caíram secaram. Os machucados, as cicatrizes já desapareceram. O luto não era para sempre.
ABRINDO OS OLHOS.
Como fui burra. Como não percebi a verdade em minha frente. Como não notei que as palavras bonitas e gentis eram ofensas disfarçadas. Como não notei que o sorriso era uma risada sarcástica e cruel.
Como não notei que o olhar doce me domava e fazia acreditar em tudo aquilo, que o abraço não expressava carinho e sim uma raiva incontrolável e uma vontade de acabar com a felicidade de alguém.
CAIXA POSTAL.
Alô! Sei que você não gostaria de gastar seus créditos escutando a minha chatice, mas acho que minhas palavras têm algum sentido. Depois de tanto tempo sem nos falar, meu número nem deve estar na sua agenda. Minha ligação é uma surpresa até mesmo pra mim, mas não poderia deixar que nossa antiga amizade também fosse esquecida.
Foram tantos motivos e briguinhas bobas, que era impossível agüentar. Parei de procurar vilões e culpados nessa história, ou até mesmo limpar toda minha culpa. Isso não diminuiria a mágoa ou selaria novamente nossa irmandade. Apenas traria sentimentos ruins à tona.
Espero que você não se sinta culpada ou se ache obrigada a dar ou pedir perdão. Peço somente que não apague esta mensagem, para que um dia escute novamente caso alguma melhor amiga banque a idiota novamente.
VOAR.
É difícil me acostumar, mas me libertei. Fiz novos planos e mudei meus ideais. Viajei, conheci novos lugares e sabores. Fiz novos amigos, ri bastante e dancei até cansar. Reformei meu quarto, pintei e cortei meus cabelos. Li mil livros, fiz exercícios físicos e saí com as amigas. Plantei uma árvore e comecei a dar mais valor pra mim.
Quando passava a maior parte do tempo pensando e vivendo por uma pessoa é complicado consegui se imaginar sozinha. Acabamos aceitando as piores coisas dos outros, só pra ter uma (má) companhia. Já perdi as contas de quantas vezes não escutei meu consciente, só pra aceitar as manias do coração.
Hoje agradeço muito por ter passado por tudo isso. Não tem como negar que foi um choque o fim, e pior ainda o ‘podemos ser amigos’, mas hoje até que vejo de uma maneira diferente. Não estou fria, apenas atenta. Confio mais na minha capacidade e força, e não em qualquer ‘eu te amo’ que dizem por aí.