Carol Aleixo (Aleishow)
Se não conseguimos mais combater nossos monstros interiores, talvez seja a hora de permitir que o destino se encarregue da luta.
A VIDA, O TEMPO E OS PLANOS
A vida, o tempo e os planos
Passamos a vida inteira responsabilizando o tempo por amenizar nossas angústias e frustrações. “Calma que o tempo dará a resposta”, “o tempo vai passar”, “é só com o tempo”. Acredito que essa seja apenas uma maneira de motivarmos as esperanças por dias melhores novamente, não?
Eu não contesto a sabedoria do tempo e até acredito na necessidade dele, mas enquanto esperamos por isso a vida continua acontecendo. E ela não espera e precisa de novos estímulos para dar continuidade ao seu ciclo.
A partir daí entram os planos. Todo ser humano é movido ao planejamento seja ele a curto, médio ou longo prazo. Planejar o futuro, desejar conquistas e traçar metas para alcançá-las é o que realmente dá sentido as nossas vidas, diariamente.
Só que às vezes fazer planos demais pode ser arriscado e é sensato ter a consciência de que eles podem falhar a qualquer momento. Tudo é risco, principalmente quando se faz planos coletivos cuja realização não dependa apenas de nós. A queda é grande e a gente custa a se levantar, mas o mais belo é que a vida nos retorna à realidade e mostra o quanto é possível seguir em frente e começar de novo.
Às vezes é possível retomar sonhos que ainda não foram concretizados. É permitido ser feliz de formas diferentes que ainda não conhecíamos e para isso basta acolher as oportunidades. Se você tem ao que se apegar então [fé, família, amigos, alguém especial] isso se torna mais fácil, na verdade bem mais fácil.
Fazer novos planos é um grande aliado no combate ao sofrimento. Porém é importante reconhecer que sofrer também é importante, pois embora não pareça, nos faz mais fortes e experientes tanto quanto os arrependimentos.
E depois de tudo isso, em algum momento, vamos entender [e eu espero firmemente por isso] que ao longo da vida nunca houve tempo perdido, apenas tempo pouco aproveitado, mas que nada deixou de ser um grande aprendizado.
Agradecer a Deus por todas as circunstâncias da vida porque nenhum jorro d’água brota sem que Ele permita.
É quando deixamos o medo e as inseguranças ocuparem nossa vida que perdemos tempo ignorando a felicidade.
INDAGANDO CERTEZAS
É possível garantir o equilíbrio entre o racional e o emocional?
E deixar que a mente sinta e o coração pense ao menos em uma de nossas decisões mais importantes?
Quem nunca trocou uma boa noite de sono para refletir sobre como seria se tivesse feito uma escolha equivocada? Ou como seria se não tivesse feito nada?
A zona de conforto vira incômodo, mas tudo que é novo também incomoda e demora a ser digerido. Não é verdade?
E se de fato nada fosse por acaso?
Se as coisas acontecem por algum motivo pelo qual o destino revelará num futuro próximo?
Se não, desistir seria a mais viável opção?
Demonstrar a fraqueza humana não seria, então, a prova de que não somos dignos da vida e de tantas outras maravilhas que Deus nos proporcionou? Gratuita e incondicionalmente?
Não seria ingratidão?
O que seria de nós se não fossem as adversidades, os problemas e as tristezas?
Como as realizações poderiam ser festejadas sem que fossem conquistadas com um mínimo de esforço? Sem dificuldades?
Por que não olhar as novas oportunidades com bons olhos?
Por que ser tão pessimista e colocar como decisivos apenas os sentimentos ruins?
Por que não agradecer só pelo fato de estar vivo e ainda ter o livre-arbítrio para tomar decisões?
Por que é tão difícil tudo isso? Mas por que as certezas também têm sido tão duvidosas?
Entre tantas indagações, uma única vontade: eu trocaria minha paz de espírito pelas dúvidas que angustiam as pessoas que amo, neste momento.
Rótulos da imaturidade
Sempre fui daquelas que fantasiavam uma vida de conto de fadas e não tenho vergonha de assumir isso, embora eu não me orgulhe. Entrar para a faculdade, me formar, ter uma carreira, encontrar a pessoa que me trataria como rainha, casar e ser feliz para sempre apesar de todos os problemas que relacionamentos trazem. Aí veio o Fernando Meirelles me questionar se vale a pena sofrer por amor. Juro que fiquei na dúvida.
Mas enfim, há muito tempo deixei de ser ingênua e percebi que a realidade não funciona assim, por isso não me frustrei tanto. Questionei minha maturidade muitas vezes e me questionaram também. Hoje eu percebo que a maturidade está muito mais no comportamento das pessoas do que na idade. Há quarentões com idade mental de 21 e adolescentes entrando para a maioridade com mentalidade de gente grande. Aí eu penso que tudo depende de virtude e responsabilidades.
Percebo que pessoas rotuladas como imaturas provam com a integridade que estão mais aptas para lidar com problemas cotidianos do que muita gente mais experiente. Da mesma forma que pessoas que se acham maduras ao extremo são as primeiras que se frustram ao tomar decisões precipitadas, por se acharem donas da razão e fazerem escolhas impensadas.
Pode ser que tudo não passe de rótulos, pré-julgamentos que acabam envolvendo a falta de respeito e a desonestidade ao próximo. Mas a verdade é que sempre vamos depositar inúmeras expectativas nas pessoas e vamos nos iludir e nos decepcionar por isso várias vezes. Mesmo assim, valerá o risco se acharmos que 1% de esperança que resta na raça humana seja suficiente para continuar buscando a felicidade, ainda que ela jamais seja a mesma compartilhada pelas fábulas.
Relevar. Verbo que aprendi a conjugar com maior frequência e que tornou a paz de espírito mais constante desde então.
Quanto mais você for honesto e fiel aos seus sentimentos, mais rasteiras a vida te dará. Isso para mim está mais do que claro. A diferença está na forma de como lidar com as quedas. Você pode até fraquejar por um momento e se sentir incapacitado a seguir em frente. Mas logo vai perceber que levantar de cabeça erguida, sem qualquer constrangimento, é um privilégio que só você pode ter.
Há pessoas indecifráveis e outras previsíveis demais. Mas a verdade é que eu não me surpreendo com nenhuma delas mais.
Sabe os desestímulos diários? Aqueles que por pouco não te desestruturam por completo e te induzem à infelicidade? Pois é. São eles que reforçam minha fé toda vez que a vontade de desistir é tentadora.
Os 25
Eu considero os 25 anos o período transitório da inocente juventude para a complicada fase adulta. Estou meio perdido ainda. Já sinto os reflexos da responsabilidade de tomar decisões para uma vida toda, mas ainda sonho com a empolgação de um adolescente que terminou o ensino médio contando nos dedos o ano em que terminará a faculdade, caso passe no vestibular da federal. Para não perder tempo e no anseio de conquistar o mundo, ele opta pela graduação particular mesmo.
A primeira meta foi alcançada. Tenho 21 anos, um diploma em mãos e fui à procura do primeiro emprego de carteira assinada. Minha inexperiência me move à vontade de aprender e desejar o melhor trabalho, aquele que os tempos da escola me estimulavam a buscar. Vieram muitos “NÃOS” seguidos da minha primeira decepção.
Agora, com 23, continuo jovem e não mais abatido. Consigo cumprir o objetivo da estabilidade profissional, mas cumpri porque tenho sorte de não sonhar alto demais. Ou diria que a “ficha caiu” e a zona de conforto é realmente estimulante.
No meio desse percurso, começo a observar que em apenas um ano minha rotina profissional vai esvaindo com minha vida pessoal. Perdi muitos contatos. Primos e amigos que eram inseparáveis ainda o são, só que pelos grupos do WhatsApp ou pelo inbox do Facebook. Meus tweets nem recebem interação de arrobas tão presentes no auge das hashtags. Hoje, de nada me valem as mais de 20 mil tuitadas.
Putz! Tenho ¼ de século. As consultas médicas estão se tornando frequentes e até isso é motivo de estresse, já que a carga horária me impede de fazer novos compromissos. A saúde era prioridade quando meus pais podiam me levar ao consultório depois das aulas de Inglês. Já sei! Vou esperar até as férias e faço um check-up, não deve ser nada grave mesmo. Ou posso abrir mão de um dos dois empregos e cuidar mais de mim. Só que aí vou postergar o próximo objetivo de deixar de sobreviver às custas dos meus pais. NÃÃÃÃO!!! Vou perder tempo. Melhor assim como está.
A realidade e a nostalgia entram em combate na minha mente. Lembro que há quase uma década eu me despedia dos amigos do colegial. Mal sabia que era, de fato, uma despedida. Se eu soubesse, não teria segurado aquelas lágrimas que insistiram em cair durante a mais sincera Aula da Saudade, muito menos dado abraços de segundos para ter tempo de transferir meu carinho a todos. Eu fazia tantos amigos naquela época e me dava bem com a maioria, e perdoava tranquilamente a minoria que aprendeu com o egoísmo e já sabia magoar.
Se passaram 25 anos e amigos não se fazem com a mesma facilidade. Estou cada vez mais distante da minha família e me sinto ingrato por isso. Mas, poxa! Nem todos os familiares se preocupam com a união e a boa convivência mais. Os valores caíram por terra. Está cada vez mais rotineiro encontrar pessoas dissimuladas e hipócritas, que justificam seus erros com decepções passadas ao invés de reconhecer que se trata de mau-caratismo mesmo. Por falar nisso, muita gente do meu convívio profissional se interessa mais pelas questões pessoais que me movem, sem ter qualquer intimidade, do que preza pela valorização profissional. Isso me intriga.
Mas ainda que eu tenha levado muito esporro nessa trajetória, continuo valorizando a integridade e sendo cordial e leal às pessoas. Descubro que até as que eu jamais imaginaria podem me decepcionar um dia. Neste momento noto que as frustações são mais graves, duradouras e deixam sequelas sim. Tem quem procure analistas e terapias alternativas. Eu só consigo me apegar à fé, geralmente dá certo.
O tempo passou e está mais ligeiro do que nunca. Fazendo um balanço da atual conjuntura, reconheço que sempre fui muito preocupado com ele. Tanto é que meus 25 anos mal começaram e já os sinto no fim. Talvez não dê tempo de fazer muito do que eu planejava para o ano. Ou pode ser que dê, caso eu comece a aceitar que o tempo só apaga aquilo que a gente supera.
O passado pode até insistir em me assombrar, mas a minha vontade de combatê-lo é muito mais insistente.
Ser Humano
Eu queria encontrar o ser humano mais feliz do mundo.
O ser humano que nunca teve o caráter contestado.
Que nunca foi pré-julgado.
O que nunca errou para aprender ou o que nunca foi capaz de fazer outro sofrer.
Eu queria encontrar o ser humano mais feliz do mundo.
O ser humano que é leal à família e às amizades.
Que nunca falta com a ética e a honestidade.
O que ajuda sem esperar em troca ou o que se doa pondo a humildade à prova.
Eu queria encontrar o ser humano mais feliz do mundo.
O ser humano que respira otimismo e transpira coisas boas por onde trilhar.
Que agradece pela vida todos os dias ao despertar.
O que não quer o mal de ninguém ou o que não deturpa a personalidade para agradar alguém.
Eu queria encontrar o ser humano mais feliz do mundo.
O ser humano que não debocha da infelicidade do irmão.
Que transparece no rosto o que diz a mente e o coração.
O que busca avidamente a felicidade e faz por merecê-la com dignidade.
Eu queria realmente encontrá-lo, mas, por ser humano, ele seria incapaz de existir.